Se Eu Tivesse Uma Arma

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Junto com a minha derrota, veio toda aquela sensação de impotência e desespero por não poder fazer nada para ajudar Drei, pior ainda, toda culpa me pesava nos ombros, se não fosse por mim ela não estaria naquela situação, seria mil vezes melhor ter visto ela ficar com outra pessoa do que tudo isso que estava acontecendo, mas eu não tinha uma maquina do tempo para poder voltar e consertar tudo, eu não podia nem consertar o presente.

Parei no bar e comprei uma garrafa de vodca. Eu sei, eu sei, sempre que bebo faço merdas, mas pior do que estava não poderia ficar né, ou poderia? Por via das dúvidas resolvei beber em meu quarto, ali paradinha, sem fazer nada, sem pensar em nada, mas lógico que depois de uns goles eu já estava com minha mente a mil. Fui pegar a notebook dela e tentar mais uma vez descobrir a senha. Claro que seria muito mais fácil levar isso para formatar e desbloquear tudo, mas a minha parte covarde ainda relutava em ver o que tinha ali, então lá vamos nós, senha incorreta, senha incorreta, senha incorreta...até que que cai no sono ou apaguei de bêbada, nem sei ao certo, mas pelo menos não fiz nenhuma bobagem dessa vez ( tentar descobrir a senha do notebook de Wendy não conta como bobagem).

Já tomei tantos porres, queria saber porque a droga do meu corpo ainda não se acostumou com isso, acordei com a cabeça parecendo cheia de alfinetes com vida me torturando com picadas. A garrafa de vodca ( vazia ) caída ao meu lado na cama, o notebook caído do outro lado. Que noite " incrível " pensei comigo mesma.

Fui até o banheiro, tomei duas aspirinas e liguei para minha secretária desmarcando as consultas, hoje eu seria um perigo para qualquer paciente, voltei para cama, me joguei ali e fiquei de olhos fechados sentindo o mundo rodar a minha volta ( quem disse que o mundo não gira em torno de mim?), acabei caindo no sono outra vez.

Quando acordei já eram quase 13:00 horas, minha ressaca havia passado e eu estava faminta. Procurei por algo rápido para fazer de almoço e achei no freezer uma lasanha para o microondas, em um dia normal eu teria achado aquilo horrível e artificial demais, mas eu estava com fome então me pareceu uma refeição maravilhosa.

Antes de ir para a clinica ver Drei, resolvi passar numa livraria e comprar algo para ela ler, meu tio lhe dava livros com exercícios e matemática, não iria se importar de algo mais clássico né?

Fiquei ali andando e totalmente em duvida sobre que livro comprar, me decidi por" O morro dos ventos uivantes" de Emily Brontë,parecia uma boa distração, suspense, drama e romance num mesmo livro. Pensei também em contrabandear um chocolate, mas as câmeras iam me pegar no flagra e eu já estava bem encrencada não havia necessidade de arrumar mais confusão.

Cheguei e fui falar com meu tio.

___ Olá doutor Klaus, não mudou de ideia sobre as minhas visitas né? Vão durar só uma hora?

___ Exatamente.

___Posso dar um livro para ela ler ou isso também é contra as regras.

___ Qual livro?

Tirei o livro da sacola para que ele pudesse ver, olha a sinopse e me devolve.

___ Pode levar, mas nunca entregue nada à ela antes de falar comigo.

___Sim, doutor Klaus.

Minha vontade era dizer: sim, Herr Hitler, mas ao invés de isso deixa-lo ofendido, era bem capaz que considerasse um elogio. Já aproveitei e peguei a toalha, xampu e sabonete para o banho dela, eu tinha só uma hora ali, não dava para ficar perdendo tempo entrando e saindo toda hora do quarto.

Quando Kaio abriu a porta ela estava deitada na cama de olhos fechados, abriu os olhos assim que disse " Oi".

___ Oi Drei.

___ Doutora.

___ Como está?

___ Você não parece muito bem.

___ Só tive uma noite ruim. Então já para o banho?

___ Ainda não posso fazer isso sozinha né?

___ Minha presença te incomoda?

___ Não, só queria um pouco de privacidade mesmo, mas não me incomoda, vamos lá né.

Dessa vez não olhei para ela em nenhum momento, se ela queria privacidade, eu ia fazer ao menos a minha parte para que ela tivesse um pouco. Quando voltamos para o quarto, entreguei o livro.

___ Trouxe algo além de exercícios de matemática para você ler. Espero que goste, eu gostei bastante desse livro.

Ela pega o livro e fica olhando a capa por um momento.

___ O morro dos ventos uivantes? Que nome sinistro. Deve ser legal. Obrigada doutora.

___ Quando acabar me diga se gostou.

Ela coloca o livro na mesinha e fica me encarando, por algum motivo isso me faz corar.

___ O que foi Drei? Por que me olha assim?

___ Nada só acho seu cabelo lindo e seus olhos também.

Aí caralho, senti minhas pernas ficarem tremulas, isso era o tipo de coisas que Wendy me dizia e eu achava que era zoação da parte dela. Mas Drei parecia sincera com quase tudo que falava, ela devia estar achando mesmo, meu cabelo e meus olhos bonito. Devo ter corado mais ainda depois disso.

___ Ah! Obrigada.

___ Eu disse algo errado?

___ Não Drei.

___ Você ficou bem vermelha.

___ Eu sou tímida, não lido bem com elogios, mas não é culpa sua.

Kaio abre a porta para me avisar que eu tenho só mais cinco minutos ali.

___ Doutora Giulia, sem tempo está no fim, cinco minutos.

Suspiro irritada, mas não posso fazer nada.

___ Você já vai?

___ Sim, preciso ir, de agora em diante eu só posso ficar esse pouco de tempo com você.

___Foi por culpa do que fiz ontem né?

___ Não Drei, eu sou medica, preciso atender alguns pacientes na parte da tarde, não é culpa sua.

De novo ela me encara.

___ Você mente muito mal,doutora Giulia.

Não consegui dizer mais nada, mas antes de sair lhe dei um abraço e sussurrei em seu ouvido.

___ Só confie em mim, nunca vou te abandonar, estou sempre te olhando, mesmo não estando aqui dentro.

Então sai, com a raiva me roendo por dentro, se eu tivesse um arma nesse momento, teria matado meu tio com muito prazer.






Uma mente sem lembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora