Capítulo onze - Ataque duplo (Parte 3)

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                Felizmente, não demorou até que Maurício encontrasse abrigo em uma pequena gruta, onde pôde levar Micaela e, após acender uma fogueira, limpar e cuidar de seus ferimentos. Passadas algumas horas, o alívio que deveria sentir quando ela enfim despertou deu lugar a ainda mais preocupação pelo fato de ela não esboçar qualquer reação, nem mesmo de dor, e não dizer uma única palavra. Devido à fraqueza, provavelmente ocasionada pela perda de sangue, ela logo voltou a adormecer, e Maurício ficou de vigília ao seu lado, durante toda noite, sem conseguir pregar os olhos por um único momento. Vez ou outra via-se aproximando o rosto do dela, apenas para sentir se ela ainda respirava. A noite se arrastou, até que os primeiros raios de sol surgissem e, como chamada por eles, Micaela voltasse a despertar. Dessa vez, diferente da anterior, ela abriu abruptamente os olhos ao mesmo tempo em que ergueu o tronco do chão com apenas um impulso. Ela teria levantado se Maurício não se apressasse em detê-la.

— Calma, Mic. Está muito ferida, não pode levantar desse jeito.

— Maire... — Foi a primeira palavra que ela disse, percorrendo os olhos ao redor, desorientada. — Onde está a Maire?

Maurício estranhou a pergunta.

— A Maire está no Mundo Humano, lembra? Está segura na base, junto com as crianças.

— Não! — Aflita, olhou profundamente nos olhos de Maurício, enquanto ele segurava a sua mão, tentando acalmá-la. — A youkai, o penhasco... Eu preciso salvá-la!

Novamente, ela tentou se levantar, sendo mais uma vez contida por Maurício.

— Mic, você deve ter tido um pesadelo. Deve estar delirando, por conta de alguma infecção nos ferimentos... Mas, presta atenção, a Maire não está no mundo youkai.

— Ela veio pra cá! ...O comunicador dela ficou comigo.

Por um breve momento, Mauricio chegou a ser convencido pelo argumento. De fato, enquanto fazia os curativos em Micaela, encontrara nos bolsos dela dois comunicadores. Mas é claro que, com a preocupação que sentia naquele momento, não dera atenção suficiente a isso e chegara até mesmo a esquecer desse detalhe que agora a loira o lembrava. Contudo, isso não era uma prova de que Maire estivesse no mundo youkai.

Micaela continuou a falar, de forma aflita e desconexa:

— O penhasco... o mar... Eu preciso voltar até lá e pular para salvar a Maire.

Quando ela novamente tentou se levantar, Mau voltou a detê-la, sendo mais enérgico em seus argumentos:

— Mic, o que você teve foi um pesadelo. A Maire não caiu de penhasco nenhum. E, se caísse de lá onde te encontrei, seria morte certa. Se você for até lá e pular, você vai morrer e não vai encontrar a Maire, entendeu? Porque a Maire está na base, em segurança.

Micaela sabia que não tinha sido um pesadelo. Porém, a parte sobre "morte certa" chegou a ela como mais uma lâmina sendo cravada em seu peito. Ela sabia, era racional e inteligente o suficiente para saber que não havia como alguém cair de um penhasco como aquele, dentro daquele mar revolto e cheio de pedras, e sobreviver por muito tempo. Ainda mais Maire como estava, na reta final de uma gravidez.

Mas aceitar isso era entender que Maire e seu filho estavam mortos, e nem toda a racionalidade do universo seria capaz de fazer aquilo ter sentido em sua mente.

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora