Crescendo

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Meu ensino fundamental foi praticamente isso ai, uma vez por mês eu arrumava uma desculpa qualquer para sair com tio Klaus, meus estudos ainda eram bem puxados, agora além de ser a melhor aluna da classe eu também queria entrar na melhor faculdade de medicina, meu numero de colegas tinha aumentado um pouco, mas nenhum que eu pudesse realmente chamar de amigo, sabe aquele tipo para quem a gente conta tudo, dorme na casa, faz brincadeiras idiotas, mas ao menos já dava para ter um pouco de vida social.

Por mais estranho que possa parecer, o museu de anatomia não causava mais repulsa ou medo e sim atração, voltei varias vezes lá com meu tio e algumas vezes sozinha, eu pensava que dessa forma quando entrasse na faculdade eu não ia desmaiar nas primeiras aulas.

Também fui varias vezes a clinica de tio Klaus. Claro que não poderia ver uma consulta, mas mesmo assim aquele ambiente me fazia bem, tinha 100% de certeza que um dia estaria trabalhando em uma sala ali com ele. Podia até imaginar minha sala, uma mesa com um vasinho de cacto, um pote com canetas e um quadro legal na parede. Minha imaginação sempre foi bem fértil.

Mas havia uma coisa que me incomodava ali, um anexo que ele nunca me mostrava, pedi de varias maneiras, chorando, elogiando, puxando o saco, mas ele não me deixava entrar ali de forma nenhuma.

___ Poxa tio, é só uma olhadinha rápida.

__ Ainda não é hora Giu, mas um dia vai ser, tenha paciência.

Pois é, paciência era uma palavra que definitivamente não combinava comigo, essa minha impaciência um dia me fez tentar entrar escondida no tão secreto anexo. Além de não conseguir, levei uma bronca enorme e ele ficou quase dois meses sem falar comigo, por sorte ele também sentia minha falta tanto quanto eu sentia a dele.

Aos treze anos minha mãe decidiu que não precisava mais de uma baba ( finalmente), mas agora eu tinha que reportar à ela sempre que fosse sair de casa, não que isso fosse um problema, a única coisa chata eram as perguntas de praxe : onde vai? com quem? que horas volta? Como se ela realmente tivesse se importando com tudo isso.

Enganar meus pais era de uma facilidade incrível, eu achava ótimo, hoje eu penso que se talvez eu tivesse sido um pouco mais vigiada, minha vida não teria se tornado esse caos em que me enfiei. Mas enfim não adianta chorar pelo leite derramado.

Essa rotina se seguiu até quando passei para o ensino médio, e mudei de colégio. Mas um colégio particular de elite, mas por sorte sem aquele uniforme ridículo e sem o bullying. Um alivio.

Por outro lado, nessa época comecei a perceber que não era como outras garotas, interessada em namoradinhos e crush, eu nem me importava com isso, ou achava que não me importava, até conhecer meu primeiro amor ou algo parecido com amor. Foi quando tive certeza que era diferente e também foi quando me senti toda confusa e perdida.


Uma mente sem lembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora