Capítulo vinte e sete - Consertando o passado (Parte 3)

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À distância, Maurício avistou quando Anne, Ryan, Marco, Sofie e Eric passaram em direção ao estacionamento do hospital. Através da parede de vidro da lanchonete onde estavam, localizada no primeiro andar do hospital, tinham uma visão ampla de todo o pátio.

Quando o grupo de amigos saiu de seu campo de visão, o brasileiro voltou a olhar para a mulher que estava sentada à sua frente, do outro lado da mesa. Pensava se teria sido uma decisão acertada ter levado ela para lá. Durante todo o caminho, não haviam trocado uma única palavra. Aquele era o momento de começar a fazer as perguntas.

— Seu irmão sabe que você está no Japão?

Gabrielle tomou um longo gole de sua bebida, antes de responder:

— Não contei a ninguém que vinha. Comecei a planejar a viagem logo que soube do ocorrido.

Maurício movimentou a cabeça, fazendo outra pergunta que vinha querendo fazer desde que a vira:

— E que história é essa de que você veio buscar a Alexia?

Gabrielle manteve a mesma calma para responder:

— A mãe dela está internada em estado grave. Até onde eu saiba, sou a parente mais próxima para cuidar dela se o pior acontecer.

A resposta não o surpreendeu. No entanto, Maurício teve que fazer um grande esforço para controlar a sua revolta.

— Acho que você sabe que, se o pior acontecer, o que definitivamente não vai, Alexia não estará nem perto de ficar desamparada. Ela tem outra mãe.

— Até onde eu sei, duas mulheres não são capazes de fazer um filho.

Maurício bufou, sem a menor paciência para iniciar aquele tipo de discussão.

— Por um momento, juro que cheguei a achar que tivesse vindo ao Japão por preocupação com a sua filha.

— E vim. Minha intenção inicial era me encontrar com Marco e pedir que me trouxesse até o hospital. Vou passar algum tempo em Tóquio, até que ela tenha alta, ou... Bem, até onde eu sei, as notícias do estado dela não são as mais animadoras.

Apesar da forma prática com que falava sobre a possibilidade de a filha morrer, Maurício conseguiu ver um rastro de tristeza nas feições daquela mulher. Talvez dizer aquilo não fosse tão fácil quanto ela tentava fazer parecer.

Porém, a primeira parte daquela conversa era o que mais o incomodava.

— Que história é essa de levar a Alexia?

— Já falei: sou avó dela.

— Ela nem ao menos te conhece.

— Mas vai conhecer. E sou a única que pode cuidar dela no momento.

Já não mais conseguindo controlar sua irritação, Mauricio bateu com o punho fechado sobre a mesa.

— Quer a senhora goste ou não, Maire é mãe dela. Não vai deixar que você a leve. Sinceramente, já me arrependi de ter trazido você para cá. Não vou permitir que importune a Maire. Vamos embora.

Ele fez um sinal para o atendente, pedindo pela conta. Enquanto esta era providenciada, Gabrielle informou:

— Não vou com você a lugar algum. Vim até aqui para saber do estado de saúde de Micaela, e não vou embora sem notícias. Não acha que vai me proibir de entrar em um hospital, não é?

— Nem posso fazer isso. Mas posso impedir de chegar perto de Maire.

— Acredite, eu não tenho qualquer intenção de ver aquela mulher.

Maurício adoraria poder, de fato, arranca Gabrielle à força de lá. Mas sabia que não poderia fazer isso. Chegou a se arrepender de tê-la levado até lá, mas logo pensou que apenas tinha adiantado uma situação inevitável. Gabrielle tinha ido ao Japão com aquele intuito e, cedo ou tarde, acabaria indo até o hospital. Ao menos ele estaria por lá para conversar com Maire e adiantá-la daquela situação. Sabia que aquela mulher representava um perigo para elas. E Maire precisava estar preparada para isso.

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Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora