Mea Culpa

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Logo na primeira de semana de trabalho eu já vinha notando a diferença entre atender as pessoas carentes e pessoas ricas, as pessoas mais simples acabam nos tratando com respeito, como se o médico fosse alguém com conhecimento acima de qualquer outra pessoa no mundo, são respeitosos ( pelo menos a maioria é), quando algumas dessas pessoas me agradecem de forma efusiva, eu me sinto realizada, foi para isso que sempre quis ser médica, ajudar quem sofre, quanto a elite, eles já chegavam no meu consultoria cheio de papeis tirados de internet, tudo que queria era que confirmasse o diagnóstico que eles achavam que já tinham descoberto, ai de mim se ousasse dizer que estavam errados, alguns insistiam e outros simplesmente mudavam de médico. sempre fui honesta com meus pacientes, não digo o que querem ouvir, digo o que realmente esta acontecendo.

Eu vinha me sentindo um pouco mais leve e relaxada esses últimos dias, passava seis horas atendendo as pessoas no ambulatório e depois ia para casa, conversava com Drei sobre meu dia. Como seria maravilhoso se a vida pudesse ser calma e simples assim, mas eu ainda tinha um furacão para enfrentar, e eu esperava poder sair não muito despedaçada dele.

Quando cheguei em casa naquele dia, assim que abrir a porta do apartamento senti que havia algo errado, nada de TV ligada, nada de música, nenhum sinal de Drei pela sala, ela costuma me esperar ali no sofá esses dias. Eu era e ainda sou bem paranoica, já pensei no pior, haviam encontrado, levado para longe, sai pela casa a sua procura. Encontrei ela sentada na cama do quarto onde dormia, a luz estava apagada e a janela fechada. Isso não parecia nada bom.

___ Poxa Drei, me assustei quando não te vi. Está tudo bem?

___ Que bom que chegou, preciso que me esclareça algumas coisas.

Assim que ela se levantou da cama, mesmo no escuro consegui ver que segurava um papel na mão, não estava nítido o bastante para mim ver o que era, então esperei ela chegar mais perto para me mostrar.

Ela passou por mim sem nem me olhar direito e foi até a sala, sentou no sofá e ficou esperando que eu acompanhasse, me sentei também.

___Estava sem ter o que fazer, quis te ajudar e tentei fazer uma limpeza, estava indo tudo bem, então achei isso.

Assim que ela me entregou o papel que tinha na mão eu senti que ia desmaiar, ela não podia te achado isso, não agora. Eu tive tanto cuidado para esconder todas as fotos em que ela aparecia, mas lá estava uma foto nossa juntas.

___ Onde achou isso?

___ Embaixo da sua cama.

Respirei fundo várias vezes para tentar controlar o pânico que vinha tomando conta de mim. Não falei nada, só fiquei ali com a cabeça baixa.

___Essa moça Giulia, é muito parecida comigo. O que ela é minha?

Droga, droga, droga, bem vamos lá. A verdade uma hora ou outra sempre aparece.

___ Essa moça é você, antes de tudo acontecer.

Ela olha assombrada para foto e depois para mim.

___ Não pode ser, esse moça tem tatuagens, e eu não tenho nenhuma

___ Regeneração, lembra? Seu corpo e sua mente devem ter achado que suas tatuagens eram algum tipo de machucado ou cicatriz e sua pele se regenerou, todas sumiram.

___ Mas então....

Agora ela se dava conta da enormidade do que havia descoberto.

___ Eu estou com você na foto, isso que dizer que mentiu para mim quando disse que não sabia quem eu era. Você me conhecia. Foi você que me levou para lá? Sabe como tudo aconteceu?

___ Sim eu sei. Vou contar tudo que quiser saber. Pode se acalmar?

___ Eu estou calma.

Não, ela não estava calma, eu já via sua pupila começar a dilatar e a respiração ficar ofegante, eu sabia bem que logo ela perderia o controle.

___ O que quer saber primeiro?

___ Sou parente sua?

___ Não. Nós éramos namoradas.

Essa frase teve o efeito de choque, por uns instante ela deve ter esquecido a raiva que tinha de mim e ficado confusa.

___ Eu sei Drei, você deve estar se perguntado como uma garota tão linda poderia ter se envolvido com alguém tão sem graça como eu, mas aconteceu, e ficamos juntas por dois anos.

___ Não pensei nada disso...só...bom não importa, conte o resto.

___ Nós brigamos e nos separamos...

___ Espera, por que brigamos?

Hora de fazer meu mea culpa.

___ Eu te trai e você terminou comigo.

Cada coisa que eu ia dizendo fazia ela ficar mais surpreendida ainda.

___ Porque me trai? Não, espera, isso não interessa, conte o resto.

Então contei tudo de um fôlego só.

___ Eu queria conversar com você, me explicar, pedir que me perdoasse, mas você não falava comigo, não atendia meus telefonemas, então um dia fiquei sabendo que estava em um bar, fui até lá, insisti para que fosse até minha casa conversar comigo. Você aceitou, fomos até meu carro, eu achei que tinha condições de dirigir, apesar de ter bebido um pouco. Então acabei batendo em um poste quando estávamos no caminho, o cinto de segurança do seu lado estava quebrado e para piorar ainda mais a situação, o seu lado foi o que bateu de frente no poste, um pedaço de metal do carro ficou enfiado na sua barriga, tentei te ajudar, mas não deu tempo. No meu desespero, liguei para doutor Klaus, e implorei que colocasse você na maquina e te trouxesse de volta, eu tinha esperança que talvez fosse diferente dos outros, que se lembrasse de sua vida.

Havia o detalhe mais escabroso dessa historia toda, mas isso eu nunca iria contar

Sem falar nada, ela andou pela sala, ainda olhava a foto, parecia não acreditar que era ela ali com aqueles cabelos azuis perfeitos.

___ Qual é o meu nome?

___ Wendy, Wendy Alba.

___ Minha família não me procurou?

___ Te perguntei várias vezes sobre sua família, mas sempre me dizia que era sozinha e não tinha ninguém.

___ Por que escondeu tudo isso de mim? Eu tinha o direito de saber.

___ Meu tio me fez prometer que não falaria nada, era parte do acordo para te trazer de volta e também tive medo da sua reação, medo que me odiasse. Me desculpe Drei.

___ Não me chame mais assim, foi doutor Klaus que escolheu esse nome?

___ Sim.

___ Eu sou Wendy Alba, não me lembro disso, mas sou Wendy Alba.

Ela caminhou até a porta da frente abriu.

___ Onde você vai Wendy?

___ Não sei, só preciso sair daqui, ficar longe de você, porque minha vontade nesse momento é quebrar a sua cara, literalmente te arrebentar toda. Não tente me impedir, meu auto controle não estava funcionando e não quero te machucar ou coisa pior.

___ Mas para onde vai?

___ Pra qualquer lugar onde não te veja por um tempo.

Ela saiu batendo porta, eu tive medo de nunca mais a visse, tive medo dela sozinha pela cidade, mas o que doía para caramba era o ódio que ela sentia de mim.









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