Capítulo cinco - Casulo (Parte 2)

833 170 117
                                    

Embora o outono mal tivesse começado, aquele fim de tarde estava um pouco mais frio do que o habitual. Henrique pensou que talvez fosse devido à altura em que estava ou, talvez, fosse meramente por ter passado tantos dias praticamente preso dentro daquela base. Sair de lá, aliás, não tinha sido uma tarefa muito fácil. Aproveitara o momento em que os adultos decidiram se reunir na grande mesa da cozinha, onde traçavam em um papel sobre a mesa os planos para o dia seguinte. Então, ele conseguiu sair, sem que ninguém o visse. Subiu os longos, escuros e abandonados lances de escada que levavam ao terraço do prédio e, quando empurrou a pesada porta de ferro, foi recepcionado pelo vendo frio e pelo som dos nunchakus cortando o ar, seguidos de um ou outro grito de ataque da menina que, ali, treinava sozinha há horas.

Curioso, ele se aproximou, devagar. Ela tinha a altura dele, embora fosse três anos mais velha. Observando os movimentos dela, o garoto pôde entender, embora odiasse admitir, porque ela poderia lutar e ele não. Não era apenas por já ter despertado sua energia. Embora fossem treinados em técnicas diferentes, Ling Su era visivelmente melhor do que ele na luta. Era rápida, forte, disciplinada. Sua limitação física não parecia sequer existir.

E ele teve ainda mais certeza desse último fato quando ela simplesmente parou com os exercícios e perguntou, enquanto passava as costas da mão pelo rosto para secar o suor:

— Seu pai ou sua mãe sabe que está aqui?

Henrique quase caiu para trás diante do questionamento. Como ela poderia saber que era ele quem estava ali?

— Como sabe que sou eu?

— Não sei que é você. Não sei nem quem é você. Mas não tem a energia de um Guardião, e também não é um youkai. Um humano "normal" não teria acesso até aqui, então... só podia ser um dos pirralhos.

Ah, é claro. Um dos "pirralhos". Henrique, então, se lembrou que eles ainda não tinham sido apresentados formalmente.

— Meu nome é Henrique. Sou o próximo Guardião de Sagitário.

— Sei. Filho da canceriana e irmão da menina que foi sequestrada.

— É. O próprio.

— E o que está fazendo aqui?

— Vim ver se poderia...

— Matar a curiosidade sobre a Guardiã cega saber lutar? — ela o interrompeu.

— Na verdade, eu queria saber se poderia treinar com você.

Ela se calou e Henrique percebeu que ela não esperava por aquilo. Era uma garota bem arredia, que parecia ter a mesma personalidade que seus avós e pais sempre descreviam a respeito do guardião anterior do signo de Capricórnio. Porém, o pedido inusitado pareceu tê-la deixado momentaneamente sem resposta.

Mas esse momento passou e ela caminhou até o canto do terraço, onde tinha deixado uma garrafa de água e mais um nunchaku. No caminho, retrucou:

— Chegou tarde. Por hoje chega de treino.

Henrique suspirou, desanimado. Tinha perdido a última oportunidade, já que, pelo que tinha ouvido, no dia seguinte uma parte dos Guardiões iria para o mundo youkai. E ele não faria parte desse grupo.

Claro, pensando logicamente, sabia que um dia de treinamento não faria qualquer diferença nisso. Mas ele queria tentar. Quem sabe, se despertasse sua energia, não seria considerado pelos demais como um Guardião? A ideia de ficar de braços cruzados enquanto sua irmã corria perigo não o agradava nem um pouco.

Quando a menina começou a voltar em sua direção, Henrique não conseguiu deixar de reparar nos passos firmes e decididos dela. Foi impossível para ele evitar a pergunta:

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora