A noite fui dormir no meu apartamento, não queria ficar cruzando com Kaio ou meu tio durante a noite, as vezes Klaus também dormia por ali, eu também queria passar na casa de Wendy e pegar algumas roupas para ela, aquela roupa de hospital não era confortável.
Fui até lá de ônibus, era mais demorado, e assim eu passaria menos tempo em casa quebrando minha cabeça e enchendo elas de minhocas e culpas. Pulei o portão e achei a chaves da portas dos fundos que ficava escondida dentro de um vaso de planta. Respirei fundo várias vezes, não era fácil entrar ali. Passei rápido pela cozinha e sala, quanto menos eu olhasse, talvez menos doeria, mas quando entrei no quarto de Wendy e acendi a luz, foi como se algo tivesse golpeado meu estômago. A cama ainda estava bagunçada com roupas que ela havia usando antes de sair de casa, a toalha pendura em cima da porta do guarda roupa, o chinelo perto da cama, aquilo era tão familiar mas parecia pertencer a um passado tão distante, um passado tão maravilhoso.
Peguei a sua camiseta em cima da cama, ainda podia sentir o perfume, deitei na sua cama abraçada com aquela blusa e não conseguir conter as lágrimas, Wendy sempre se mostrou tão livre, tão independente, e agora eu a tinha transformado em prisioneira. Que tipo de monstro faz isso?
Eu não queria mais ficar ali, doía demais, peguei a mochila e comecei a colocar roupas simples lá dentro, camisetas, blusinhas, shorts, alguns tops e calcinhas, já estava para ir embora, quando decidi levar o vidro de perfume, talvez ela gostasse, fui até sua penteadeira, e me deparei com nossa foto juntas, meu coração se comoveu quando vi que ela não havia jogado a foto fora, ela ainda mantinha no mesmo lugar, peguei a foto fiquei olhando, nesse dias tínhamos ido a praia e eu estava muito vermelha, mas também muito feliz, dava para ver a felicidade no meu olhar, fui colocar a foto no lugar e esbarrei no seu notebook.
Aquele maldito notebook que tinha os segredos dela, sentei na cama com ele no colo, por vários minutos fiquei em duvida se olhava ou não, claro que minha curiosidade venceu, e claro o maldito tinha senha. Tentei sua data de aniversário, senha incorreta, tentei o nome do estúdio, senha incorreta, tentei seu nome completo, senha incorreto, até por puro masoquismo tentei meu nome, senha incorreta. Bem, que se fodesse essa senha, seja lá o que tivesse de importante Wendy já tinha esquecido, sei que foi um pensamento mesquinho, mas não pude evitar. taquei o notebook dentro da mochila também e levei para casa, nem sei porque fiz isso, já que não tinha a intenção de mexer mais nele.
Tranquei tudo e fui embora, o ônibus não demorou muito para passar, cheguei em casa psicologicamente exausta, tomei um banho e me joguei na cama, apaguei em menos de cinco minutos.
Era preciso colocar uma rotina em minha vida até para que eu não enlouquecesse de vez. Me dispus acordar as 6:00 horas, nadar por uma hora,tomar café e ir para a clinica na parte da manhã, a parte tarde eu ficaria no anexo com Drei, dentro do possível isso era o que dava pra fazer no momento, por sorte minha perna havia parado de doer.
Quando voltei ao meu apartamento, estava tão cansada que nem me importava de ir dormir sem comer, não tinha um pingo de fome, só queria deitar e apagar, mas meu interfone toca. Era o porteiro.
___ Oi Seu Joquim,
___Boa noite doutora Schneider, tem um policial aqui embaixo querendo falar com a senhora.
Policia? Meu estômago deu uma cambalhota nessa hora, eles sabiam o que havia acontecido, já deviam ter prendido meu tio, agora vinham me prender. Fugir? Eu estava no 15 andar, fugir só pulando da janela, não era uma opção. Me resignei. Seria presa, meus pais teriam mais um desgosto comigo. E o que seria de Drei depois? Quem cuidaria dela?
___ Pode deixar ela subir Seu Joaquim.
Fiquei esperando a campainha tocar, como demorava. Será que ele estavam vindo pela escada ou só queria me torturar? Finalmente toca, respiro fundo antes de abrir a porta.
___ Boa noite. Giulia Schneider?
___ Sim.
___ Sou o detetive, Alberto Godói. Posso entrar um minuto?
___ Claro, a vontade detetive.
Indiquei o sofá para que ele se acomodasse e fiquei esperando.
___ Bem, tivemos uma queixa na delegacia, Wendy Alba não é vista alguns dias e não tem ido ao trabalho. Soubemos que vocês duas eram bem amigas.
___ Namoradas para ser mais exata, detetive.
Ele devia ser do tipo homofóbico, torceu o nariz quando disse " namoradas".
___ Sabe alguma coisa a respeito do seu sumiço.
___Não sei, estávamos separadas.
___ Mas você foi vista saindo com ela de um bar.
___ Sim, alguns dias atrás, mas conversamos, brigamos e ela disse que iria para casa.
___ Não fica preocupada com seu sumiço?
___ Não, Ela as vezes sumia assim. Lamento detetive, mas não tenho como te ajudar.
___ Conhece algum parente dela?
___ Não.
Ele ia anotando tudo num caderninho de notas e eu me impressionei com minha cara de pau e calma em responder com tantas mentiras.
___ Bom, é isso, qualquer coisa que souber nos avise, ok?
___ Boa noite detetive.
Assim que ele foi embora pude respirar mais aliviada, pelo menos eu não tinha sido presa.
Me joguei na cama e apaguei de imediato.
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Uma mente sem lembranças
General FictionO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...