Velhas Sensações

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Galeria, 09:45.

-Senhora Parker, deseja algo? - a secretária de Amy entrou em sua sala.

-Sim, um café bem forte por favor. E me passe o que tenho para hoje.

-Uns fornecedores vem aqui para entregar alguns quadros , e aquela mulher que vai expor os quadros no final de semana , vem ás 15:25.

-Ah, droga! Tudo bem!

-Está de ressaca não é? - ela perguntou brincalhona. -Sei bem como é isso.

-Já vim muitas vezes assim para galeria?  - Amy perguntou um pouco insegura.

-As vezes quando a galeria abre no sábado, e algumas segundas sim. - ela sorriu de lado. - E sempre me pede para adiantar as coisas, mas dessa vez eu realmente não posso.

-Tudo bem Dani , só me traga o café. - pedi e ela saiu de minha sala. Meu celular começou a apitar e eu percebi que eram mensagens chegando e fotos também. Eram as fotos de ontem, me lembro de apagar rapidamente e de acordar novamente com Dani passando  um pano de álcool em meu nariz.

-Senhora? Está bem? - ouvi a voz dela enquanto abria os olhos e me levantava do pequeno sofá que havia instalado na minha sala.

-Estou! Eu apenas, hum, acho que tive uma forte lembrança. 

-Quer que eu chame o médico?

-Pode ligar para minha esposa? Eu acho que prefiro ela aqui . Por favor.

-Sim senhora . - Vi Dani saindo da minha sala e então me levantei , tomei um copo com água e fechei os olhos novamente. Lá estava, todos juntos no domingo. Os gêmeos eram bebês, estávamos em um apartamento  e tenho certeza que era da Kordei mais nova, pois Arthur estava bem a vontade pelo ap. O Peter brincava com os gêmeos e brigava com Duda ao mesmo tempo. E assim, todos os domingos veio a tona em minha mente. Eu perdi o tempo relembrando tudo que eu acabara de lembrar e não percebi quando minha mulher adentrou na sala desesperada e vindo me abraçar.

-Amy, amor! - senti o impacto do seu abraço. - Você está bem? O que houve com você?

-Eu lembrei dos domingos.

-O que? - ela pareceu ficar perplexa e parou para me olhar nos olhos.

-Eu lembro de nossos domingos de almoço. Me mandaram a foto e eu lembrei de algumas cenas, acho que todas na verdade. - ela não dizia uma palavra - Lucy? - estalei os dedos em sua visão. - Amor? Eu estou falando com você.

-Hã? Estou aqui. É que, é incrível. Eu estou feliz sabe, demais. Porém, você está lembrando de tudo, menos de mim. - ela abaixou a cabeça.

-Ei, eu lembro de nossa primeira vez. 

-É, você lembrou. Mas não lembra da primeira vez que me viu, nem como chegamos até aqui, nem da minha gravidez, da nossa separação, das viagens. Você sabe de algumas coisas porque nós contamos a você. - Lucy levantou e não parava de falar. - Parece que eu não era prioridade pra você. Até da Carol você lembra.

-Ah não, lá vem você de novo com isso. - levantei e fui em direção da minha mesa.

-Sim Amy, e falarei quantas vezes precisar. Você tem mais lembranças da Duda do que minhas. Pelo amor de Deus, como assim?

-Lucy, para um pouco. Não é culpa minha.

-Ás vezes eu acho que é. - nesse momento eu a olhei com raiva. Sério que ela falou aquilo?

-Lucy , eu não quero discutir com você. Eu pensei em te chamar porque eu sabia que podia contar com você, mas já que você veio para me julgar, eu prefiro que vá embora.

-Está me mandando ir embora?  - a mulher estava vermelha, talvez fosse raiva.

-Sim Lucy, por favor. - parei e respirei. - Eu acabei de desmaiar, minha cabeça está explodindo e você não está ajudando.

-É, talvez eu parasse de te ajudar. - ela pegou a bolsa e saiu da sala furiosa, batendo a porta com gosto. Me permiti cair na cadeira, sabia que mais tarde teria mais problemas em casa.

Resolvi tudo na galeria. 18:00, hora de ir para casa. Cheguei em casa e as crianças estavam em seus quartos fazendo a tarefa. Falei com eles e logo depois fui para o quarto. Ao entrar, a vi, mexendo no notebook sentada na cama. Entrei e ela nem se mexeu. Tomei um banho e logo depois sentei na beira da cama.

-Não vai falar comigo? - perguntei suavemente. 

-Não tenho o que falar.

-Está mais calma pelo menos? - perguntei chegando mais perto dela.

-Um pouco.

-Sabe, eu sinto que isso não é a primeira vez que acontece. É uma sensação estranha que tenho, que sempre brigamos, volto a senti-lá.

-Porque era normal a gente brigar no começo do namoro. - ela fechou o notebook e levantou da cama saindo do quarto. Suspirei. Porque ela era tão difícil?

O jantar ocorreu, tudo muito silencioso e eu estava começando a achar que as crianças sentiam quando brigávamos. Mesmo com o silêncio absurdo, Luna parecia querer falar algo.

-Mommy, posso dormir na casa da Sofi na sexta? - ela estava falando comigo.

-Porque você quer dormir lá?

-É noite do pijama das meninas.

-Mas eu nem conheço essa Sofi. - respondi inocente. 

-Você conhece, só não lembra, é diferente. E sim Luna, você pode ir. - Lucy tomou a decisão por mim. 

-Oba! Legal! Valeu Mamãe! -  a garota sorriu e continuou comendo. Olhei para Lucy com uma cara não tão boa e ela pareceu nem se importar.

-Pensei que o pedido tinha sido pra mim.  - comentei baixo.

-E você não ia deixar, porque você nunca deixa. Ai depois eu iria conversar com você, te convencer e ela iria. Então, vamos poupar tempo aqui. - ela estava sendo fria. Absurdamente fria, e eu a entendia. Ela estava magoada. O jantar terminou e as crianças foram brincar pela casa. Eu não queria brigar mais, estava realmente cansada, então apenas me deitei e fechei os olhos. 

Adormeci. 

Tenho quase a sensação que sonhei com algo que eu já sabia.

Novas Sensações - Segunda Temporada. ( Concluída)Onde histórias criam vida. Descubra agora