Guardians II - Metamorfose

Capítulo vinte e seis - Uma inesperada visita (Parte 2)

— Cadê a raposinha da titia? Cadê a raposinha da titia? Cadê? Cadê?

Sentada sobre a cama, a pequena Hina inclinou a cabeça para o lado, deixando surgir em seu rostinho uma expressão confusa com relação à humana que, deitada de lado, de frente para ela, escondia os próprios olhos com as mãos, para depois descobri-los e exclamar:

— Achou!

Para a criança youkai, a brincadeira não apenas não tinha graça, como também não fazia sentido. Hikari bufou, indignada.

— É difícil te agradar, viu? Que tipo de brincadeira sua mãe fazia contigo? Porque, para bebês humanos, isso costuma ser divertido, eu juro!

Não compreendendo os argumentos da tia, o bebê voltou a se focar nos bloquinhos coloridos de plástico que tinha em mãos. Hikari bufou e ia exigir atenção, quando a porta do quarto foi aberta e por ela entrou Sofie, que foi logo indagando enquanto se aproximava da cama:

— Tem certeza de que é seguro a Hina ficar com você nesse momento?

— Não se preocupa, mãe. Não estou tão mal assim. Não é um bebê que vai fazer em me machucar.

— Hikari, é com ela se machucar que eu estou preocupada.

A mestiça se irritou com o comentário.

— Qual é, mãe! Eu sou uma adulta responsável. Aliás, em sete meses terei o meu próprio bebezinho.

— É, e acho que está mais do que na hora de conversarmos a respeito disso. — Sofie se sentou na ponta da cama. — Marco e eu achamos que é melhor que você volte para casa.

— É... Talvez seja o melhor a ser feito.

Percebendo o desânimo da filha, Sofie passou de leve a mãos sobre seus cabelos.

— É tão ruim assim a ideia de voltar a morar conosco? Antes você era louca para ter um pai e morar com uma família grande, lembra?

— Lembro. Isso até eu conhecer a liberdade e me apaixonar por ela.

— Acredito que será mais fácil ter um pouco mais de liberdade tendo duas pessoas para te ajudarem a cuidar de dois bebês, não é? Hina terá pouco mais de dois anos quando o seu filho, ou filha, nascer... Ainda será muito dependente de cuidados.

— Eu sei, mãe. Não vou dar conta, porque sou aquela que nunca deu conta de cuidar nem de si mesma.

— Não, Hikari. Talvez não dê conta sozinha porque é realmente muito difícil. Sua irmã teve gêmeos e você lembra do quanto foi complicado, não é?

Hikari fez uma careta ao se lembrar daqueles tempos. Eram quatro adultos em casa para cuidar de Henrique e Catherine e, ainda assim, às vezes a situação ficava um tanto caótica, como quando os dois cismavam de ter cólicas ao mesmo tempo, ou quando decidiam dormir em horários alternados. Ainda assim, as recordações não eram de todo ruins. Aqueles bebês trouxeram muita alegria à família, que estava passando por momentos tão difíceis: a adaptação de Anne à nova família e sua cura dos diversos traumas sofridos, a reabilitação de Hikari, o sofrimento de Marco tentando se readaptar ao Mundo Humano depois de quase duas décadas vivendo no Mundo Youkai... Henrique e Cat foram a alegria da casa e a esperança de tempos melhores.

Talvez agora eles ainda precisassem de mais uma dose daquela esperança.

Percebeu que a mãe desviava seu olhar para Hina, provavelmente os mesmos pensamentos.

— Ela é mesmo linda, não é?

Hikari sorriu, também passando a olhar para a sobrinha, que brincava distraída com os blocos coloridos.

— Ela é. Só fico pensando no que farei para esconder essas benditas orelhinhas de raposa. Não vai ser fácil pra ela ser uma menina-youkai no Mundo Humano.

— Não vai. Mas ela terá uma família para ajudá-la nisso. E uma mãe substituta que, apesar de ser meio irresponsável, aparentemente já a ama muito. E ainda vai amar muito mais.

Hikari concordou em silêncio. Apenas pensou se seria possível amar Hina ainda mais do que já amava naquele momento.

O celular de Sofie tocou e ela atendeu. Eram boas notícias. Anne ligava para informar que Ryan havia, finalmente, acordado.

Agora só precisavam torcer para que logo o mesmo acontecesse com Mic.

*****