Sem Sal

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A morte de Alice me abalou profundamente, mas também de certa forma me moldou, meio tarde eu confesso, mas agora eu me sentia 100% adulta e também de certa forma fez com que definisse alguns limites de até eu iria para manter a vida de uma pessoa, sempre daria opção a pessoa, nunca daria falsa esperanças, não iria sugerir cirurgias que não fariam diferença, a escolha sobre isso sempre deveria ser do paciente. Claro que no caso de uma doença que não fosse incurável eu faria tudo para ajudar, mas no resto, só ofereceria cuidados para a manutenção da dignidade de cada paciente.

Quando finalmente acabei minha pós, decidi voltar ao Brasil e da mesma forma que havia feito quando me mudei para Nova York, levei só o necessário, dei para doação muitas roupas de frio que seriam inúteis para o clima brasileiro

Voltei a morar no meu apartamento em São Paulo, que por sorte estava bem conservado, meu pais mandavam fazer uma limpeza lá pelo menos a cada dois meses, aproveitei e já removei minha licença médica e fiz o exame da CRM para poder trabalhar no pais, e então como era meu costume, tirei um tempo de férias, eu precisava de um descanso, mas também como era de costume, meus descansos acabam dando problema, resolvi que dessa vez seria diferente, passei a doar duas horas do meu dia em trabalho voluntário.

Eu trabalhava em comunidades carentes, favelas, orfanatos e vários outros locais em que a ONG " Consultório Aberto" me mandava. Isso mantinha minha mente ocupada e livre de problemas, porque eu parecia um imã catalisador de encrencas.

Foram seis meses tranquilos e foi quando achei que já estava pronta para o que eu deveria fazer, trabalhar com tio Klaus, como ele havia me prometido.

Um dia cheguei em sua clinica e pedi a " minha sala". Não tinha tanto o que ajeitar, a sala era média, tinha um banheiro , uma bancada de mármore com varias gavetas e uma mesa, o resto era por minha conta.

Ainda não tinha tanta experiência pratica, e comecei com os casos mais simples que meu tio ia me encaminhando, passava as manhãs ali em consultas e pela tarde trabalhava em um hospital particular. Comecei também a fazer cirurgias como assistente, ás vezes de tio Klaus, e as vezes de outros médicos.

Ainda não tinha acesso ao " famoso " anexo da clinica, mesmo agora sendo adulta, meu tio ainda não me deixava ver o que tinha lá.

___ Tio, não sou mais uma criança, acho que já posso ver né?!

___ Ainda faltam algumas coisas para serem feitas e então você não vai só ver como também vai me ajudar no que pretendo fazer.

Como eu já disse antes, paciência nunca foi o meu forte, mas não havia o que fazer.

Minha vida já estava bem estabilizada quando me envolvi com Ivana, que era secretária do tio Klaus e passou a ser minha também.

Com ela tudo aconteceu de forma calma, percebi que ela me olhava de forma diferente, entrava sempre na minha sala por qualquer motivo bobo, ou puxava assunto, não era preciso ser gênio para notar que estava interessada em mim, então a chamei para tomar um café, que no dia seguinte virou um lanche, depois um almoço, e então lá estava eu mais uma vez envolvida com alguém, só que dessa vez eu não me sentia morrendo de paixão, como disse era tudo calmo e Ivana me dava a tranquilidade que faltava a minha vida, juro que achei que isso era amor, e pedi para ela vir morar comigo.

Meu tio ficou bem contente quando fomos morar juntas, achava que Ivana era uma ótima influencia em minha vida, tinha que concordar com isso, mas lá no fundo eu sabia que faltava algo nessa relação, porque eu podia imaginar facilmente minha vida sem Ivana, sem ter um colapso nervoso ou achar que ia morrer sem ela.

Pensei que isso se desse ao fato de eu já ser uma mulher adulta, e sem aquelas bobagens românticas que um dia tive, a verdade é que muitas vezes eu sentia que Ivana era mais uma amiga do que uma namorada.

Passamos sete meses juntas, minha vida era corrida e ela sabia disso, mas começaram as reclamações. Ela dizia que eu trabalhava demais, que não tínhamos tempo para ficar juntas, que eu colocava qualquer coisa em primeiro lugar e ela ficava sempre por ultimo, muitas vezes estávamos jantando em algum lugar eu tinha que sair as pressas porque algum paciente meu havia passado mal. Vida de médico e ela sabia que era assim quando começamos a ficar, eu não menti e nem romantizei a coisa toda.

Por fim, um dia tivemos uma briga e ela me deixou. Meu coração não se partiu em pedacinhos, eu não sofri, mas também não queria ficar sozinha,apesar de nosso romance ser totalmente " sem sal" eu não queria desistir assim, então bolei o plano " brilhante estilo Giulia Schneider", eu iria reconquistar Ivana e para isso faria uma tatuagem com a letra " I", quem resistiria a uma prova de amor assim. Brilhante não? Eu deveria escrever um manual do tipo: " Reconquiste seu amor em 10 passos". Sim eu estou sendo irônica.

Foi esse belo plano que me levou à conhecer Wendy Alba.

Uma mente sem lembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora