Minha intenção era deixar Drei mais um dia no hotel até ter certeza que meu condomínio e meu apartamento não estavam sendo vigiados, não que eu fosse muito experiente em saber se alguém me vigiava ou não, meu método era todo cheio de falhas, eu ficava um tempo parada perto da entrada do condomínio, se não visse ninguém estranho parado por muito tempo ali, então estava beleza, eu sei, mão era o método mais confiável, mas era o que eu podia fazer.
Não vi ninguém estranho ou que ficasse por mais de uma hora na mesmo lugar ou andando a esmo, então concluí que estava tudo sobre controle, ao menos por enquanto. Fui até o hotel para contar as novidades à ela e também para dizer que no dia seguinte eu à levaria para meu apartamento.
Assim que expliquei tudo que meu tio havia dito, ela ficou calada e pensativa.
___ Ele disse que eu mesma ia voltar?
___ Sim, não sei como ele pretender fazer isso, mas estou preocupada.
___ Eu não, de maneira nenhuma eu volto para aquele lugar.
___ Amanhã eu tiro você daqui.
Ela pegou na minha mão e me fez sentar na cama, estava séria demais, e tive medo do que ia me dizer.
___ Agora, eu preciso de uma explicação.
___ Já te contei tudo, Drei.
___ Não, você sabe mais coisas, quero que me conte, é um direito meu saber.
Eu não estava preparada para contar tudo, mas estava tão cansada de mentir para ela. Mas o que eu poderia fazer? Ela merecia ao menos saber um pouco da verdade e foi isso que dei a ela, pedaços da verdade, não quero pensar que nesse dia menti, mas omiti coisa que talvez fizesse mal à ela. Ou eu estava somente sendo covarde como sempre fui? Cada um pode me julgar como achar melhor, já me sinto culpada o bastante e mereço cada julgamento ruim ao meu respeito.
___Não sei por onde começar.
___ Que tal pelo começo. O que exatamente eu sou? Por que sou diferente? Como fui parar lá?
Esse bombardeio de perguntas me deixava desnorteada, precisava colocar as ideias no lugar para começar, para mim também não era fácil lembrar de tudo. Optei por uma explicação sem maiores detalhes.
___ Uma coisa por vez. Doutor Klaus fez experimentos em você, é por isso que é tão diferente, tem essa força, pode se curar com uma simples injeção de glicose, tem a mente mais apurada, sei que isso não explica muito, mas eu acho melhor não saber de tudo agora, não sei se está pronta.
___ Isso é pouco, preciso saber mais. Que tipo de experiência? Eu era tipo um rato de laboratório para ele?
___ Não existe um jeito fácil de te dizer isso, sei que é difícil acreditar, mas preste atenção, eu não mentiria sobre algo assim, ok? Tem certeza que quer mesmo saber?
Ela assentiu com a cabeça e se sentou ao meu lado na cama, sem no entanto olhar para mim. Eu sentia um medo atroz que ela surtasse quando soubesse.
___Doutor Klaus passou a vida pesquisando uma antiga experiência nazista, gastou muito tempo e dinheiro com isso, mas por fim conseguiu o que queria, uma máquina que aumentava a capacidade mental das pessoas e dessa forma melhorava todo o resto do corpo. Você foi colocada nesse maquina, assim que sua mente se expandiu, as suas memórias se apagaram, é por isso que não lembra de nada.
___Não entendo, eu aceitei isso? Eu quis ter minhas lembranças apagadas?
Suspirei, agora a parte complicada. Não sei de onde tirei forças para poder falar o resto.
___ Não, você não teve nenhuma escolha, só foi levada até lá. Isso vai te chocar, mas a maquina só pode ser usada em pessoas que morreram.
___ Espera, mas eu estou viva.
___ Sim, a maquina te trouxe de volta. Você morreu e o doutor Klaus te trouxe de volta.
Choque e incredulidade se mesclavam em seu semblante, se alguém me contasse algo assim eu também ficaria nesse estado. Quis levantar e ir até ela, mas algo me dizia para deixar ela assimilar aquilo um pouco.
___ Eu não posso ter morrido, talvez eu estava em coma, e então...
___ Não, eu tenho certeza disso. Você morreu e voltou.
Ela ficou passando as mãos pelos cabelos, provavelmente tentando fazer aquilo entrar na sua mente, e então me olha de forma tão intensa que me fez gelar por um segundo.
___ Por que isso?
___ No começo achei que ele queria alguma novidade que levasse cura a pessoas ou ajudasse, mas depois percebi que era muito mais egoísta, ele esta trabalhando para uma empresa chamada Beta Mind que fabrica armas, eu acho que você seria o nova arma da empresa, se ele conseguisse te deixar submissa o suficiente.
___Isso é doentio e bizarro demais. Como fui parar lá? Quem me levou
Dessa vez tive que mentir, não podia arriscar contar toda a verdade de uma vez só, a verdade é que tinha medo de sua reação, de que ela me odiasse e sumisse.
___ Isso não sei.
Mentir, mentir, mentir, eu já era expert nisso.
___Houve outras pessoas antes de mim?
___ Sim, mais dois.
___ Eu nunca vi eles, onde estão?
___ Já contei bastante, não importa onde estão.
Ela agarra meu braço e me força a olhar nos seus olhos, um olhar de ódio, assustador.
___ Onde estão?
___ Eles não conseguiram, o primeiro se matou batendo a cabeça contra a parede, seu nome era Eins, o segundo, Zwei, tentou fazer igual a você, acessar lembranças, mas diferente de você.não conseguimos fazer ele parar, o cérebro dele não aguentou, é então você, Drei que significa três em alemão, chegou mais longe que todos eles, que qualquer um.
Quando ela se deitou na cama e fechou os olhos, tive medo que fosse fazer igual a Zwei e se auto destruir, mas ela chorou, pela primeira vez e depois de todo tipo de provação que havia passado, ela chorou e eu não soube como consolar, eu não tinha nem o direito de lhe dar um abraço, já que o seu sofrimento era culpa minha. Então ela sussurra algo que me arrasa.
___E você participou e aceitou tudo isso, Giulia. Como pode?
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Uma mente sem lembranças
General FictionO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...