Teste Bizarro

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A segunda e terça feira se arrastavam lentamente, e então finalmente chegou a tão esperada quarta feira, desde o dia que tio Klaus havia dito que vinha me buscar para um passeio, eu não havia conseguido me concentrar em mais nada. A hora parecia não passar, cada vez que olhava no relógio que tinha na parede de minha sala de aula, ele parecia andar para trás, não consegui entender porra nenhuma do que a professora dizia e quando o sinal de saída finalmente tocou, eu sai correndo tão rápido que quase derrubei minha professora.

Enquanto saia do colégio, senti uma certa apreensão. E seu tio Klaus tivesse mudado de ideia e não aparecesse? Diminui o passo com medo de sair ali fora e não encontrar ninguém me esperando. Então meu sorriso se abriu de orelha a orelha, lá estava ele me esperando parado em frente ao seu carro. Corri até lá.

___ Oi tio.

___ Ora ora, então você decidiu ir mesmo?

__ Sim. Quando vamos?

___ Antes vamos comer alguma coisa. Não quero você desmaiando no meio do passeio. Ok?

Eu não tinha um pingo de fome, mas resolvi não contrariar tio Klaus, tive medo que ele mudasse de ideia a qualquer momento.

__ Ok, tio.

___ O que disse para seus pais?

___ Que precisa ir na casa de uma amiga fazer um trabalho do colégio, foi fácil, nem tive que dizer aos pais, só a minha baba.

___ Você ainda tem uma baba?

Senti meu rosto corar naquela hora, realmente, alguém de 10 anos não devia ter mais uma baba, mas eu ainda tinha, não soube o que dizer, então preferi me manter calada. meu tio era bem esperto e percebeu meu constrangimento, mudou de assunto na hora.

Passamos no McDonald's e ele comprou um Big Mac, com fritas e refrigerante, que eu devorei, acho que só me dei conta que realmente estava com fome quando vi aquele lanche quentinho na minha frente. Mas um ponto pro tio Klaus, meus pais não me deixavam comer esse tipo de porcarias nem a pau.

Assim que acabei de devorar meu lanche, ele quis saber se estava pronta.

___ Então vamos lá. Vou te levar até um museu, isso vai ser tipo um teste, se você não passar, pode desistir de querer cursar medicina.

___ Ok tio, eu vou passar no seu teste.

___ Veremos então.

Rodamos de carro pela cidade, como sempre o transito estava caótico nesse horário e meu senso de direção pior ainda, não tinha menor ideia de onde estávamos, mas confiava no meu tio.

Ele parou carro no estacionamento de um prédio pintado de marrom com muitas janelas escuras. Então consegui ler a placa ao lado da porta assim que caminhamos para lá: Museu de anatomia humana.

Tio Klaus me pegou pela mão e levou para dentro e ele ainda me perguntou mais uma vez se eu estava certa sobre aquilo. Claro que eu estava certa daquilo, não devia ter nada tão ruim assim ali dentro né. O que poderia ter de tão assustador assim? Logo eu descobriria.

Por dentro ele era todo pintado de branco, com um piso marrom claro bem lustroso, muito bem iluminado, parecia um hospital, logo na entrada dei de cara com varias prateleiras brancas, ainda não tinha me dado conta do que havia nos frascos ali naquelas prateleiras, quando cheguei perto o suficiente senti o lanche se revirando dentro do meu estômago.

Dentro daqueles frasco haviam pedaços de corpo humano e orgãos humanos. Vi um coração boiando em algum tipo de liquido amarelado. um pulmão, rins, fígado. meu tio ia explicando sobre cada orgão, o nome e a função.

Tenho que admitir que por mais interesse que tivesse naquilo tudo eu não conseguia prestar atenção em quase nada que ele dizia, minha única preocupação naquele momento era tentar manter meu lanche quieto dentro do estômago,

Passamos por um boneco de cera com o corpo humano todo retalhado, parecia que alguém havia pego um corpo e arrancado a pele e fatiado parte dos músculos. Depois fomos até parte dos ossos. Muitos crânios de todos os tamanhos, femurs, ossos do braço e perna. Essa parte até que foi tranquila, depois do choque inicial.

Fomos para área onde ficava os fetos, nessa hora tive quase certeza que não passaria no teste de tio Klaus, senti a bile subir até a minha garganta e voltar, tentei não prestar muita atenção naqueles corpinhos minúsculos e deformando nos vidros, mas era impossível, por fim chegamos na parte que ele considerava a melhor de todas, muitos cérebros dentro de potinhos de vidros.

___ Essa é minha área favorita, é com isso que trabalho. Você queria saber mais sobre o que eu faço, então aqui esta.

Ele apontou para um pote onde havia um cérebro boiando, parecia uma noz gigante.

___ Isso aqui Giulia, é centro de todo corpo, é onde os antigos imaginavam que a alma residia, e não é para menos, tudo na gente é controlado por esse órgão, sua respiração, seu olhar, sua pulsação, tudo tudo mesmo no seu corpo só vai funcionar bem se isso estiver bem. Mente sã, corpo são. É meu trabalho manter isso aqui funcionando bem, e também descobrir formas de melhorar a vida de pessoas com doenças neurológicas. Sabia que o ser humano só usa 10% de toda capacidade do cérebro? Pois é, um dia ainda vou descobrir uma forma de aumentar esse potencial.

Os olhos do tio Klaus brilhavam enquanto me contava tudo aquilo, e naquele momento eu sabia com toda certeza que havia passado no bizarro teste dele, sim bem bizarro, afinal de contas quem leva um criança de 10 anos para ver essas coisas. Mas ao mesmo tempo que me chocou, tio Klaus também me fez ver como o meu futuro poderia ser. Agora era uma certeza, eu seria uma medica e trabalharia com ele para salvar e ajudar pessoas e ninguém me faria mudar de ideia.

Quando estávamos já fora do museu, meu tio colocou a mão em meu ombro.

___ Parabéns Giu, você passou no teste. Agora vou te mostrar muitas outras coisas.




Uma mente sem lembrançasOnde histórias criam vida. Descubra agora