Era muita informação de uma vez para minha cabeça assimilar, aquilo que meu tio me mostrava era ao mesmo tempo fantástico e assustador, meu lado racional ainda se recusa a aceitar que alguém morto voltasse assim a vida e ainda com algum tipo de super poder, eu não sabia o que dizer ou pensar, não tinha nada a ver com religião ou espiritualidade ou algo do tipo, eu me recusa a aceitar que algo tão antinatural fosse mesmo possível, era como quebrar um regra da natureza.
Não precisei pensar muito para saber porque meu tio fazia aquilo escondido, era totalmente anti ético. Imagine, as pessoas já viviam iradas com cientistas que tentava fazer pesquisas com embriões humanos, que seriam jogados fora em alguns anos caso não fossem implantados, e salvariam vidas, pense em como reagiriam se alguém dissesse que está ressuscitando pessoas e ainda que isso era uma continuação de um plano dos nazis. Mas também ao mesmo tempo eu tentava imaginar o bem que isso faria a humanidade, não digo sair revivendo todo mundo, com um pouco mais de estudo seria possível talvez quem sabem curar doenças cronicas incuráveis.
A verdade é que me sentia confusa e divida e também muito curiosa, precisava fazer perguntas para meu tio.
___ Tio, não sei o que dizer, isso não parece certo.
___ Muitas descobertas científicas foram consideradas erradas e no final se tornaram um avanço para a raça humana, vejo por exemplo, quando disseram que a terra era redonda ou o sol era o centro do universo, ou quando inventaram a vacina a partir do próprio vírus enfraquecido e quem imaginava que um dia o homem pisaria de lua? E isso que quero que entenda, o começo não vai ser fácil e tem que ser secreto, até termos resultados concretos.
___ Onde conseguiu esse homem para experiência?
___ Não foi fácil, fiz contato com um legista que trabalha em um necrotério, assim que chegasse alguém dentro dos padrões que queria ele me avisaria. Eins era perfeito, morador de rua, sem família ou amigos que o procurassem , tinha morrido a pouco tempo esfaqueado e seria enterrado com indigente, veja bem, não roubei o corpo de ninguém, paguei por ele e recebi, então fiz todo o procedimento que você viu naquele outro vídeo. Gostaria de ver o vídeo de Eins?
Balancei a cabeça negativamente, não conseguia nem falar direito, estava tão atordoada com tudo que não encontrava o que dizer. Algumas partes da conversa ficavam ecoando de forma insistente em minha cabeça. Necrotério? Comprar corpo? Não tinha ninguém? Choques elétricos.
Comecei a pensar em tio Klaus como uma espécie de Dr. Frankenstein moderno, só esperava que ele não tivesse a mesma loucura do original.
___ A quanto tempo você trouxe Eins de volta a vida?
___ Quase 48 horas, ele esta indo bem. Logo posso seguir com mais experimentos.
___ O que aconteceu com aquele que vi no vídeo?
___ Infelizmente ele não durou mais que uma semana. mas agora temos mais recursos.
___ Isso seria possível em alguém vivo?
___ Não, por algum motivo que ainda desconheço em pessoas vivas só ocorre perda da memória sem nenhum acréscimo a capacidade cerebral, parece que coisa só funciona mesmo com um "renascimento."
A frieza com que meu tio falava tudo aquilo era um contraste da forma que me sentia, não queria no momento saber que tipo de experiências seriam feitas, nem sabia ainda se ia participar de tudo aquilo, mas uma coisas era certa, guardaria o segredo dele, por fidelidade, por tudo que ele já tinha feito por mim.
___Preciso ir embora, é muita coisa pra mim digerir de uma vez.
___ Mas posso contar com você?
___ Eu ainda não sei.
___ Não preciso te lembrar que ninguém deve saber disso, nem aquela sua namorada estranha.
Me senti magoada por ele se referir assim a Wendy, meu tio não havia gostado dela desde a primeira vez que a viu e recíproca era verdadeira, os dois pareciam se detestar. Tio Klaus achava que Wendy não era uma boa companhia e ela achava que ele enchia minhas cabeça de minhocas. Eu teria discutido com ele por chamar Wendy de estranha, mas no momento só queria sair daquele lugar claustrofóbico.
___ Não vou falar nada a ninguém. Preciso ir.
Dei uma ultima olhando em Eins, todo encolhido num canto, com o olhar assustado como se fosse um animal preste a ser atacado e que sabia que perderia a luta, e então sai dali.
Respirei fundo quando me vi do lado de fora, nunca o ar me pareceu tão maravilhoso como naquela hora. Não tinha mais nada para fazer naquele dia, então fui para casa. mas levei comigo na memória a imagem de Eins.
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Uma mente sem lembranças
General FictionO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...