Capítulo dezesseis - Obstáculo inesperado (Parte 5)

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Micaela sabia que não haveria tempo de chegarem à barreira. Precisava se apressar e manter a calma necessária para fazer tudo da forma correta. Ajeitou uma pequena manta sobre o chão coberto por folhas secas. Sabia que deveriam procurar um lugar melhor, mas não tinham tempo para isso. As dores de Maire pareciam a cada instante mais intensas, impossibilitando-a de continuar a caminhada. Depois, ajudou a grávida a tirar a calça legging que usava, ficando apenas de vestido, e a se deitar, e arrancou o próprio casaco, enrolando para que servisse como travesseiro. Maire automaticamente virou-se de lado, numa tentativa instintiva de buscar uma posição que lhe causasse menos sofrimento.

— Apenas respire devagar e profundamente. — Micaela tinha se abaixado ao seu lado e segurado suas mãos. — Sabe controlar o tempo das contrações, não é? Foi você mesma que me ensinou a fazer isso. Acha que consegue?

Com os dentes cerrados e uma expressão de dor no rosto, Maire assentiu em silêncio. Micaela depositou um beijo em sua testa e se levantou, indo recolher galhos secos para acender uma fogueira. Ainda era dia, mas precisava de água quente. Enquanto fazia isso, ouviu a voz da libriana contestando:

— Faltam alguns dias para completar as 37 semanas. Ainda não está na hora do Enzo nascer.

— Acho que isso não está mais em negociação. Enzo parece bem determinado em vir ao mundo.

— Ele é libriano, Mic. Pode estar em dúvida ainda.

A situação era tensa, mas Mic não conseguiu evitar rir diante da brincadeira. Ao mesmo tempo, foi como se a atmosfera ao redor delas se tornasse mais leve. O senso de humor de Maire era um bom sinal.

Enquanto acendia a fogueira, Micaela ouviu um grunhido de dor, que indicava que havia outra contração. Parou o que fazia e olhou para a companheira até que aquilo parecesse chegar ao fim.

— Quanto tempo? — Micaela também tinha calculado, mas sabia que o cálculo de Maire seria bem mais eficaz.

— Quarenta e dois segundos.

— Bem... Temos algum tempo ainda.

Após colocar dois recipientes com água para aquecer, Micaela voltou para junto de Maire, ajoelhando-se ao seu lado e voltando a segurar sua mão.

— Eu sei que o ambiente não é o que estávamos planejando, mas... Vai ter que servir.

Maire apertou a mão de Micaela com força. Olhando-a nos olhos, enfim teve coragem para verbalizar aquele pensamento que tanto a torturava:

— Estou com medo... do nosso filho morrer.

Micaela não se permitiu nem um segundo para o choque, ou para ser contaminada por tal medo. Tão logo as palavras foram processadas, apertou de volta a mão da amada e sorriu, confiante.

— Eu não vou deixar isso acontecer. Vou cuidar de vocês dois.

Maire movimentou a cabeça em uma afirmação, antes de declarar:

— Quando caí daquele penhasco, não tive medo pela minha vida... Mas fiquei apavorada sabendo que levaria o Enzo comigo. Tenho pesadelos com isso desde então, estou sendo torturada, pensando em se...

— Não existe "se", Maire. Você e Enzo estão bem. Agora só precisamos deixá-lo vir ao mundo.

— Precisa ser forte se algo acontecer comigo, Mic.

Guardians II - MetamorfoseOnde histórias criam vida. Descubra agora