Finalmente me formei, e queria um tempo de folga antes de voltar aos estudos e me especializar.
Meu tio insistia para me mudar logo para os Estados Unidos e começar a pós, mas eu tinha 25 anos e queria ao menos descansar por seis meses, esquecer a minha ultima decepção amorosa e curtir umas baladas.
Como sou do tipo teimosa, fiz o que queria e não os outros queriam, meus pais também eram da mesma opinião que meu tio,um fato raro alias eles concordarem em algo, antes não me queriam médica, agora queriam me ver totalmente formada o mais rápido possível. Pais, quem entende eles?!
Me pressionavam e como de costume a pressão me levava justamente para o lado oposto.
Mudei para São Paulo, para o apartamento que havia ganhando de tio Klaus, presente de formatura, mais uma vez salve o dinheiro. Era pequeno, quarto, sala, cozinha, área de serviço e uma sacada com visão maravilhosa, eu podia ver o por do sol todos os dias sem que os prédios ao lado obstruíssem minha vista.
Vendi todos os móveis do apartamento de Campinas, não queria nada que me lembrassem Valentina, e desocupei o apartamento, comprei tudo novo para o apartamento de São Paulo, e então tirei folga da vida, nada de estudos, nada de trabalho e nada de sair de casa.
Tinha decido me divertir, curtir um pouco, mas estava tão deprimida que acordava de manhã, tomava um café e voltava para cama, passava o dia todo de pijama ouvindo musicas depressivas, assistindo filmes e comendo porcarias. Minha depressão era tanta que não sentia nem vontade de ler, um dos meus passatempos favoritos sempre que tinha tempo e eu tinha muitooo tempo sobrando nessa época.
Meus pais as vezes me visitavam e eu ia de vez em nunca na chácara dos meus avós, que já haviam morrido a pouco tempo, mas continuava sendo um lugar para " reuniões de família".
Tio Klaus era o único que me arrancava de casa nesses dias, me levava no nosso Café favorito e dizia para me divertir ou recomeçar os estudos de uma vez, ele se preocupava com minha saúde mental e era bem insistente quando queria.
Aos poucos fui saindo daquele estado quase vegetativo, passei a me exercitar e alimentar melhor, eu havia emagrecido muito e minha pele branca agora estava quase transparente por falta de sol. Passei a fazer um pouco de natação na piscina do condomínio, isso me deu alguns músculos extras e um corzinha mais saudável.
Quando me dei conta, os seis meses que eu havia estipulado como " férias " tinham passado, e decidi viajar e retomar meus estudos, apesar das lembranças de Valentina e a dor e tristeza que isso me causavam. Pensei que talvez uma mudança radical de vida me fizessem melhorar de vez.
O que veio a seguir não sei se dava para definir como melhora ou piora.
Arrumei todas as coisas necessárias, visto de estudante, passagem, um alojamento, minha mala com coisas básicas e parti para Nova York, já havia feito minha inscrição para o doutorado na CUNY (Center Of The City University Of New York). Dessa vez não queria alugar um apartamento, só queria um quarto em algum tipo de pensão que servisse almoço e jantar, eu não tinha menor intenção de cozinhar, mas também não queria voltar a ter uma alimentação ruim.
Meu nível de inglês não era maravilhoso mas era suficiente para me comunicar, com o tempo fui aprendendo gírias o que facilitava bastante a comunicação.
E lá fui eu para minhas primeiras aulas, que foram péssimas, eu não conseguia me concentrar, não sentia vontade estudar, minha vida parecia sem sentido, eu já era uma médica, mas toda minha vontade de ajudar pessoas e salvar vidas tinha sumido, eu era um vazio sem nada que me animasse.
Então conheci Joshua. Ele morava no mesmo alojamento que eu, um dia nos trombamos, ficamos amigos e não desgrudamos mais. Joshua, na verdade chamava Josué, mas estava se "americanizando", como ele gostava de dizer, era alto, magro, com um cabelo castanho estiloso e uma franja maior que a minha, e era gay, o que ajudava, porque ele não dava em cima de mim e vice versa.
Passamos a sair bastante juntos, ele me apresentava a vários lugares badalados, muitas boates LGBT, muita bebida e drogas. Não me viciei em drogas, apesar de provar algumas, mas me deixava levar pelas bebidas, não preciso dizer que isso tudo não era compatível com meus estudos, foi quando deixei os estudos de lado e me entreguei aquela vida desregrada.
Não apareci mais na CUNY, troquei o dia pela noite, passava quase todos as noites em baladas e dormia durante o dia, o dinheiro que meus pais mandavam era gasto nisso. Passei também a sair com todo tipo de garota, não importava se era gorda, magra, branca, preta, bastava me querer. No dia seguinte eu mal lembrava o que tinha feito, quanto mais o nome da menina com quem havia ficado. Não foram raras as vezes que acordava ao lado de uma completa desconhecida, dava um bom dia e mandava ela embora.
O lado bom foi que me fez esquecer Valentina, o lado ruim, a maior parte do tempo eu me sentia um lixo e sozinha, mesmo tento companhia toda noite.
Era como de costume muito fácil enganar meus pais, já que só nos falávamos por telefone, eu sempre dizia que tudo ia bem e os estudos uma maravilha, mas era outra coisa tentar enganar tio Klaus, ele fazia perguntas especificas que eu deveria saber responder, mas não sabia, então passei a não atender mais suas ligações, achando que assim ele me deixaria em paz, como se eu não conhecesse a teimosia dele.
Não sei por quanto tempo imaginava que iria levar esse tipo de vida, mas no momento eu não importava com nada, só ia empurrando com a barriga. Era final de ano, festas se aproximavam, Ação de Graças, Natal, Ano Novo e eu já pensando em como isso seria divertido, só que alguns dias antes do feriado de Ação de Graças, tio Klaus me ligou.
Ele estava no aeroporto de J. F. Kennedy em Nova York pedindo para que fosse até lá buscá-lo. Senti raiva. Como ele chegava assim sem avisar nem nada? Mas não tive outra opção além de ir até lá e trazer ele para meu alojamento.
E justiça seja feita, por mais uma vez tio Klaus me salvou do caos.
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Uma mente sem lembranças
Ficción GeneralO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...