Uma mente sem lembranças

Te Machuquei Muito.

Apesar de meu carro novo, uma picape com quatro portas ser bem espaçoso, eu me admirei dela conseguir dormir ali no banco de trás toda torta daquele jeito.

Assim que liguei o carro ela acordou e ia se levantar. Não deixei, não sabia se meu tio já havia mesmo colocada alguém para vascular alguns lugares e com certeza, apesar da total perda de memória dela, eles iriam em lugares conhecidos, seu emprego, sua casa, meu apartamento, ou talvez alguém estivesse por perto vigiando.

___ Calma, fica abaixada mais um pouco, quero me certificar que ninguém me segue.

Ela se abaixa e cobre com o lençol outra vez. Rodo para várias ruas de forma aleatória, não vejo nada suspeito então decido parar em frente a uma praça para Drei passar até o banco da frente.

___ Já pode passar para a frente agora, não acho que estou sendo seguida.

Ela abre a porta do carro, só que ao invés de vir para o banco do carona, caminha em direção a praça em frente. Eu estava paranoica com tudo,queria que ela entrasse logo no carro para irmos até o hotel, mas eu estava bem lerda e com dor, correr atrás dela era impossível, fui caminhando com todo cuidado no seu encalço.

Paramos perto da parte gramada, ele fechou os olhos e ficou ali, uma brisa soprava de leve naquele momento, era agradável.

___ É maravilhoso doutora.

___ O que?

___ Você não sente esse cheiro? Esse vento?

Eu podia sentir a brisa, mas não sentia cheiro nenhum.

___ Não sinto.

___ Cheiro de grama cortada, terra molhada, é tão perfeito. tão...

Só nesse momento me dei conta de como devia estarsendo incrível para ela, apesar dela saber o que é um vento, grama, som pássaros, as sensações referentes a isso tinha sido todas apagadas, era como se fosse a primeira vez que ela via isso tudo ao vivo. E depois de dias trancadas, como devia ser maravilhoso o vento natural no rosto, no corpo. Me senti tocada, deixei que ela aproveitasse mais um pouco a sua recém conquistada liberdade. Ela mais que ninguém merecia isso depois de tudo que havia passado.

___ Vem cá.

Levei ela até a grama e fiz com que deitasse, que sentisse na pele como era gostoso e fresco, como cheiro ficava mais intenso assim.

___ Obrigada doutora. Ai caramba!!!

Agora ela tinha notado meu olho quase fechado de tanto inchaço. Tocou de leve nele, mas a dor era tão forte que fiz ela tirar a mão.

___ Olha como eu te deixei, isso deve doer muito.

___ Eu estou bem, não se preocupa.

Tentei levantar de forma normal, mas minha costela reclamou, e fiz uma careta de dor. Claro que ela percebeu.

___ Eu te machuquei onde mais?

___ Só no olho, não se preocupe.

___ Levanta a blusa doutora.

___ Eu estou bem , é serio.

Ela vai para cima de mim e tentar levantar minha blusa, quando tentei desviar a dor piorou, não tinha como esconder aquilo, então tive que mostrar, levantei a blusa para que visse.

O local estava bem feio, roxo e inchado, não queria que ela se sentisse culpada por causa daquilo, fiz pouco caso dizendo que não era nada grave.

___ Eu exagerei na força, por isso não queria te bater, isso está horrível, você precisa ir em um médico.

___ Eu sou médica, lembra? E eu digo que vou cuidar disso, agora precisamos ir para o hotel ok.

Voltamos parao carro e ela se manteve calada, ora olhando pela janela, ora me olhando com cara culpada, eu fingia que não via, não queria aumentar a sensação de culpa que ela estava sentindo naquele momento.

Eu já tinha escolhido um hotel não muito grande para onde ir, era bem longe do meu apartamento e também da casa dela e da clinica, fui seguindo a indicação do GPS até chegarmos. Pedi um quarto e fomos colocadas no quarto andar, por sorte o elevador não chacoalhava muito. Assim que entramos eu me deitei na cama, não dava mais pra disfarçar, a dor estava insuportável, eu precisava tomar um analgésico forte e colocar gelo.

___ Agora estou no hotel, você vai em um médico.

___ Mas eu já disse que sou médica, só preciso de gelo e um remédio.

___ Por favor, se você for até um hospital eu vou me sentir mais calma, me sinto culpada e preocupada.

Pensando bem, seria uma boa dar uma passada no hospital, fazer um raio-X e assim poder mostrar para meu tio amanhã, mas pensar em deixar ela ali sozinha não me deixa 100% tranquila.

___ Você promete que não vai sair desse quarto até eu voltar?

___ Prometo, só quero que vá logo ver isso.

____ Eu vou, também vou pedir para trazerem algo para você comer assim que descer. O quer comer?

___ Qualquer coisa.

___ Volto logo. Descanse.

Passei pela recepção e pedi para levarem para ela um lanche, um pedaço de pudim e também duas latas de refrigerantes, então fui até um hospital particular, fiquei esperando até ser atendida e medicada.

Mesmo com toda dor que eu estava sentindo, minha cabeça estava tempo todo pensando em Drei. preocupada por ter deixado ela sozinha.