Guardians II - Metamorfose

Capítulo dez - Como uma princesa guerreira (Parte 3)

                Aquele beijo tirou momentaneamente qualquer reação que Micaela pudesse ter. Mesmo a preocupação e os questionamentos foram completamente apagados de sua mente, dando lugar puramente aos sentimentos, à necessidade de cuidar daquela urgência da saudade. Depois de tantos anos, Maire ainda tinha o dom de mexer com suas estruturas e cada beijo era como se fosse o primeiro, carregado com a mesma paixão que as uniu há mais de uma década.

No entanto, seu lado racional logo tratou de gritar que aquilo não estava nada certo. Maire não poderia estar ali, no mundo youkai, de forma alguma!

Micaela lutou contra aquela atração, empurrando Maire levemente e, dessa forma, desfazendo o beijo que as unia. Colocando o dedo em riste diante do rosto, falou, calma, porém enérgica:

— Você não deveria estar aqui.

Maire suspirou.

— Minha intenção não era vir para cá. Atravessei a barreira, sim, mas foi porque senti um youki e decidi verificar. Foram apenas alguns passos além do limite, quando teve a explosão dimensional.

— E o que fazia perto da barreira?

— Fui ajudar Marco e Sofie na guarda.

— Está grávida de oito meses, Maire. Tá, sei que vai dizer que gravidez não é doença, mas também não é condição para lutas.

— Como não? Nunca assistiu Xena – A princesa Guerreira?

— Não.

Maire franziu a testa, descobrindo um fato novo e curioso a respeito da parceira.

— Jura que não? Que tipo de infância você teve?

— Todos diziam que a tal Xena era lésbica. Minha mãe não me deixava assistir porque achava que era subversivo demais.

Maire sorriu, não resistindo à pergunta irônica:

— E isso adiantou de algo?

— Claro que adiantou. Ninguém colocou na minha cabeça o absurdo de que seria normal uma grávida de oito meses lutar.

— Está tudo bem se você for tipo uma princesa guerreira. Bem, mas para que lado fica o castelo?

— Para o Sul.

Maire olhou para o céu, orientando-se pelo sol. Começou a puxar Micaela pela mão, caminhando na direção indicada.

— Então vamos logo, Mi... — Seu braço travou e ela viu que Micaela tinha parado de andar.

— Mas a barreira fica a aproximadamente seis milhas a Leste daqui. E é para lá que vamos.

Maire suspirou, desanimada.

— Não há necessidade para isso, Mic.

— É lógico que há, Maire. Está achando que isso é algum tipo de brincadeira? Viu o que a Eri fez com a Hikari? Esse é o nível dos youkais que vamos enfrentar. Aliás, outro deles acabou de sair daqui. Vou te levar até a barreira, antes que ele cisme de voltar.

Micaela ainda temia que a parceira fosse continuar a insistir. Porém, foi surpreendia quando esta meramente a abraçou. Sentir a força e a aflição naqueles braços ao redor do seu corpo quase a fez fraquejar.