Capítulo oito - Elo rompido (Parte 4)

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Enquanto isso, em outro ponto do mundo youkai, o outro grupo de guardiões também tivera que parar para pernoitar. Acenderam uma fogueira e se espalharam ao redor dela. Ling Su ficou mais próxima ao fogo, enquanto Ryan e Sniper estavam um pouco atrás.

O baixo som de um gemido de frio arrancou Ryan de suas divagações – já que não conseguia dormir – fazendo-o lançar os olhos sobre a menina que dormia próxima à fogueira, encolhida. Ling Su adormecera abraçada aos seus dois nunchakus, e aquela visão trouxe um tanto de tristeza a Ryan quando ele pensou no quão surreal era uma menina tão jovem não se sentir segura o suficiente para dormir em paz sem suas armas por perto. Preocupado com o frio que ela sentia, ele arrancou o próprio casaco e se levantou, indo até ela e cobrindo-a. Quando voltou ao lugar onde estava antes, viu que Sniper tinha acordado e agora se sentava, olhando-o com um leve sorriso.

— Acordei justamente pensando em se ela estaria com frio — Sniper declarou.

Ryan também sorriu e sentou-se ao lado do amigo.

— Quando a gente tem filhos, pegamos essas manias.

Sniper controlou-se para não fazer alguma piada usando a palavra "manias" associada a Ryan. Dez anos depois, ele sabia que aquilo ainda teria graça.

Ao invés disso, foi Ryan quem disse algo, sem tirar os olhos de Ling Su:

— Quem diria que o Li já tinha uma filha quando nos conheceu.

— Pois é. Ele escondeu isso muito bem.

— Escondeu a própria filha. Largou-a para outra pessoa criá-la e treiná-la. Que merda de pai faz algo assim?

Ryan falando um palavrão? Sniper franziu a testa, pensando que aquilo era um péssimo sinal. Porém, colocou-se no lugar dele, tentando imaginar como deveria estar a sua cabeça com toda aquela situação, tendo sua filha nas mãos de Cyane. Sabia que, no lugar dele, também estaria com os nervos à flor da pele.

— Fica tranquilo, cara. Nós vamos salvar a sua menina.

— Eu já falhei com ela. Não posso falhar novamente.

— Como assim falhou? — Sniper franziu a testa, sem entender.

— Ela foi atraída e sequestrada por um youkai que usava a imagem do Toshihiko. Sabe, Anne e eu nunca mentimos para ela e Henrique sobre quem era o pai deles. Sofie inclusive mostrou algumas fotos para eles. Só que... eu nunca imaginei que algum dia algum deles fosse se interessar pelo pai biológico. Digo... eu os amo, e sempre os amei da mesma forma como amo Sarah e Andrew.

— E eles também amam você, cara. Catherine estava apenas curiosa com relação a um cara que ela sempre achou que estivesse morto. Não é como se tivesse ido atrás dele por preferi-lo. Não fique pensando nisso.

Ryan sabia que Sniper tinha razão. Não era o momento para pensar naquilo. Precisava manter o foco em salvar a sua garotinha, a qualquer custo.

Então, começou o tremor de terra. Ryan e Sniper se levantaram em um só impulso, já pegando suas respectivas armas. Ling Su já despertou agarrando-se fortemente aos nunchakus e se preparava para se levantar no momento em que o chão se abriu embaixo deles.

*****

Não tinha se passado muito tempo desde que ela atravessara a barreira. Umas quatro horas, talvez um pouco mais. Já era noite quando atravessou, e jurara a Sofie e Marco que andaria muito pouco antes de parar para aguardar o amanhecer. Eles tinham insistido muito para que ela esperasse o início de um novo dia, mas ela se recusara a isso. Precisava atravessar, já, para o outro mundo. Não se permitiria perder mais nem um minuto.

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora