Nessa noite resolvi dormir em casa, mas fiquei ligando para Kaio de cinco em cinco minutos até cair no sono, só para saber se ela havia acordado, depois da décima ligação da noite ele já atendia o celular bufando.
___ Não doutora Giulia, ela ainda não acordou. Por que não descansa, caso ela acorde eu te ligo na mesma hora.
Ele provavelmente gostaria de acrescentar, assim eu descanso também, mas não falou nada, não havia nada que eu pudesse fazer no momento, então tentei dormir, tive pesadelos e acordei como se não tivesse pregado o olho a noite toda.
Eu tinha consultas naquele dia, então fui direto para clinica, sem passar antes pelo anexo, depois do almoço fui até hospital pedir demissão, minhas tardes agora seriam ali com Drei, se ela acordasse, se ela sobrevivesse mais que os outros, eu sentia calafrio percorrer meu corpo quando lembrava de Eins batendo com a cabeça na parede, meu medo nesse momento era presenciar algo assim com ela.
Meu tio ainda não tinha me dado uma chave para entrar, todas as vezes eu precisa ligar para ele ou para o Kaio virem abrir a porta. Alias eu me perguntava quanto Kaio recebia de salário, ele fazia quase tudo ali, limpava, cozinhava, e só tinha um dia folga, que ele quase nunca tirava, ou ele tinha um salário maravilhoso ou não tinha realmente para indo ir, ou era um tipo de mercenário.
Dessa vez foi Kaio que abriu a porta.
___ Olá Kaio.
___ Seu tio quer falar com você.
___ Aconteceu algo com ela?
___ Vai falar com ele.
Seco como sempre, ele era um homem de poucas palavras, e não se incomodava em ser educado, não sei porque, mas eu não gostava nadinha de Kaio.
Meu tio estava na cozinho tomando um café quando entrei.
___ Queria falar comigo?
___ Sim. Ela acordou faz uma meia hora.
Aquilo me fez ficar zonza por um segundo, achei que ia desmaiar. Ela estava viva, eu ia poder olhar nos seus olhos outra vez, ouvir sua voz, eu... meu pensamentos foram cortados pela realidade, ela não se lembraria de mim.
___ Posso ir vê-la.
___ Sim, lembre do acordo, nenhuma palavra sobre o que ela é ou foi.
Enquanto caminhávamos para o quarto onde ela estava, meu coração parecia que ia sair pela boca, batia forte e rápido, fiquei com medo de ter um ataque cardíaco no trajeto e meu tio ganhar mais uma cobaia.
Olhei pelo vidro espelhado, e lá estava ela, sentada com o olhar assustado, olhando ao redor, talvez tentando entender que lugar era aquele e o que fazia ali. Pude ver uma penugem castanha claro formando na sua cabeça, então era essa a cor natural de seus cabelos, eu nunca tinha lembrado de perguntar isso. Tio Klaus chama o Kaio para abrir a porta do quarto.
___ Pronta para entrar?
___ Acho que sim.
Na hora em que porta se abre, Drei se encolhe na cama. Deixo meu tio e Kaio entrarem, fico atrás deles, não quero que me veja, uma parte minha tem esperança que ela me reconheça, alias esperança é uma coisa fodida, mesmo não querendo ela está sempre ali dando as caras e nos fazendo criar expectativas que talvez nunca se realizem, eu como qualquer outro ser humano tinha minhas expectativas e tinha medo delas, ao mesmo tempo que queria que acontecessem. Meu tio se aproximou para falar com ela.
___ Meu é doutor Klaus, eu sei que você está confusa e não consegue falar, só quero saber se entende o que eu digo.
Lentamente ela balança a cabeça de modo afirmativo e então para minha surpresa e de tio Klaus, ela fala.Foi algo tão baixo que não tive certeza se estava mesmo falando ou se era só minha imaginação me pregando peças, mas ela repetiu mais alto.
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Uma mente sem lembranças
General FictionO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...