Quebrando As Ilusões

281 41 1
                                    

Acabei tendo pesadelos a noite toda, pela manhã me sentia cansada como se tivesse passado a noite acordada.

Levantei meio "zumbinzando" e fui até a cozinha, Wendy já havia ido embora, mas me deixou café, suco e torradas e um bilhete de bom dia com um coraçãozinho tribal desenhando, até para isso seu lado tatuadora não desligava.

Fui para clinica, eu tinha poucas consultas naquela manhã, e eu só iria para as consultas do hospital a tarde, tinha tempo de sobra, então decidir ir falar com meu tio no anexo. Tinha tomado minha decisão, iria ficar com ele naquela pesquisa, porque se desse certo muita gente seria favorecida, mas eu tinha minhas crenças e limites e se ele passasse muito do que eu achava correto, então eu não o ajudaria e talvez até denunciasse.

Não tinha a chave da porta e a única forma de entrar era alguém abrindo pelo lado de dentro, tive que ligar para o celular de tio Klaus. Ele mesmo veio abrir a pesada porta. Dei um costumeiro beijo em seu rosto.

___Bom dia tio.

___ Bom dia. Você parece cansada. Não dormiu bem?

___Depois de tudo que vi ontem seria meio difícil dormir bem.

___Eu sabia que voltaria, seu lado desbravador não me decepcionaria.

___ Voltei sim, mas já aviso, se tudo isso começar a me incomodar demais, eu saio fora. Ok?

___ Ok Giu. Quer ver Eins?

__ Sim. Como ele está hoje?

___ O mesmo que ontem, vou esperar mais um dia, fazer ressonância e um eletroencefalograma, se tudo estiver bem começo alguns testes.

Sim, eu era bem curiosa,mas toda essa situação bizarra me barrava sobre saber quais seriam esses " testes", minha intuição me dizia para não fazer perguntas antes da hora.

Fui até a sala onde Eins estava, dessa vez ele estava sentando na cama olhando fixamente para frente, para o vidro espelhado, onde ele se via, mas não podia me ver. Tinha algo diferente nele, ontem parecia acuado, assustado, e hoje parecia simplesmente indiferente a tudo, ele nem piscava, só mantinha aquele olhar parado.

Levei um susto quando ele se levantou e caminhou até o vidro, colocou as duas ali, era como se soubesse ou sentisse que alguém o observava, continuei a olhar, e vi quando suas pupilas se dilataram de forma brusca, pareciam enormes manchas negras onde a íris se perdia, o olhar agora era selvagem com se qualquer tipo de humanidade deixasse de existir nele.

Tudo foi acontecendo tão rápido que nem tive tempo de ter um reação racional, em um minuto ele estava ali me olhando com aqueles olhos assustadores e no minuto seguinte ele correu até parede e começou a golpear a própria cabeça, repetidamente e de forma violenta. Vi o sangue começar a brotar de sua testa. Comecei a gritar por ajuda, eu não tinha como abrir a porta e mesmo que tivesse eu nunca conseguiria parar Eins sozinha.

___TIOO!!! CORREE AQUII!!

___ O que foi Giu?

___ EINS!

Não consegui dizer mais nada, só apontei para onde Eins ainda batia a cabeça convulsivamente contra a parede, meu tio correu chamar o ajudante, enfermeiro, carcereiro ou seja lá o que aquele cara fosse ele abre a porta com a chave, mas Eins já estava caído no chão nesse momento, a cabeça tinha vários ferimentos, e uma poça de sangue começa se formar debaixo da sua nuca.

Olhei para o rosto dele, morto mais uma vez e dessa vez sem chance de voltar, os olhos ainda estava, abertos, as pupilas ainda dilatadas mas dessa vez pela morte. Meu tio checou os seus sinais vitais só por garantia mesmo, Eisn estava mesmo morto, o que mais me deixou intrigada era o sorriso em seu rosto, como se ele estivesse feliz por ter acabado com sua vida.

Tio Klaus estava esbravejando algo quando voltei a prestar atenção ao mundo.

___ Que droga, o que aconteceu aqui?

___ Não sei, ele estava ali me olhando e de repente saiu correndo e começou a bater a cabeça na parede.

___ Lamentável, parecia uma boa cobaia.

___ Meu deus tio, porque chama ele assim? Era um ser humano.

___Depois que morreu deixou de ser humano, e passou a ser uma cobaia, entenda isso e tudo fica mais simples.

___ Você não importa com a morte dele?

___ Claro que me importo, agora vou ter arrumar outro corpo, o que não vai ser fácil, vou ter que começar tudo outra vez.

Outro corpo?Ele falava aquilo como se fosse ter que ir até o açougue comprar um quilo carne. Comecei a me perguntar se tinha feito a escolha certa em aceitar trabalhar com ele, mas se ele estivesse mesmo perdendo o juízo, era uma obrigação minha ficar de olho e em ultimo caso impedir que ele fosse longe demais.

Talvez você que esta lendo isso pode estar pensando : " Mas ele já não foi longe demais?"

Bem, talvez sim, mas naquela época eu ainda achava que tudo estava sobre controle.

___ Vai dar certo da próxima vez Giu. Eu só preciso que me ajude, eu já estou velho, talvez não consigo chegar a cabo dessa pesquisa, mas você é minha sucessora, tudo isso também pertence a você, desde quando era criança e me falou de seu desejo de ser médica, eu sabia que você seria a pessoa ideal para dar seguimento ao que comecei.

Me senti de certa forma traída, claro que eu gostava do meu trabalho, mas ele estava agindo exatamente igual meu pai. querendo que fosse sua herdeira, que assumisse suas coisas, que vivesse a vida que ele queria e não a minha vida real.

A cada dia que passava eu ia descobrindo que meu tio não era o herói que eu tanto imaginava.


Uma mente sem lembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora