Capítulo vinte e um - Subgenerais (Parte 6)

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— Acho que ele está apenas dormindo.

Kiara e Eliandyel tinham acabado de subir as escadas, deixando Ryan aos cuidados dos dois mais jovens guardiões. Na verdade, apenas Ling Su ficaria com ele. Henrique pedira um tempo, informando que logo os seguiria.

— É, eu sei — Henrique respondeu ao comentário dela, no fundo um pouco surpreso pela aparente tentativa dela em tranquilizá-lo.

Logo em seu primeiro dia como Guardião, Henrique percebia que a coisa não era nada animadora. Acabara de ver um amigo morrer e estava sentado em um degrau ao lado do pai gravemente ferido, sabendo que não poderia ficar muito tempo ali, já que precisava salvar a irmã. Porém, ninguém nunca o enganou dizendo que a vida de um Guardião seria algo fácil.

Ling Su também sentia toda a cruel complexidade daquela missão. Era estranho pensar que há poucos minutos discutia com Riki ali mesmo, naquela escada, ao lado de Ryan... E que, agora, o menino estava morto. Tudo poderia mudar de um instante para o outro e, ainda assim, a eles não era dado o direito do luto, da reflexão para o entendimento, nem ao menos para as despedidas. Da mesma forma como ocorrera apenas alguns dias antes com o pai que ela passara a vida inteira querendo reencontrar... E que o fez apenas para testemunhar sua morte. Para ajudar a enterrá-lo em um lugar qualquer daquele mundo, onde ela jamais poderia voltar para visitá-lo, trazer flores à sepultura, ou qualquer coisa banal que pessoas normais fazem.

Após deixar um beijo na testa do pai, Henrique se levantou, determinado a cumprir sua missão. Ia se despedir de Ling Su, mas ela foi mais rápida em dizer algo:

— Meu pai veio para o Mundo Youkai e morreu para me salvar. Salve sua irmã, mas... saia vivo dessa. Não queira que ela sinta o mesmo que estou sentindo agora, porque não é nada legal.

Henrique não sabia se seu assombro maior era pela notícia da morte de Qiang ou pelo simples fato de Ling Su se permitir a contar aquilo para alguém daquela forma, expondo, mesmo que de forma breve, os seus próprios sentimentos. Mas se esforçou para não deixar essa surpresa aparente e apenas respondeu:

— Não se preocupe. Vou salvar a minha irmã e voltarei vivo para apresentar vocês duas. Quem sabe vocês fiquem amigas.

A chinesa duvidava muito que aquilo acontecesse. Há anos não sabia o que era ter uma amiga. Mas respondeu a isso forçando-se a usar o seu mau humor costumeiro:

— Será meio difícil se ela for tão chata quanto você.

— Pois devia se acostumar. Há grandes chances de no futuro nós dois virmos a lutar juntos.

— Eu espero que não.

Apesar do tom de implicância, Henrique compreendia tal desejo. Ele também queria que tudo por ali pelo Mundo Youkai ficasse em paz e que ainda levasse muitas gerações até uma nova equipe de Guardiões ser obrigada a lutar.

— Cuida do meu pai até eu voltar — o menino pediu, simplesmente.

— Cuido. Tenha cuidado.

— Você também.

Então, Henrique seguiu para o andar de cima. Ling Su ficou monitorando os sinais vitais de Ryan, ao mesmo tempo em que desejava que Henrique conseguisse libertar a irmã para que, assim, Cyane fosse finalmente derrotada.

*****

Agindo por puro instinto de proteção, Maurício abraçou o corpo de Live e curvou-se para frente, de forma a protegê-la do pesado móvel que tinha aparentemente se autoarremessado contra eles. Sentiu a dor do impacto e deu um grito, ao mesmo tempo em que se soltava de Live e se equilibrava para não cair no chão.

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora