Uma mente sem lembranças

Porra Ivana!

Segunda feira não é fácil para ninguém ainda mais depois de um domingo maravilhoso. Eu sentia o mau humor por ter que acordar cedo e também me sentia feliz por estar começando um relacionamento com Wendy.

Cheguei na clinica e para minha surpresa dei de cara com Ivana, eu tinha esquecido completamente dela, não lembrei que suas férias estavam acabando. Olhei sem jeito para ela e falei um" bom dia" meio baixo, corri para minha sala.

Não demorou nem dez minutos e ela entrou, me deu um abraço e sorriu.

___ Como vai Giulia? Sentia sua falta, pensei muito na gente, acho que devemos conversar

O que eu poderia dizer? Que nem havia lembrado dela durante o mês todo? Ali no consultório não seria o local ideal para falar sobre isso.

___ Mais tarde Ivana. Agora tenho pacientes.

___ Passo no seu ap depois do trabalho.

___ Tudo bem, manda entrar o primeiro paciente.

Ivana sempre havia sido um pouco lerda, então acho que não notou meu desconforto e frieza, mas não poderia me culpar por nada, pois havia sido ela mesma que terminou tudo comigo ou pediu um tempo o que dava no mesmo.

Eu tinha só quatro pacientes nesse dia, e eram somente retornos, dessa forma acabei rápido, não queria ficar ali e ter que falar com ela, então já fui saindo quando dei de cara com tio Klaus,

___ Bom dia tio.

___ Tem um minuto para falar comigo?

___ Claro tio.

Acompanhei ela até sua sala, esperei que fechasse a porta e sentei em uma das cadeiras. Fiquei esperando enquanto ele pegava dois cafés.

___ É o seguinte, vou precisar viajar para Alemanha, tenho algo importante para resolver por lá, volto em no máximo quinze dias, queria saber se pode cuidar de dois pacientes meus?

___ Se forem casos muitos complicados sabe que ainda não estou pronta para pegar isso sozinha.

___ São casos simples Giu, confio em você.

___ Ok então.

___ Vou pedir para Ivana te passar as fichas então. Falando nela, se acertaram?

Meu tio não costumava se meter na minha vida particular, mas ele realmente gostava de Ivana.

___ Vou conversar com ela hoje a noite, mas tio, o que tínhamos, acabou.

___ Aposto que ainda vão se acertar.

___Bem... peça para ela me entregar as fichas amanhã. Era só isso?

___ Sim.

Dei um beijo no rosto dele, desejei boa viagem e sai da sala. Ivana me acompanhou com o olhar, não sei se esperava alguma palavra minha, mas eu só. queria sair dali e mandar uma mensagem para Wendy.

Almocei em um restaurante por quilo antes de ir para o meu turno no hospital, mandei mensagem para Wendy dizendo que já sentia saudade e ela disse que também, falou que mais tarde me ligava estava no meio de uma tatuagem.

Fiz meu turno no hospital, por sorte nenhuma cirurgia marcada para essa semana, eu sempre me sentia apreensiva em cirurgias, ter a vida em minhas mãos era ao mesmo tempo supremo e assustador.

Quando cheguei ao meu condomínio, Ivana estava ali na entrada me esperando. Mão imaginei que ela fosse chegar tão cedo e nem estava psicologicamente preparada para uma conversa, mas não tinha como evitar.

___ Achei melhor te esperar, trouxe uma garrafa de tequila

Que droga, vários meses de relacionamento e ela não se lembrava que eu odiava tequila.

___ Vamos subir?

Ela se movia com toda naturalidade pelo meu apartamento, enquanto eu tomava um banho, ela abriu a tequila, cortou alguns limões e serviu dois copos na sala. Assim que voltei, já me entregou e tentou me abraçar e beijar, me esquivei como pude e só então ela notou que eu estava diferente,

___ O que foi Giulia? Ainda muito brava comigo?

___ Não Ivana, mas precisamos conversar né? O que tem para me dizer?

___ Senti sua falta, acho bobagem essa nossa separação, quero que fique tudo bem entre a gente.

___ Foi você que quis terminar.

___ Eu me arrependi. Me perdoa?

___ Olha Ivana, sinto muito, as coisas entre nós já não iam bem, e eu conheci outra pessoa nesse mês, estou apaixonada.

Ela me olhava de um jeito abobado como se não tivesse entendido o que eu acabara de dizer.

___ Como assim? Já tem outra pessoa?

___ Sim, já tenho.

Ela veio para cima de mim dando tapas e tentando puxar meu cabelo, parecia uma doida descontrolada, coisa que eu nunca imaginei que fizesse, ela parecia tão centrada, enquanto tentava me estapear ia me xingando de vários nomes, confesso que ela tinha um bom repertório de xingamentos.

___ Sua filha da puta, como pode ser tão volúvel e insensível, eu fico um mês fora e você já arruma uma vadia para por no meu lugar. Quem é a puta? Quero saber que é essa vaca.

___ Porra Ivana, para. Foi você que me deixou, não se faça de vitima agora.

___ Minha vontade é quebrar esse sua cara de pau, arrancar esse seu cabelinho de paquita do inferno.

___ Credo Ivana, calma ai vai. É melhor você ir embora agora, já estou perdendo a paciência.

Ela para de me bater, pega a bolsa e se dirigia até a porta, mas antes joga os copos de tequila no chão e me dá um tapa mega ardido no rosto.

___ Quero que você se foda, quero essa sua nova namorada te faça sofrer muito.

___ Para de jogar praga Ivana e segue sua vida.

Ia acompanhar ela até a porta, mas fiquei com medo de uma novo tapa, quando ela finalmente saiu bateu a porta com tanta força que poderia ter até abalado as estruturas do prédio.

Mas enfim, apesar da dor na cara pelo tapa e um ou dois arranhões ardendo nos braços, tudo estava resolvido, ou pelo eu achava que estava. Agora eu era 100% de Wendy e ela minha.

Cheguei no trabalho no dia seguinte e Ivana estava com cara de quem havia chorado a noite toda, senti uma ponta de culpa,mas ela me olhou com um jeito homicida. Conversamos só o básico sobre o trabalho, acabei demorando um pouco pois tinha que colocar umas fichas em ordem então ela sai antes de mim para o almoço. Quando cheguei ao meu carro, havia um risco escrito " bife de rato" e um espelho retrovisor quebrado.

___ Porra Ivana!!!

Ela era bem mais vingativa do que eu imaginava.