Capítulo vinte e cinco - Sobreviventes (Parte 4)

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Já era madrugada quando Eric retornou à base e, por conta disso, não esperava encontrar ninguém acordado. Imaginava que todos estivessem cansados demais, como ele próprio estava, mas logo percebeu que, apesar disso, eles também deveriam estar com a cabeça tão cheia quanto a sua. Ali, reunidos no salão, estavam todos os guardiões adultos: Sniper, Shermmie, Maurício e Live, espalhados pelo espaçoso cômodo, sendo que Sniper e Shermmie estavam lado a lado, ambos com as costas apoiadas em uma parede.

Todos os olhares se voltaram para o norte-americano quando este chegou. De tão ansiosos, Maurício e Live se levantaram e, apenas com o olhar, pediram por alguma notícia.

— Meu brother ainda está em cirurgia. Anne prometeu ligar logo que tiver notícias atualizadas.

— E a perna dele? — Shermmie perguntou.

— A médica responsável pela cirurgia nos disse que fará todo o possível, mas que não pode garantir nada.

— E a Mic? — Live indagou.

Eric movimentou a cabeça em uma negativa.

— Até o momento em que eu saí de lá, ainda não tinha nenhuma novidade nem dela, nem de Hikari.

Aflito, Maurício começou a caminhar de um lado para o outro.

— Não é possível... Como pode uma cirurgia demorar tanto?

Ainda sentada, Shermmie respondeu:

— Ela teve uma lança atravessada na barriga, Mau. Imagine a complexidade para conseguir retirar aquilo sem matá-la?

Se, a princípio, Maurício e Live já estavam preocupados com Mic, a coisa piorou bastante quando, após chegarem à base, Shermmie e Sniper contaram a eles sobre o que de fato havia acontecido. Não imaginavam que fosse algo de tamanha gravidade.

Sniper mostrou-se o mais realista e aparentemente tranquilo do grupo:

— Bem, my friends, por pior que isso seja, só resta a nós esperar.

Eric concordou:

— Nem ficar no hospital adianta. Já tem gente demais por lá e isso acaba só atrapalhando.

Maurício e Live odiavam terem que concordar com aquilo. Porém, a indiana fez um comunicado:

— Gente demais ou não, amanhã bem cedo vou para lá. Vou levar algumas roupas para eles e tentar convencer a tia Maire a vir para a casa com o bebê, que eu fico no lugar dela.

Eric comentou:

— Não acho que ela vá aceitar. Maire não parece ter qualquer intenção de sair de lá. Nenhum dos quatro tem, aliás.

— De qualquer maneira, eu vou para lá bem cedo.

— Vou com você — Maurício informou, sendo de pronto rebatido pela aquariana.

— Melhor não, Mau. O Eric tem razão, muita gente lá só atrapalha. Eu vou para tentar convencer a Maire a voltar. Sabe que só parentes podem ficar lá. Sou tutelada da Mic, por isso sou considerada da família.

Embora não fosse a intenção da mais nova, aquela última frase caiu sobre Maurício como um balde de água fria. Ele não era da família, não tinha qualquer direito de sequer querer permanecer no hospital à espera de notícias... por mais que as pessoas em questão fossem dois grandes amigos e a mulher que ele amava.

— Ela está certa, Mau — Shermmie falou. — Eu sei o quanto você queria estar lá. Eu também queria, acredite.

Ele não mais insistiu no assunto. E o silêncio tomou conta do salão. Cada um deles mergulhou em seus próprios pensamentos. Até que Sniper expôs a indagação que parecia se passar pelas mentes de todos eles:

— Será que agora, enfim, teremos alguns séculos de paz? Foram dezessete anos da antepenúltima abertura da barreira para a penúltima. Depois mais dez até a última. Duas guerras em menos de trinta anos. Será que daqui a muito pouco tempo nós, ou os nossos filhos vão ter que enfrentar isso mais uma vez?

Live movimentou a cabeça em uma negativa, movida muito mais por fé do que por uma certeza racional:

— Não. Acho que já chega de barreira se abrindo por, no mínimo, duas centenas de anos.

Todos balançaram suas cabeças em silêncio, esforçando-se para acreditarem naquilo.

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Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora