Capítulo vinte e quatro - Superações (Parte 3)

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Sentando-se em uma pedra, Maurício se perguntou até quando aqueles youkais continuariam a atacar. Agradeceu pelo fato de serem grupos pequenos, com monstros em geral muito fracos... mas os ataques eram contínuos, a cada hora parecendo ficarem mais frequentes.

Ele descansava de uma dessas raras folgas, quando se assustou com o youki que surgiu subitamente, junto com a youkai que apareceu sentada no chão ao seu lado.

— Pô, Lyri! Assim você me mata do coração!

— Sei que sou irresistível, mas não é pra tanto — ela rebateu, olhando atenciosamente para as próprias unhas.

Maurício riu.

— Achei que você estivesse evitando ficar por aqui no Mundo Youkai.

— Decidi passar uns minutinhos a mais por aqui, enquanto a barreira não é lacrada. Respirar um pouco o ar do meu mundo pode me ajudar a tomar a melhor decisão.

— Ainda não decidiu? Sabe que ainda corre riscos por aqui, não é? Ainda vai demorar um pouco até as coisas se normalizarem e a notícia da recompensa pela sua morte ser devidamente desmentida.

— É... Estou sabendo.

— Então, qual a dúvida?

— É que... o seu mundo é muito estranho.

Maurício franziu a testa, incrédulo de estar ouvindo aquilo de uma criatura oriunda do mais estranho dos mundos.

— Sério que você acha isso?

— Não sei se conseguirei me adaptar às coisas desse mundo de vocês.

— Bem, talvez te anime saber que a nossa comida é bem melhor.

— Ah, isso eu sei. Já comi carne humana uma vez. — Percebendo que ele tinha ficado em silêncio, ela o olhou, reparando que era encarada de maneira um tanto assustada. — Calma, é só uma brincadeira.

— Mesmo?

— Tá, não. Mas foi só uma vez. E era muito bom, você devia experimentar.

— Uma coisa importante que você deve saber se for viver no nosso mundo é que canibalismo não é uma coisa legal. Então tente não comentar essa sua experiência com outras pessoas.

— Está vendo como vocês humanos são complicados?

— Você vai se acostumar. Sabe que... depois de tudo o que você passou, acho que será bom para você recomeçar a vida em outro lugar. Eu recentemente tinha os planos de fazer o mesmo.

— Também ia se mudar para outro mundo?

— Não exatamente outro mundo. Apenas um lugar longe de onde eu vivia antes. Este era o plano.

— E por que deixou de ser?

— Descobri que vou ser pai. Isso muda tudo.

— É... eu imagino que sim.

— Mas, quanto a você... Se não há mais nada que a prenda no Mundo Youkai, pense na possibilidade de começar uma vida completamente nova. Onde ao menos você terá amigos para te apoiarem. Poderá contar sempre comigo também.

Ela sorriu, agradecida. Ia dizer alguma coisa, mas nesse momento Live atravessou a barreira, informando-os que Eric havia regressado. Era chegado o momento de lacrarem a passagem.

Maurício se levantou e estendeu a mão para Lyri.

— E então, pronta para começar uma nova vida?

Sorrindo, ela segurou a mão dele e se levantou. E os dois foram juntos para o Mundo Humano. Sniper e Shermmie foram em seguida.

Sofie estava um pouco afastada do restante do grupo, com o aparelho medidor de energia já a postos em suas mãos, e Lyri foi até ela, parando ao seu lado e observando o grupo de guardiões que se posicionava lado a lado, numa formação que parecia ensaiada de tão perfeitos que eram os espaços entre um e outro. No entanto, notou que havia dois vãos ali. O primeiro, entre Maurício e Anne. E, o segundo, entre Shermmie e Maire. Provavelmente devido aos dois guardiões faltantes. Também percebeu que todos pareciam tensos.

Anne olhou rapidamente para os dos lados, observando Maurício à sua esquerda e Shermmie à sua direita. Em sua mente ainda estavam vivas todas as recordações de quando vivera aquele mesmo momento, uma década atrás. Tanto havia mudado desde então. Agora, por mais que seu peito doesse, por mais que se sentisse amedrontada ou insegura, havia também uma estranha força que não a deixava fraquejar, como fizera na outra ocasião. Salvar o mundo, agora, tinha um sentido muito mais amplo do que antes. Aquele era, agora, o mundo onde seus filhos cresceriam. Um mundo que estava muito longe de ser perfeito, mas que representava a esperança das próximas gerações. Um mundo onde até mesmo Kiara havia confiado sua única filha, onde Lyri agora escolhia viver. Um mundo que já não pertencia mais unicamente aos humanos. Lamentou que Ryan não estivesse ali daquela vez... Ele, que fora sua força no passado. Que fora quem a abraçara e garantira que tudo ficaria bem. Anne queria sentir aquele abraço mais uma vez. E queria ter a certeza de que as coisas terminariam bem. Estava disposta a dar o seu melhor para isso. Assim como todos os demais.

Também à sua direita, embora um pouco mais distante, Henrique a olhou e sorriu. Anne sorriu de volta, sentindo que aquela era a força que ela precisava.

— Preparados? — Hikari perguntou.

Shermmie estalou o pescoço.

— Eu sempre estou.

Sniper a olhou pelo canto dos olhos, perguntando-se de onde vinha toda aquela disposição. E rebateu:

— Eu nunca estou. Mas vamos nessa.

— Agora! — Hikari gritou, anunciando que era chegado o momento.

Os corpos dos dez guardiões começaram a brilhar e, em suas testas, surgiram os símbolos de seus respectivos signos. Num movimento sincronizado, eles estenderam as mãos, concentrando nelas aquele brilho de energia e disparando em direção ao aparente nada, onde se localizava a barreira.

Sofie olhou para o aparelho medidor em suas mãos, vendo a pontuação de energia manifestada por cada um dos guardiões.

Peixes — 82

Aquário — 83

Capricórnio — 79

Sagitário — 60

Escorpião — 82

Libra — 85

Virgem — 0

Leão — 83

Câncer – 74

Gêmeos — 0

Touro - 88

Áries - 89

— Oitocentos e cinco pontos totais... — Sofie falou, mais para si mesma.

Ao seu lado, Lyri estava curiosa.

— E o que isso significa?

Uma angustiante pausa antecedeu a resposta da francesa:

— Que a barreira não será fechada. Não sem matar a maior parte deles.

*****

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora