Capítulo seis - Filme antigo (Parte 4)

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Abaixando-se, Hikari apanhou a boneca caída sobre a areia da praia. Tinha de fato o tamanho de um bebê real, além de feições bem realistas. O brinquedo ainda emitia incansavelmente o som similar ao choro de uma criança, o que ajudava a tornar a situação ainda mais desagradável. Parando ao seu lado, Sniper também olhou para o brinquedo nas mãos da amiga e franziu a testa.

— Isso é um tanto quanto aflitivo, não?

— Você acha? Imagine para mim, que tive que enfiar uma faca nas costas dela? Pelo menos não estragou muito. Sarah ficaria chateada, é a boneca favorita dela.

Miss Kari, é impressionante como você sempre se sai bem no papel da malvadona, hein?

— Eu te responderia que está no sangue, se isso não representasse uma ironia de muito mau gosto. — Levantando-se, Hikari se voltou para os demais. — E então, vamos voltar para a base?

Sniper também se levantou e foi sarcástico:

— E passar os próximos dias jogando vídeo game e fingindo que não tem nada de anormal acontecendo e que não somos um bando de inúteis que ficaram de boa enquanto os outros guardiões arriscam suas vidas? Poxa, eu não vejo a hora!

As palavras de Anne, no entanto, o fizeram se sentir péssimo pela "brincadeira".

— Minha filha está sob o poder de um monstro, Sniper. Acredite, não tem ninguém nesse momento se sentindo mais inútil do que eu.

Ryan passou o braço por cima do ombro da esposa e beijou-lhe o topo da cabeça.

— Hikari tem razão, é melhor voltarmos para a base. — Ele olhou ao redor, percebendo a falta de alguém. — Onde está a filha do Li?

Todos começaram a olhar ao redor, até avistarem a menina no alto de uma pedra, de frente para onde as ondas do mar batiam violentamente. Anne se adiantou em ir até ela, sendo seguida a uma certa distância por Hikari.

Parando ao lado da menina, Anne permitiu-se olhar as ondas por alguns instantes. Aquela praia, aquelas pedras, aquele mar... todos eram cúmplices de alguns dos piores momentos de sua vida e não era de se estranhar que fosse ali que ela, agora, sentia a pior dor de todas: a falta de sua filha. Desviando os olhos para a menina ao seu lado, Anne percebeu que ela era um pouco mais velha do que seus filhos. Pensou se aquela adolescente teria alguém que, naquele momento, estivesse preocupado com sua segurança ou sentindo a sua falta. Pensar nisso trouxe a ela uma nova carga de tristeza.

— Precisamos voltar para a base.

— Se fosse para isso, eu nem teria saído da China.

— É, ficar aqui sem fazer nada também não é o que eu queria. — Anne fez uma pausa e não conseguiu evitar a pergunta que fez a seguir — Foi a sua mãe que te treinou?

— Eu não conheci a minha mãe. E, antes que pergunte, mal tive contato com Li Qiang.

— Entendo. Eu também cresci longe dos meus pais. Bem... Claro, foram circunstâncias bem diferentes, mas...

— Não estou pedindo a sua pena, tampouco sua compreensão.

— O que quero dizer é que... Eu também era uma solitária. Mas, quando cheguei ao Japão, encontrei em novos amigos a família que eu precisava.

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora