Se Aventurando

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Aos sábados eu trabalhava só no período da manhã, lá no hospital, o que me deixava com o resto do dia todo livre, que eu ocupava fazendo algo em casa, uma limpeza, compras, roupas para lavanderia, mas nesse sábado eu estava ansiosa, Wendy havia me passado o seu numero de celular, mas disse para ligar somente as 18:00 para marcamos um lugar para sair.

Eu ainda não conseguia acreditar aquela garota toda descolada tinha me chamado para sair. Como da para notar, eu já estava criando expectativas românticas com relação a ela, mas não fazia a menor ideia se o sentimento era reciproco, mas eu sondaria o terreno naquela noite.

De cinco em cinco minutos eu olhava para o relógio, foi uma tortura, porque por mais que tentasse me distrair, toda hora meu pensamento volta para aqueles cabelos de algodão doce. Finalmente na hora combinada, liguei para ela.

___ Oi Wendy, é a Giulia Schneider. Lembra de mim né?

___ Nossa, doutora, eu não sofro perda de memória de curto prazo.

___ Você não perde a chance de fazer suas piadinhas.

___Jamais!!Pode ir se acostumando.Então, me ligou para confirmar nossa saída ou para desistir?

___ Confirmar, mas para onde vamos?

___ É uma surpresa, pode passar aqui no estúdio e me pegar?

___ Que horas?

___ Agora mesmo, te espero. Mas um detalhe, venha de tênis, porque vamos andar um pouco.

Nesse dia comecei a perceber como Wendy adorava um mistério, na verdade com o tempo eu percebi que ela era um mistério ambulante.

Eu não fazia menor ideia de onde ela iria me levar e ela também não me deu dicas, nada além de pedir para ir de tênis. Imaginei que fôssemos caminhar por algum parque, não sabia que roupa vestir, optei pelo básico, calça jeans, uma blusinha regata preta e o tênis. Aproveitei e já troquei o curativo no meu braço onde eu quase havia feito a tatuagem, ainda bem que só ficou um risco fino.

Em vinte minutos eu havia chegado no estúdio, Wendy já me esperava ali fora, tinha duas sacolas de papel pardo na mão. Sai do carro para um cumprimento e ela deixando as sacolas no chão me deu abraço. Que abraço aconchegante ela tinha, não dava vontade de largar.

___ Então, pronta para uma mini aventura?

___ Falando assim você até me assusta. Para onde vamos?

___ Você só vai saber quando chegar lá. Caso não goste, vamos embora, ok?

___ Agora sou eu que vou confiar no seu bom gosto.

Ela colocou as sacolas no bando de trás de meu carro e nem cheguei a ver o que tinha ali dentro, nem perguntei nada, por mais curiosa que estivesse.

Fui dirigindo sempre seguindo as indicações dela, por um tempo dentro da cidade, aos poucos os prédios e lojas iam dando lugar a casas menores, que por fim a paisagem começou a dar lugar ao campo. Entramos em uma trilha de terra com alguma pedrinhas, comecei a ficar apreensiva. Para onde diabos ela estava me levando? E seu eu estivesse errado a seu respeito e ela fosse uma psicopata maluca?

Eu já não me sentia mais a vontade para conversar, me mantinha quieta seguindo suas instruções, então ela me mandou parar o carro, estava escurecendo e não havia nada ali onde paramos. Comecei a sentir uma tensão se formando em meus ombros. Wendy era mais alta e mais forte que eu, então eu descartei uma briga, eu teria que correr se ela tentasse me matar.

___Descemos aqui, doutora.

___ Mas não tem nada aqui.

Não consegui impedir que minha voz saísse tremida.

___ É porque agora vamos andar.

__ Pra onde?

Ela da uma risada, vai até meu carro e pegas as sacolas, e depois tira da bolsa uma lanterna e vai até onde estou. Minha cara de assustada me entregou e nem me importei com isso.

___ Olha só, não precisa ter medo. Me dá um voto de confiança?

___ Ok.

Ela foi até a frente do meu carro, me fez abrir o capô e tirou uma peça de lá dentro.

___ Não passa gente aqui, mas caso passe, isso vai impedir que alguém roube seu carro, sem essa peça ele não anda. Toma, ela fica com você.

Jogou a peça na minha direção, peguei em enfiei no bolso do meu jeans, então começamos a andar, nem sei por quanto tempo, nesse período ela me fazia perguntas sobre meu trabalho, minha família, infância, mas não me dava tempo para perguntas.

Paramos perto de uma cerca de arame farpado, Wendy pulou por cima tomando cuidado para não enroscar a roupa, tentei fazer o mesmo, mas me atrapalhei e acabei caindo, por sorte não rasguei nada. Já estava ficando cansada daquilo tudo, ia pedir para ir embora, quando ela disse que tínhamos chegado.

Nem consegui acreditar no que eu via, não sei como não ouvi o barulho antes, acho que meu medo me deixou alheia a tudo. Ali bem na nossa frente havia uma lagoa com uma cachoeira, não era grande, mas mesmo naquele fim de tarde quase escuro eu pude ver como era linda.

___ Então doutora. Gostou?

___ Caramba, é linda.

___ Faz parte do parque, durante o dia aqui fica cheio, mas depois das 17:00 fecha, lamento te fazer andar tanto. Espero que goste.

Eu tinha adorado, era mesmo perfeita, e ficou mais linda ainda quando Wendy tirou varias velas da bolsa e acendeu pela pedras,também havia trazido queijos e vinho e alguns biscoitos. A luz da velas refletia na agua, aumentando ainda mais o brilho.

Sentamos para comer nas pedras da margem que ainda estavam quentes do sol escaldante do dia. Agora era um bom momento para minhas perguntas, afinal só eu respondi até agora, queria saber muito mais sobre ela, mas meu medo de que ela fosse uma psicopata, sem duvida tinha passado.




Uma mente sem lembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora