Capítulo dez - Como uma princesa guerreira (Parte 2)

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O silêncio não era algo do qual Hikari gostasse. A verdade é que ele entraria fácil no rol de coisas que ela mais odiava na vida. Contudo, era importante observar que certos silêncios conseguiam ser ainda mais detestáveis do que outros. O daquele momento, por exemplo, era um dos piores pelos quais ela já tinha passado na vida.

Deitada na cama do hospital, ela mantinha os olhos fixos na mulher sentada na cadeira ao seu lado, que tranquilamente lia um livro de capa dura com um título escrito em mandarim. Tudo o que ela dissera quando chegou foi uma breve apresentação, junto ao comunicado de que seria sua acompanhante e passaria algumas horas com ela no hospital, todos os dias, até que tivesse alta. Hikari ainda insistiu em fazer perguntas, mas todas eram ou respondidas por monossílabos, ou simplesmente ignoradas. Estavam há cerca de meia hora naquele jogo, até que Hikari começou a dar sinais de que sua paciência chegava ao limite.

— Será que dá pra você largar essa merda desse livro e responder às minhas perguntas?

Tranquilamente, a mulher chinesa passou uma página do livro e rebateu:

— Faça as perguntas, e eu responderei.

— Quem é você e por que veio para cá?

— Já lhe disse assim que cheguei, senhorita Gautier. Meu nome é Mei. E vim para cá porque a senhorita Maire me pediu para visitá-la diariamente no hospital.

— Olha só, eu posso estar numa cama de hospital, mas ainda sou detentora da energia de Áries e posso dispará-la na sua cara e te retalhar em segundos se você não me der a atenção devida! Você entendeu as perguntas, então trate de respondê-las direito!

Mei encarou Hikari por cima do livro, numa expressão que a ariana não saberia definir. Não parecia sentir medo de suas ameaças, seus olhos estavam muito seguros, embora passassem uma expressão indecifrável. Vencida, a chinesa fechou o livro e o depositou em seu colo, ainda olhando fixamente para Hikari.

— Pois não, senhorita Gautier. Como já lhe disse, meu nome é Mei. Sou tutora e treinadora da jovem Guardiã de Capricórnio. Isso responde quem eu sou?

— Não exatamente, mas voltaremos a isso depois. Diga, o que veio fazer aqui? Não no hospital, em Tóquio.

— Acredito que seja meio evidente que eu vim por Ling Su.

— Evidente? Por que seria? Mandou a menina vir completamente sozinha pro Japão. Não me parece nada evidente que tenha qualquer tipo de preocupação por ela.

Mei manteve-se com a mesma postura tranquila.

— Mas tenho preocupações. Se fosse de outra forma, eu não teria vindo para cá.

— É meio difícil de acreditar.

— Você me pediu respostas, estou dando-as a você. Insistir para convencê-la da veracidade delas, sinceramente, não é a minha intenção.

Hikari sentiu uma veia de raiva pulsar em sua testa, mas lutou para se controlar.

— Então voltamos ao "quem é você". O que você é daquela menina, por que você a treinou e não o pai dela... Eu só quero entender essa história toda.

Ainda séria, Mei movimentou a cabeça em uma afirmação e iniciou a narrativa:

— Minha mãe era irmã caçula de Li Yin, a Guardiã de Capricórnio anterior a Li Qiang. Portanto, também era filha de um guardião. Ela acompanhou todo o treinamento da irmã com o pai, e repassou as técnicas de luta que aprendeu para mim. Eu não sou uma Guardiã, não tenho energia alguma. Mas, em lutas corporais, eu provavelmente sou tão forte e tenho tanta técnica quando meu primo Li Qiang. E eu também tinha bons conhecimentos sobre energia Guardiã, mundo youkai e toda a missão de vocês com a barreira e tudo mais. Em resumo: eu era a melhor opção para treinar a jovem guardiã.

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora