Sabe quando você acorda com aquela sensação ruim e pressente de alguma forma que o dia vai ser horrível? Pois foi assim que acordei, minha vontade era não sair da cama para nada, mas eu precisava, me obriguei a colocar o biquíni e ir nadar, manter a rotina e minha sanidade metal em ordem.
Fiz compras e depois dei uma limpada básica no meu apartamento que estava bem zoneado. Final de semana deveria ser tranquilo, mas eu não vinha tendo dias tranquilos já faziam um tempo. Antes de ir ver Drei,passei na livraria para lhe comprar um livro novo, dessa vez ia pedir que ela tentasse ler um pouco mais devagar. Fiquei andando pelas prateleiras até me decidir qual levar, optei por" Crime e Castigo" de Fiodor Dostoievsvk, quinhentas páginas para se distrair, e não é um livro fácil de entender.
Esperei vários minutos até que Kaio viesse abrir a porta do anexo, não gostei nada do sorriso irônico que ele me deu, afinal se ele estava feliz era sinal que algo havia acontecido. Entrei correndo e fui direto para sala onde ficava o quarto de Drei, vi meu tio parado em frente o vidro espelhado olhando para dentro. Senti meu corpo todo ficar tenso, tive medo que algo houvesse acontecido com ela, caminhei até onde ele estava, meus joelhos estavam quase amolecendo, tive medo de cair antes de chegar mais perto. Então eu vi o que ele olhava.
Drei estava sentada em sua cama, só havia o colchão, toda roupa de cama havia sido retirada, ela usava somente um top e short bem curto e estava bem encolhida, tremia de frio, eu conseguia ver a fumaça de vapor que saia de sua boca e nariz enquanto respirava.
___ Mas o que isso?
___ Comecei os testes.
Toquei o vidro espelhado e consegui sentir o frio no lado de dentro do quarto.
___ Ela vai congelar assim. Que tipo de teste é esse?
___ A mente dela está bem plástica, se expande e modifica o corpo, quero ver se ela aguenta o frio mais que uma pessoa normal.
___ A quanto tempo ela está assim?
___ Oito horas e vai ficar vinte e quatro.
___ Isso é um exagero.
___ Você não vai se intrometer, se ela começar apresentar sinal de hipotermia, então eu paro. A sala é climatizada, se precisar aumento um pouco a temperatura.
___ Isso é cruel, tio. Por favor.
___ Se não quiser ver, é só ir embora.
___ Vou poder entrar para falar com ela.
___ Duvido que ela queira falar com alguém hoje, mas você tem uma hora como combinamos, mas não vai poder levar nada pra ela, nem roupa, nem cobertor, nada, entendeu?
___ Sim.
Fiquei quase uma hora inteira tentando criar coragem para entrar no quarto, não havia clima para lhe dar um livro, não havia clima nem para uma conversa.
Acabei entrando e nem soube o que dizer, mal conseguia olhar para ela ali toda encolhida e tremendo de frio, a sala estava muito gelada. Puxei a cadeira e sentei perto dela, só agora ela parecia notar a minha presença, quando entrei era como se ela estivesse se retirado mentalmente para algum outro lugar.
___ Oi Drei.
___ Doutora.
Ela levanta e vem me abraçar, sinto seu corpo tão frio como se fosse um pedra de gelo. Retribuo o abraço, mesmo sabendo que sua intenção era só se esquentar um pouco comigo e não por sentir a minha falta, é o que posso fazer por ela ou pelo menos achei que podia, até Kaio aparecer na porta.
___ Sem contato físico doutora, senão a visita acaba.
Tive que me afastar dela. Ela me olhava de forma suplicante e faz meu peito doer.
___ Pode fazer isso parar? Está tão frio.
___ Eu não posso, doutor Klaus quem controla isso.
___ Isso faz parte do tratamento para minha mente melhorar?
Eu não queria mais ter que mentir para ela, então me mantive em silencio com a cabeça baixa, não suportava ver ela assim.
___Isso não é um tratamento, certo? Eu não vou melhorar. Será que pode me dizer por que estou aqui afinal?
___ Eu não posso. Me desculpe, queria poder fazer isso parar.
___ Mas não pode. Então sai daqui.
___ Drei...
___ Sai logo antes que pegue um resfriado.
___ É minha hora de visita.
___ Não quero falar com você hoje. Pode sair. Por favor.
Eu não iria ficar ali contra a sua vontade, então sai, mas fiquei durante muito tempo olhando para ela pelo vidro, as vezes ela tremia demais e seus lábios começavam a ficar roxos e então do nada sua expressão mudava e era como eu havia visto quando entrei, como se ela se isolasse em algum lugar dentro da sua mente, então a cor na pele ia voltando e ela parava de tremer, vi isso acontecer vários vezes durante o tempo que fiquei ali e meu tio também viu.
___ Impressionante não é, Giulia. Sua ex namorada é impressionante.
No dia seguinte meu tio havia mudado o teste, agora o climatizador marcava 38 graus, Drei estava suada e andava de uma lado para outro, entrei para a minha visita, mais uma vez ela não quis falar comigo e tive que sair logo de lá, estava tão abafado que achei que ia desmaiar, mas ela se manteve firme.
Meu tio ia filmando tudo e fazendo anotações. Foram mais dias de testes, o próximo foi o teste do sono, ela ficou 48 horas acordada, e quando tentava dormir um som alto tocava no quarto, o seguinte foi o teste da comida, 48 horas sem comer. Em nenhum momento eu vi ela reclamar ou chorar, se mantinha firme o tempo todo, eu havia desisto das visitas, além dela não falar comigo, eu simplesmente não conseguia entrar ali e encara-la. Ao contrário dela eu chorava muito nesses dias, ficava ali olhando pelo vidro e pensando que ninguém merecia esse tipo de coisa.
Então algo que aconteceu me deixou surpresa e confusa, no dia do teste do jejum eu estava com as duas mãos encostas na vidro, ela não podia me ver de dentro do quarto, ela só via o espelho e próprio reflexo, mas ela se levanta da cama e vai até o vidro, coloca as duas mãos exatamente no mesmo lugar onde estão as minhas e depois encosta o rosto no vidro, sem pensar muito no porque eu fazia isso, deu um beijo de leve onde estava sua bochecha o que fez com ela desse um sorriso e voltasse a sentar na cama.
Seria possível ela me sentir através do vidro? Me ver? Ou pelo menos saber que estava ali com ela o tempo todo? Eu queria muito que sim.
Achei que os testes havia acabado, mas meu tio havia guardado o mais cruel para o fim. E foi esse ultimo teste que me fez tomar uma decisão, eu ia ajudar Drei a fugir dali.
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Uma mente sem lembranças
General FictionO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...