Viajei sem me despedir de Wendy, sem um telefone se quer, ela queria um tempo e distancia para pensar e era isso que eu estava disposta a lhe oferecer.
Senti falta do seu " bom dia e boa noite " mesmo que fosse só por mensagem, senti falta da sua voz mesmo que só por telefone, sentia falta do beijo maravilhoso que só ela tinha, e como senti falta da sua presença física, isso foi o pior de tudo, pois Wendy não era só minha namorada, era também minha melhor amiga.
Me peguei várias vezes discando seu numero no celular e desistindo de completar a chamada, os primeiros quinze dias sem ela foram um tortura diária, que eu tentava disfarça para que meus pais não notassem. Quem inventou aquele ditado popular " longe dos olhos, longe do coração", provavelmente nunca amou, pois comigo acontecia justamente o contrario.
Tentei me distrair e passar o tempo, por sorte meus pais estavam bem tranquilos e felizes, eu já não recebia criticas ou indiretas e até me perguntaram sobre a minha nova " amiga " Wendy, eles ainda evitavam a palavra namorada, mas eu não importava.
Fui um dia com meu pai até o centro da vila onde eles estavam morando, o lugar era pequeno e tranquilo e ao mesmo tempo charmoso, com casas Enxaimel coloridas, igual os que se viam em filmes de época, adorei o lugar e entendia porque meus pais estavam tão felizes, era sua volta as origens.
Paramos em um bar onde alguns amigos dele estavam jogando skat, um jogo de baralho típico do pais, ficamos um pouco por ali, meu alemão era péssimo, mas o pouco que entendi, foi meu pai dizendo com orgulho aos amigos que eu era médica, foi a primeira vez que vi ele sentindo orgulho de mim e não reprovação quando a minha profissão, só por isso a viagem já teria valido a pena.
Saímos para pescar, eu nunca havia pescado antes, não sabia nem como se colocava uma minhoca no anzol, e confesso que foi divertido, a noite eu caminhava pela cidade para passar e tempo e minha mãe fazia várias comidas maravilhosas e assim o mês foi passando rápido, minha saudade de Wendy não diminuiu nem um pouco, mas consegui aproveitar a companhia do meus pais.
Fui embora cheia de lembrancinhas e chaveiros para entregar ao resto da família e prometi que assim que sobrasse uma folga voltaria para outra visita, nem que fosse um " bate volta".
Avisei meu tio quando ia chegar e ele fez questão de ir me buscar no aeroporto, assim que me viu deu um abraço, estava corado e com o rosto bem animado. Quando entrei em seu carro ele já começou a falar, sem nem me perguntou da viagem ou dos meus pais.
___ Tenho novidades sobre a pesquisa. Quero que você veja com seus próprios olhos.Vou te levar até a clinica.
___ Tio, acabei de chegar de viagem, preciso descansar.
___É só uma olhada rápida.
Acabei concordando, uma parte minha já sabia mais ou menos o que ia encontrar lá, então fui sem temer nenhuma surpresa, nada do que eu já não tivesse visto. Ele estava tão animado que deixei meu cansaço de lado por um tempinho.
Ele me levou a mesma sala em que Eins tinha ficado e arrebentado a cabeça contra a parede, lá como eu previa, havia um outro homem, meu tio havia arrumado outro defunto. Esse era mais jovem que Eins, magro como um caniço, mas diferente de Eins ele não tinha aquele olhar assustado, parecia até bem tranquilo.
Dispensei as explicações redundantes, e só prendi minha atenção aos fatos novos.
___ Já faz uma semana que a cobaia esta ativada.
___ Odeio quando você usa essa expressão. Ele ainda é uma pessoa.
___ Já conversamos sobre isso, não vamos discutir por bobagens.
___ E os seus famosos " testes"? Já começaram?
___ Por enquanto só estou monitorando sua frequência cerebral, e fazendo teste de raciocínio lógico, ele tem uma capacidade incrível, muito maior que um humano normal, consegue fazer contas como se fosse uma calculadora e a tendência e aumentar ainda mais.
___ E a sua memória?
___ Apagada, ele não sabe quem é, de onde veio ou porque esta aqui.
___ Isso parece tão cruel.
___ Ele estava morto, Giu, isso não faz diferença para ele.
___ Bem, se você diz, agora preciso mesmo ir para casa, estou moída.
___ Eu te levo.
Cheguei ao meu apartamento e assim que abri a porta senti o cheiro de casa limpa, como eu não tinha contratado nenhuma faxineira para o mês soube de imediato que Wendy havia passado ali, talvez naquele dia mesmo. Fui até meu quarto e vi que algumas roupas que ela deixava ali ainda estavam no mesmo lugar, ela não havia levado embora.
Não resisti mais, liguei para seu celular, já eram quase 21:00 ela devia estar em casa.
___ Alô Wendy, sou eu, Giulia.
___ Ainda reconheço sua voz. Como está a Alemanha?
___ Cheguei hoje.
___ Já está em casa?
___ Sim.Obrigada pela limpeza.
___ Como sabe que fui eu?
___ Quem mais faria isso por mim?
Fez se um silencio na linha, achei que tivesse caído a ligação, mas então Wendy voltou a falar.
__ De nada.
___ Wendy...sinto a sua falta.
___ Também sinto a sua, muito.
___Posso ir te ver?
___ Meio tarde para você aparecer por esses lados...
Senti meu coração murchar com aquilo, ela nem queria me ver, eu estava pouco me importando com assaltos, eu só queria poder vê-la por um minuto. Então ele completou a frase.
___...Vou até ai. Posso?
___ Claro.
___ Até já então.
Meu coração parecia dançar funk dentro do meu peito, eu suava adoidado e era como se fosse a primeira vez que ia me encontrar com ela.
Corri até o banheiro, tomei o banho mais rápido da minha vida e coloquei um pijama, me sentei na sala e fiquei esperando. Quanto tempo havia passado? Ela estava demorando? Olhei várias pela sacada para ver se ela estava entrando no prédio. Por fim a campainha tocou, respirei fundo e fui abrir a porta.
Ela estava muito mais linda do que eu me lembrava, meu coração se encheu de carinho ainda mais e aquele sorriso de tirar meu fôlego, nem consegui dizer nada, meus olhos estavam turvados por causa das lágrimas que queriam cair. Ah! Como senti falta dela.
__ Oi Giu! Não vai me convidar para entrar.
__ Desculpa, entra.
Caminhou pela sala comigo logo atrás, então se virou, e vem na minha direção, não esperava aquele abraço apertado, nem o beijo que ela me deu, mas amei tudo e retribuiu. Então ela me deu um tapa bem ardido no braço, sem me soltar.
___ Ai, Wendy. O que foi?
___ Nunca mais termine comigo, entendeu? Ou vou te dar outros tapas.
___ Foi você quem terminou comigo. Lembra?
___ Detalhes.
Naquele momento eram só detalhes mesmo e eu estava pouco me importando com eles, dessa vez até o tapa de Wendy foi uma delicia, e eu passei o resto da noite matando saudades da minha garota com cabelos de azuis.
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Uma mente sem lembranças
Ficção GeralO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...