Guardians II - Metamorfose

Capítulo vinte e quatro - Superações (Parte 5)

— Prestem bastante atenção — Sofie falou com a voz bem alta, para ser ouvida pelos dez guardiões. — Precisam iniciar o aumento da pontuação. Façam isso de forma lenta e gradual, até alcançarem seus limites de reserva de cinco pontos. Vão sentir quando atingirem esse ponto. Algo como uma trava que parece querer impedi-los de ir além. Parem neste ponto e, a partir daí, vou monitorá-los nos aumentos que uma parte de vocês ainda fará. Entendido?

Nenhum deles respondeu com palavras. Mas Sofie observou pelo aparelho em suas mãos, um a um, os guardiões irem aumentando suas pontuações excedentes. Os mais experientes foram um pouco mais rápidos nisso, enquanto Ling Su e Henrique demonstraram mais dificuldades. Gautier percebeu que ambos pareciam bem cansados com aquele esforço e pediu a Deus para que suportassem. Ela sabia que apenas este aumento já poderia causar danos graves a eles.

Peixes — 87 (5)

Aquário — 88 (5)

Capricórnio — 84 (5)

Sagitário — 65 (5)

Escorpião — 87 (5)

Libra — 90 (5)

Virgem — 0

Leão — 88 (5)

Câncer – 79 (5)

Gêmeos — 0

Touro – 93 (5)

Áries – 94 (5)

— Oitocentos e cinquenta e cinco — Sofie concluiu, falando baixo. — Ainda faltam quarenta e cinco pontos. Isso dá sete pontos e meio a mais para cada um.

— Então mande-os aumentar. — Lyri sugeriu, como se fosse algo simples.

— A maioria deles não vai consegui suprir isso. E todos eles vão morrer se fizerem isso. Os seis vão morrer e essa barreira não será lacrada.

— Cyane sempre nos disse que um verdadeiro guerreiro está disposto a morrer em batalha.

— Uma dentre estes seis é minha filha. E uma mãe não está disposta a deixar que um filho morra. E, para falar a verdade, eu não estou disposta a deixar que nenhum deles morra. — Deu um passo à frente e ordenou. — Melhor pararem agora. Vocês não vão conseguir.

Alguns deles começaram a, gradativamente, reduzir a energia, até que Hikari gritou:

— Não! Não parem! Não podemos parar!

— Não tem como fechar a barreira, Hikari. Precisariam de mais quarenta e cinco pontos para isso.

Mas a ariana permanecia irredutível:

— Apenas deem o seu melhor. Deixem que eu complemento o resto. Todos sabem que sou capaz disso.

Um breve momento de hesitação ocorreu antes que, mesmo em silêncio, todos concordassem com a proposta. A disposição de irem até as últimas consequências para cumprirem aquela última missão era algo que os unia.

Sofie se assombrou ao ver as pontuações mostradas no aparelho em suas mãos.

Peixes — 90 (8)

Aquário — 90 (7)

Capricórnio — 85 (6)

Sagitário — 66 (6)

Escorpião — 90 (8)

Libra — 94 (9)

Virgem — 0

Leão — 90 (7)

Câncer – 82 (8)

Gêmeos — 0

Touro – 96 (8)

Áries – 110 (21)

Lá estava a sua filha caçula, mais uma vez, brincando de praticar atitudes suicidas.

— Hikari, pare já com isso! Está além de cem pontos. Muito além, aliás!

— Eu já excedi os cem pontos uma vez, lembra?

— Você está grávida, Hikari! Perdeu os movimentos das pernas na outra vez que fez isso. Perderá o seu filho agora.

— Se essa barreira se abrir de vez, meu filho irá morrer da mesma forma, assim como eu, você e todos nós.

Sofie se desesperou ainda mais ao reparar que mesmo os mais jovens estavam além de seus limites. E, ainda assim, o total não chegava à pontuação necessária.

— Vocês ainda precisam de sete pontos. E não vão conseguir suprir isso. De nada adiantará se algum de vocês morrer durante o processo, aí é que será, mesmo, impossível.

Contudo, os guardiões não pareceram ouvi-la. Continuaram em seus esforços. A francesa precisou ser mais enfática, passando a gritar:

— Parem! Parem agora! Isso é uma ordem, parem!

Por mais que a determinação fosse grande, eles sabiam que excediam demais os seus próprios limites. Anne foi a primeira a parar, mas não por sua própria condição. Olhou para o filho e viu que suas pernas tremiam e a expressão em seu rosto demonstrava que estava muito além do que suportava. Logo que parou, ela não teve forças para ir até Henrique e simplesmente caiu ajoelhada no chão. Na sequência, foi o próprio Henrique que parou, seguido por Ling Su. Em menos de um segundo, como num efeito dominó, os demais foram parando e caindo, um a um, mal conseguindo controlar suas próprias respirações. E, também, suas próprias frustrações.

— Sete pontos... — Hikari sussurrou, exausta. — Que inferno, estávamos tão perto!

Logo que a pressão exercida pela concentração de energia reduziu, Lyri e Sofie foram até o grupo, constatando que todos estavam exaustos, debilitados... mas fisicamente bem.

Embora emocionalmente arrasados.

— Então é isso? — Shermmie indagou, olhando perplexa em direção à barreira. — Chegamos até aqui pra tudo acabar assim?

— Isso não pode acabar assim! — Hikari rebateu, nervosa. — O exército de Kiara foi completamente dizimado e ela não tem condições de manter a ordem por lá. Não existe nada que impeça uma verdadeira carnificina humana se essa barreira continuar aberta.

— Não é só isso — Maire lembrou. — Se a atmosfera do Mundo Youkai se fundir de vez à do Mundo Humano, boa parte das nossas espécies animais e vegetais não vão sobreviver, as alterações climáticas acarretarão catástrofes diversas... O que também afetará a vida humana.

— Ou seja... — Maurício concluiu. — O que os youkais não matarem com suas próprias mãos, acabará morrendo devido às mudanças climáticas.

Live concentrou a sua raiva no punho e socou o chão, soltando junto um grito de ódio. Era a mesma revolta que envolvia todos os demais, embora nenhum deles conseguisse expressar aquilo com palavras.

A primeira palavra que foi ouvida veio com um forte sotaque chinês, da direção que levava à trilha para a estrada:

— Trouxe alguém para ajudá-los.