Então, uma infância normal, até meus pais me colocarem no melhor colégio da cidade.
Um colégio particular e elitista, muita gente rica e cheia de fricotes, os melhores professores e um uniforme de saia azul, camisa branca e gravata xadrez que ninguém merece, isso parece bonitinho em filmes e novela, mas se vista todo dia assim, veja todo mundo vestido assim, sem aquele ar fashion de saia curtinha ( essa ia até no joelho) e poder fazer um regaço com a camisa e usar a gravata como cinto, era um colégio administrado por padres e freiras, então tudo tinha que ser decentemente certinho.
Isso era um privilégio que o dinheiro comprava para mim, um bom ensino, hoje sei disso e agradeço, mas naquela época não me senti assim tão grata, era uma tortura.
Fui para o colégio pela primeira vez quando já tinha sete anos de idade, ao contrario de muitas crianças que desde os primeiros anos de vida já estão em escolinhas, eu fui sendo criada em casa com uma mulher que era uma mistura de baba/enfermeira/professora/mãe, inclui "mãe" na lista de qualificações de minha baba, pois mal via minha mãe, ela sempre estava ocupada com algo ou alguém, parecia que sua única tarefa como mãe era me encher de bonecas e dizer para não sujar meu vestido.
Talvez por esse motivo eu tenha me sentido totalmente deslocada ali no meio de tantas crianças estranhas, não havia um só rosto conhecido em quem me apoiar e meu contato com outras crianças se resumia aos meus primos em festas na casa dos meus avós.
Não conseguia me adequar, meu uniforme não ficava bem, nessa época eu já começa e ser esse ser magrelo e sem um pingo de elegância, eu não era boa em nenhum dos esportes que se praticavam lá, custava mais pra entender o que a professora dizia, para piorar mais um pouco, crianças sabem ser cruéis quando querem, eu era sempre chamada de branquela, desbotada, vampirinha, bigato de goiaba.
Eu precisava ser boa em alguma, não só boa, eu queria ser a melhor, porque assim talvez me respeitassem e virassem meus amigos e a única coisa em que eu conseguiria ser boa ali, era nos estudos.
Meu plano " brilhante" era esse, me tornar a melhor aluna da classe e assim meus colegas gostariam de mim. Isso só poderia ter passado mesmo pela mente de uma criança inocente, claro que não deu certo, e pior que isso, agora além de todos aqueles apelidos anteriores, eu tinha ganhando mais alguns, CDF, puxa saco, rato de escola, etc.
Eu já era uma pessoa isolada ali com duas ou três colegas em situação parecidas com a minha, depois desse plano " maravilhoso" eu preferia ficar só, chegava e ia para quadra do colégio até o sinal de entrada tocar, no recreio ficava na biblioteca, lá ninguém se atrevia a mexer comigo, pois levaria uma bronca da bibliotecária, quando o sinal batia para saída, eu corria para o banheiro até não ouvir quase ninguém mais no pátio do colégio, só então eu ia até o carro que esperava para levar em casa.
Inventei muitas dores de barriga e de cabeça, só para não ter que ir no colégio e enfrentar aquilo tudo, só que não dava para ter dor de barriga todo dia.
A infância é uma época crucial para o desenvolvimento de um adulto, deve ser por isso que hoje minha auto estima é um lixo completo.
Enfim, meus primeiros anos do ensino fundamental, foram um tortura pior que as cortinas rosa do meu quarto, com o diferença de que eu não podia colocar fogo no colégio, mesmo tendo sonhado varias vezes com isso.
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Uma mente sem lembranças
Narrativa generaleO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...