Uma mente sem lembranças

Furacão Disfarçado De Garoa

Quando eu ainda morava nos Estados Unidos, sonhava com uma vida tranquila e sem mais sobressaltos e ali estava eu, bancando a cientista maluca entrando de cara nas aventuras lunáticas de meu tio e namorando Wendy Alba que ora me acalmava e ora me fazia enlouquecer de inseguranças.

Por sorte meu tio parecia ter dado um tempo nessas ideia, voltou ao trabalho de forma normal e quase não ia ao anexo, e também não tocava muito no assunto, não sei se havia mesmo desistido ou se estava com dificuldades para achar um defunto fresco, não seria eu a pessoa que incentivaria ele a voltar com suas experiências.

Quanto a Wendy, as coisas as vezes iam bem, as vezes nem tanto, estávamos juntas a quase um ano, eu não saberia mais viver sem ela, mas confesso que as vezes eu amava e odiava com a mesma intensidade.

Wendy era tão contraditória, as vezes era como se ela me amasse perdidamente, para uns dias depois se tornar distante, era carinhosa e depois fria, ela era a entrada e saída de quase todas minhas emoções, era meu alfa e ômega, meu caos e minha ordem, já havia passado por muitas tempestades em minha vida, mas Wendy era um furacão disfarçado de garoa e eu não conseguia ficar longe dela por mais de dois dias, era como se meu corpo e minha mente sofressem uma privação de algum tipo de droga, Wendy era meu vicio e eu tinha síndrome de abstinência quando ela ficava longe, até tentava fugir, e quanto mais o medo de magoar aumentava, mais eu queria ela por perto.

Ah! Eu amava perdidamente Wendy Alba, percebi que todas as outras haviam sido paixões, mas ela era amor e paixão ao mesmo tempo, quando se sente amor, quer cuidar da pessoa, proteger e paixão é um sentimento de posse, eu queria cuidar de Wendy, mas também queria ela só para mim, sem segredos, mas havia uma parte de sua vida e do seu passado que ela não compartilhava comigo, e isso foi aumentando ainda mais minha desconfiança, comecei achar que ela tinha um amor secreto, um amante, alguém ela amava e não podia ter, que eu era somente um estepe para sua carência.

Minha insegurança ia aumentando cada vez mais, comecei a notar as vezes ela usava seu notebook, perdida em pensamentos, tão perto fisicamente mas seus pensamentos tão distantes de mim, e toda vez que me aproximava ela fechava rapidamente a tampa, claro que era para que eu não visse algo, e isso me torturava, ficava imaginando ela olhando a foto de alguém, sofrendo, desejando ter outra pessoa na sua cama a noite que não eu.

Fui me tornando uma pessoa possessiva, queria sempre saber porque não tinha atendido o telefone logo que liguei, porque se atrasou, onde estava, essas coisas todas e aos poucos ela ia perdendo a paciência comigo, Wendy era um espírito livre, não suportava a ideia de ter alguém mandando em sua vida. Tivemos várias brigas nesse tempo juntas.

___ Por que demorou tanto hoje?

___O transito ruim, meu ônibus atrasou, desculpa meu bem?

___ Foi só isso mesmo?

___ Claro, o que mais seria?

___ Não sei. Talvez encontrou algum amigo.

__ Porra, Giulia, isso outra vez? Por que não confia em mim? Isso cansa sabia?

Nossa brigas eram muito parecidas, eu acusando e cobrando e ela se defendendo, admito que ela tinha bastante paciência comigo, havia dias em que nem mesmo eu me aguentava.

No final do ano eu queria ir visitar meus pais na Alemanha, queria muito que Wendy fosse comigo, mas ela começou a arrumar desculpas

___ Ainda não tenho passaporte.

___ É rápido fazer.

___ Não tenho roupa para ir.

___ A gente compra.

___Passagem é cara, sou só uma tatuadora.

___ Wendy, eu posso pagar.

___ Droga, quantas vezes tenho que dizer que não quero seu dinheiro?

___ Pegue como empréstimo. Queria que meus pais te conhecesse.

___ Eu não quero conhecer seus pais, o que eles vão pensar, que você tá doida em ficar com alguém como eu, assim como aquele mala do seu tio pensa.

___ Eles vão te amar.

___ Não vão não Giu e você sabe disso, não quero confusão quero que aproveite sua estada lá. Vá visitar seus pais.

Seus argumentos eram coerentes, mas quando eu estava nervosa, nada fazia sentindo, só eu me achava certa.

___ Talvez você não quer ir para poder ficar sozinha aqui e aproveitar e sair com algum amiguinho.

Senti meu rosto queimar quando o tapa que ela me deu acertou em cheio a minha bochecha, acho que eu mereci aquilo, mas minha vontade foi revidar e foi o que fiz, desferi um tampa no rosto dela também. Agora ela estava espumando de raiva.

___ Entenda uma coisa Giulia Schneider, se que quisesse te trair eu trairia e você nem iria saber. Cansei disso, quando um casal parte para agressão física é porque já perdeu todo respeito.

___ Você está terminando comigo?

___ Sim! Acabou Giu.

Senti meu estômago ficar embrulhado, eu não queria perder Wendy, não podia ficar sem ela.

___ Wendy, me desculpa, eu fiz tudo errado, mas não vamos terminar.

___ Vá viajar Giu, quando voltar conversamos, preciso de um tempo para pensar e você também.

Ela pegou a mochila, colocou no ombro e foi embora, sem um tchau ou um beijo de despedida, corri até a sacada do meu apartamento e fiquei esperando ela sair do prédio, e então gritei quando a vi.

___ EU TE AMO WENDY!!

Ela nem se virou para me olhar, seguiu seu caminho.