Flor Azul

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Passei o resto da semana atormentada com o que havia acontecido no sábado, me culpei por ter interpretado errado os sinais de Wendy, achei que ela também tivesse algum interesse assim como eu tinha, que fosse recíproco, me enganei e agi exatamente da forma que ela abominava.

Várias vezes disquei seu numero, mas não tive coragem de completar a chamada, olhava meu celular a toda hora em busca de alguma mensagem dela, mas não havia nada.

Sonhava com ela noite, quando acordava minha mente se perdia nas lembranças daquela noite, via se corpo nu delineado pela lua, nadando com desenvoltura, depois nossos rostos bem juntos e a forma como ela saiu correndo. Isso parecia um filme que ficava reprisando o tempo todo, me fazendo viver um inferno.

Eu não deveria estar assim, mal a conhecia, sabia quase nada sobre sua vida, como um mantra eu repetia isso incontáveis vezes para me convencer que logo essa agonia que eu vinha sentindo passaria.

Por sorte, nesses dias eu não precisa me preocupar com Ivana, que estava de férias visitando alguns parentes eu outro estado, não tinha menor vontade de encarar ela, ainda estava toda confusa, Wendy virava minha cabeça e me tirava a paz, Ivana era tranquila e me dava estabilidade, Wendy era o caos e Ivana a ordem. Qualquer pessoa com um pingo de bom senso iria preferir Ivana, mas esse era o problema, eu nunca tive bom senso.

No sábado a tarde, sai do trabalho, passei no meu apartamento para trocar de roupa e estava saindo para fazer compras quando meu celular toca. Fiquei paralisada por um momento, era Wendy me ligando. Senti aquele frio na barriga tomar conta de mim. Atendi com a mão tremendo.

___Alô.

___ Oi doutora. Como vai?

___ Bem Wendy, e você?

A voz dela ao telefone conseguia ser ainda mais sensual que ao vivo. Fechei os olhos e imaginei ela ali na frente, falando comigo.

___ Bem. Vai fazer algo hoje a noite? Quer jantar comigo?

Aquela pergunta me pegou desprevenida, pensei em dizer que tinha compromisso, em fugir dela, eu não tinha mais idade e nem paciência para gente confusa. Minha razão dizia para recusar o convite e me peguei respondendo antes de pensar muito.

___ Eu estou livre, vai ser legal jantar com você.

___ As 20:00 esta bem pra você?

___ Ótimo, onde vamos? Te pego no estúdio?

___ Não, o jantar vai ser na minha casa, vem de táxi, não quero que corra o risco de ser assaltada, anota meu endereço ai.

Peguei uma caneta e papel e anotei, era um bairro bem afastado mesmo, periferia da cidade, eu nem sabia ao certo como chegar lá, mas eu iria, sem duvida.

___ Anotei, as 20:00 então?

__ Sim, te espero. Beijo doutora.

Uma parte minha estava eufórica, Wendy havia me ligado, queria me ver, a outra parte mais sensata me dizia que isso era uma roubada, que Wendy tinha cheiro de problemas. Bem, eu já havia aceitado o convite, agora não adiantava nada ficar pensando muito. Com as chaves do carro na mão, desci até a garagem do prédio, e fui as compras, isso ia me manter ocupada por um tempo.

Já no supermercado, achei que seria de bom tom levar algo para ela. Comprei um vinho tinto, sábado passado ela tinha levado vinho, então sabia com certeza que gostava, comprei também uma torta de limão que parecia muito saborosa e quando estava indo para o caixa, vi um vasinho com um cactos com flor azul, achei que aquilo combinava tanto com o cabelo dela que não resisti e comprei também.

Quando dirigia de volta para casa, me dei conta que nunca havia me preocupado em agradar alguém tanto assim, mas queria a todo custa agradar Wendy.

Guardei as compras no armário. Coloquei a torta para gelar e fiquei olhando o cactos por um tempo, era tão bonitinho que quase fiquei com ele para mim.

Três horas antes das 20:00 eu já comecei a me aprontar, física e psicologicamente para me encontrar com ela. Tomei um banho me não conseguia decidir que roupa colocar, logo eu que sempre fui tão rápida na hora de me vestir para meus compromisso. Nada parecia cair bem, ou era exagerado demais ou simples demais, o tempo corria, já não podia me dar ao luxo de ficar com muita frescura na escolha, então optei por um saia branca jeans e uma blusinha de alcinha preta, nos pés coloquei uma rasteira também preta.

Munida com o endereço que ela havia me dado, e das coisas que comprei, meia hora depois já estava no táxi a caminho de sua casa.

Fui prestando atenção no caminho, era bem longe, eu imaginava Wendy passando de ônibus todos os dias por esse mesmo caminho, e isso de alguma forma me aproximou ainda mais dela, era mais uma coisa que ela me revelava, de forma indireta sim, mas era mais uma brecha que eu ganhava na sua vida fechada.

Finalmente o táxi parou, eu tinha chegado. Salvei o numero do taxista no meu celular, ainda bem que ele trabalhava a noite toda, assim já teria como voltar para casa.

Era um bairro pobre, mas num primeiro momento achei exagerada a preocupação de Wendy sobre assaltos a minha pessoa.

Conferi mais uma vez o numero da casa para ver se estava certo. Havia uma grade alta de ferro na frente, ao fundo ficava uma casa branca e pequena, com uma varanda estilo fazendinha e dois vasos de flores, não havia campainha, então resolvi ligar do celular para ela,que foi atendido com rapidez.

___ Hey Wendy.

___ Já sei, me ligou para dizer que não pode vim. Acertei.

___ Errou feio, estou aqui em frente a sua casa. Pode abrir a porta para mim?

Meu coração deu uma falhada quando ela abriu a porta. Estava mais linda do que eu me lembrava, usando um short curto e desfiado deixando a mostra uma caveira mexicana tatuada na coxa e uma blusa preta do com o logo da banda Nirvana. Sorria ao me ver e eu não pude deixar de sorrir de volta.

Entramos na sua casa que era igualmente simples, uma sala, cozinha, quarto e banheiro. Entreguei a torta e vinho, ela levou até a geladeira. Peguei o cactos que estava na outra sacola para lhe dar.

___ Tenho um presente para você.

Ela pega flor abre o sorriso e me abraça.

___ Meu deus, é linda Giulia.

Só o fato dela me chamar de Giulia e não de doutora e me dar aquele abraço, já fizeram a noite valer a pena.








Uma mente sem lembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora