Capítulo vinte e um - Subgenerais (Parte 4)

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Os ouvidos de Ling Su davam a ela toda a referência do que acontecia por ali. Ouvia o tilintar das lâminas, junto aos gritos que os dois combatentes proferiam enquanto se enfrentavam. Em meio àquilo, uma voz diferente chamou a sua atenção ao soar um gemido de dor. Ela se abaixou ao lado de Ryan, tocando seu rosto com as mãos.

— Você está bem? — ela perguntou, embora fizesse uma anotação mental do quanto seu questionamento era totalmente ridículo. Como alguém naquele estado poderia se considerar bem?

Porém, ele pareceu ignorar a indagação e disse outra coisa, em um sussurro fraco:

— A Cat... Onde ela está?

Ling Su pensou que ele provavelmente não queria ouvir a resposta, assim como também não iria gostar muito de saber que tinha sido a própria filha a feri-lo daquela maneira. Sentiu-se grata por não precisar responder, já que o corpo dele voltou a desabar completamente, inerte e silencioso, demonstrando que havia mais uma vez perdido a consciência. Assim, ela voltou a se levantar e se focar na luta. Pelos sons, deduziu que uma das espadas tinha sido derrubada, parecendo cair em um ponto distante. Ela apanhou seu nunchaku e o posicionou, começando a, cautelosa, descer as escadas.

— Riki? — perguntou com a voz baixa, torcendo para que não fosse ele o desarmado.

Ouviu o som de carne sendo perfurada, seguida de uma voz fraca:

— Ling Su... corra.

E ela correu. Mas não da forma como ele desejava, que seria fugindo para preservar sua vida. Ling Su correu em direção à batalha, deixando seus demais sentidos, aguçados, guiarem-na até onde o guerreiro de Cyane estava, já erguendo sua espada para dar o golpe final em Riki.

O subgeneral teve seu pescoço envolvido pela corrente do nunchaku e, com isso, foi puxado para que saísse de cima de Riki. O garoto se levantou e apanhou sua espada no chão, usando-a para atravessar a barriga do oponente. Ao ouvir o golpe, Ling Su afrouxou a corrente, deixando que o corpo do youkai caísse no chão, já iniciando seu processo de desintegração.

— Riki? — ela repetiu, querendo saber se estava tudo bem.

Sentir a mão dele tocando o seu ombro trouxe-lhe uma sensação de alívio.

— Obrigado...

Um leve movimento no canto dos lábios foi todo o sorriso ao qual ela se permitiu. Raramente se permitia muito além disso. Mas todo o alívio que ela sentiu desapareceu por completo, sendo substituído novamente pelo pavor quando a mão dele escorregou de seu ombro e, em seguida, ela ouviu o som do corpo se chocando contra o chão. Abaixou-se e o tocou no peito, sentindo o líquido quente que ensopava as roupas.

Ele também tinha sido ferido. E, pelo que ela podia perceber, com gravidade.

Mais passos se aproximaram, trazendo junto uma voz conhecida que trouxe alívio à menina:

— Ling Su!

— Henrique... — ela sussurrou.

O menino chegava ao salão ao lado de Kiara e Eliandyel, e a chinesa foi a primeira pessoa que eles avistaram. Mas logo identificaram o corpo ferido no chão como o de Riki e correram até ele. Em meio a essa corrida, Henrique pôde avistar que havia mais um ferido adiante, no meio das escadas. Correu, em desespero, até lá ao reconhecê-lo.

— Pai! — gritou. Ajoelhou-se no degrau, ao lado de Ryan, apavorando-se ao perceber a aparente gravidade do ferimento na perna, ao mesmo tempo em que era tomado pelo alívio de notar que ele estava respirando. — Pai, fala comigo... Por favor!

Ling Su concentrou-se nele por alguns instantes e seu coração doeu ao se lembrar que, dias antes, era ela a chorar debruçada ao corpo do pai. Ao menos, Ryan estava vivo. E, se tudo desse certo, seria salvo e sobreviveria. Queria, naquele momento, se dar ao luxo de ser otimista.

No entanto, não conseguiu ter o mesmo otimismo com relação a Riki ao ouvir o choro intenso da mulher que se abaixava no chão ao lado dele... Mulher ou youkai, já que emitia uma fraca fonte de youki... seria uma meio-youkai? A julgar pela proximidade que parecia ter com o soldado, julgou ser Kiara, a quem ainda não conhecia. Havia ali também um homem, que ela percebeu ser 100% youkai. E que também parecia ter um grande apreço por Riki.

— Riki, por favor, aguente firme! — Andy pediu, segurando a mão do menino junto às suas.

Foi com um grande esforço que Riki conseguiu abrir os olhos. Um leve e sincero sorriso surgiu em seu rosto quando avistou o amigo.

— Eliandyel... Senti sua falta. Fico feliz que tenha sobrevivido. — Voltou os olhos para Kiara. — Kiara-sama... Hina-sama está em segurança. Estão cuidando bem dela.

— Riki, meu querido... — Kiara acolheu o rosto dele com as mãos, em uma atitude de carinho quase maternal. — Eu sinto muito... Sinto muito... Se eu tivesse chegado um pouco antes, eu...

— A culpa foi minha — Ling Su a interrompeu. — Eu devia ter agido antes. Sou mesmo uma droga de uma inútil.

Mas Riki usou o que restava de suas forças para rebater aquela afirmação.

— A luta era minha, não sua. Ainda assim... eu não o teria derrotado sem você.

Sentindo-se prestes a ser tomada pelo choro, Ling Su se afastou ao máximo que podia, indo até uma parede, onde apoiou a testa, respirando profundamente e tentando ignorar os sons que ouvia do choro de Kiara, Andy e Henrique. Os dois youkais, pela morte do menino a quem viam como um filho. Henrique, pelo estado grave do homem que o criara como um pai.

Quando sentiu as lágrimas quentes descendo pelo seu rosto, a menina se questionou pelo que ela própria chorava.

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Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora