Como uma invasora, Hikari entrou na base no maior silêncio que poderia fazer. Tirou os sapatos, para que seus passos não corressem o risco de acordar ninguém. Abriu a porta de seu quarto com todo o cuidado do mundo, e, lá, apanhou o que procurava: seu velho sabre. Com ele em mãos, já poderia ir embora. Porém, tinha alguém que queria ver antes de partir. Sendo assim, dirigiu-se ao quarto das crianças. Antes que tocasse a maçaneta, no entanto, a porta foi subitamente aberta. Hikari colocou-se em posição de ataque, mas deteve-se ao se deparar com a garotinha, que gritou, assustada.
— Tia Hikari, o que tá fazendo?
Ao reconhecer o rosto de Sarah, Hikari abaixou a arma, soltando o ar e a tensão dos pulmões. Henrique, Alexia e Erika também surgiram na porta, olhando intrigados para a cena. A norte-americana lembrou:
— Bem que meu pai me disse que a Hikari curtia esse lance de atacar criancinhas.
— Eu não ataco criancinhas, e... Aff, isso não vem ao caso! O que vocês quatro fazem acordados a uma hora dessas? — Enquanto falava, Hikari adentrava o quarto, observando que Andrew e Hina dormiam profundamente.
Ao menos os mais novos foram poupados daquela aparente noitada infantil. Ao redor do quarto, havia pacotes de salgadinhos e latas vazias de refrigerante.
Foi Henrique quem explicou a situação:
— A Sarah está só perturbando. Mas Alexia, Erika e eu estamos terminando de traduzir mais um daqueles códigos.
— Cifras — Alexia o corrigiu, como se houvesse uma grande diferença entre os dois termos.
Hikari deixou de percorrer os olhos pelo ambiente para olhar as crianças. Ou três delas, já que Sarah já tinha se afastado, voltando a se distrair em um canto do quarto, jogando videogame.
— Falam do diário da Kiara? Ainda estão nisso? Já descobrimos tudo o que precisávamos: como chegar ao castelo, o que Cyane pretende com Catherine e com Hina e quem ela é, afinal.
— Mas não sabem como derrotar a feiosa! — Erika rebateu.
— Bem... Uma lâmina afiada no coração costuma ser eficaz. No pescoço também funciona. Mas há alternativas como asfixia, pancadas fortes na cabeça, quedas de alturas consideráveis...
— Mas, tia Hikari... — Alexia começou a falar. — Com isso você também mataria a tia-avó da minha mana Live. É o corpo dela, esqueceu?
Hikari suspirou. Era triste pensar naquilo, mas precisava ser realista.
— De qualquer maneira, mesmo que conseguíssemos "tirar" a Cyane de lá, o corpo dela não resistiria. Apesar da aparência jovem, o corpo já tem mais de oitenta anos, e vem sendo duramente utilizado nos últimos cinquenta.
— E não é só isso! — Alexia retomou a palavra. — Ainda que reste alguma atividade cerebral nela, o que deve existir, já que a Cyane só consegue utilizar corpos de pessoas vivas, com toda a tensão e o desespero que ela deve ter vivido esses anos todos, enclausurada, ela provavelmente não teria forças para continuar vivendo depois que a Cyane liberar o seu corpo.
Hikari piscou, ainda conseguindo se surpreender com o vocabulário e a desenvoltura daquela menina de sete anos.
— Alexia, nem eu usaria termos como "atividade cerebral". Por que não tenta falar como uma criança, pelo menos de vez em quando? ...Enfim, depois disso tudo o que você disse, qual dúvida que resta em vocês? Não tem jeito: é triste, mas teremos que matá-la!
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Guardians II - Metamorfose
FantastikDez anos depois. Uma nova ameaça. Uma nova aventura. Todas as quartas-feiras, a partir de 26 de abril. Enquanto isso, ainda não conhece Guardians? Leia também no wattpad: https://www.wattpad.com/story/5029608-guardians