Passei novamente a noite toda ali, no mesmo quartinho de antes ao lado do quarto em que Kaio dormia, meu tio foi para casa, o que achei um alivio, já estava ficando difícil conviver com ele, a cada dia eu descobria uma nova faceta ruim sua. Quase não dormi, acordava o tempo todo para ver se ela estava bem, se estava tendo uma nova crise, mas ela teve uma noite tranquila, pelo menos todas as vezes em que fui olhar ( e não foram poucas) ela dormia calmamente.
De manhã encontrei Kaio na cozinha acabando de aprontar um café.
___ Ok Kaio, deixa que eu mesma levo para ela.
___ Preciso da autorização do doutor Klaus.
___ Tem a minha que é a mesma coisa. Eu me entendo com o doutor Klaus depois.
Peguei a bandeja de suas mãos, acrescentei mais algumas torradas, suco de laranja e uma maçã.Me perguntei se queriam matar ela de fome, quem sobrevive pela manhã só com um copo de leite puro e quatro biscoitos agua e sal?
Kaio abriu a porta resmungando e com uma má vontade enorme. Não me importei. Fui até a mesinha perto da cama onde Drei dormia e coloquei a bandeja ali. Com cuidado tentei acorda-la. Ela não acordou tão tranquilamente quanto eu desejava.
Sentou rápido na cama e agarrou meu pescoço com aquele olhar assustado, tive um deja vú de Zwei tentando me estrangular, quando falei minha voz mal saia, tinha certeza que se Kaio estivesse vendo, não ia mexer uma palha para me salvar, eu estava por conta própria.
___ Calma Drei, sou eu, doutora Gulia. Lembra?
Graças a Odin o aperto no meu pescoço vai se afrouxando, até ela soltar.
___ Desculpa, eu me assustei.
___ Tudo bem, eu devia ter deixado você acordar sozinha. Trouxe seu café da manhã. Está com fome?
Ela assente e eu coloco a bandeja com a comida ao seu lado na cama, juro que nunca havia visto alguém comer com tanta voracidade e prazer, bom ela estava a três dias sem comer, o que eu esperava?
___ Como se sente? Sua dor de cabeça passou?
___ Sim, passou, mas não sei dizer como me sinto.
___ Me diga o que acontece?
___ Não sei quem sou ou o que me aconteceu, e isso me assusta.
Eu detestava ter que mentir para ela, mas contar a verdade naquele momento estava fora de cogitação, ainda mais agora que eu precisava desesperadamente que ela confiasse em mim. Como ela iria confiar em alguém que havia provocado a sua morte? Pior como eu explicar que ela tinha morrido e voltado toda desmemoriada e com uns trecos estranho na mente? Não podia então improvisei do jeito que deu.
___ Você sofreu um acidente, bateu forte com cabeça e perdeu a memória, estava num hospital e como não tinha família foi trazida para cá, vamos tentar arrumar suas lembranças.
___ Então você não sabe quem eu sou?
___ Não sei, me desculpe. É tudo que posso te dizer, só peço que confie em mim. ok? Vou fazer tudo que puder para te ajudar, mas precisa me ajudar também e seguir fazendo o que digo, e pra começar, não force suas lembranças, já disse isso ontem, e repito, certo?
___ Não vou forçar, foi bem desagradável e dolorido.
___ Quer mais alguma coisa para comer?
___Acho que mais suco seria ótimo..
Ela fala isso de um jeito todo tímido como se comer fosse alguma vergonha.Aquilo me fez dar um sorriso involuntário.
___ Vou arrumar mais suco então. E que tal um banho?
___ Um banho também seria muito bem.
___Ok, vou pegar o que precisa, roupa, sabonete, xampu, tolha...
___ Acho que dispenso o xampu.
Diz isso passando a mão pela cabeça, não resisto e passo a mão também, e já sinto o despontar de alguns fiozinhos em sua cabeça.
___ Parece que logo vai ter uma cabeleira ai. Então só por garantia, trago xampu sim. Serviço completo madame. Já volto.
Peço as coisas para Kaio, por sorte eu tinha algo no meu quartinho improvisado, não queria que ela ficasse com aquelas roupas tipo hospitrl, iria trazer algumas roupas antigas.
Kaio traz as roupas e a pega pelo braço para levar até o banheiro.
___ Hey Kaio, o que vai fazer?
___ Ela não tem permissão para um banho sozinha.
___ Ah não? Então eu cuido dela, agora vai.
A cada dia que passava Kaio gostava menos de mim e não fazia a mínima questão de esconder isso.
___ Ok Drei, para o banho.
Ela tira a roupa na minha frente sem a menor cerimônia, eu não consigo deixar de ficar maravilhada com seu corpo, todas as tatuagens haviam sumido, aquela cicatriz nas costas também, a pele ainda tinha aquele tom eternamente bronzeado.Cacete como ela era linda. Falei a primeira bobagem que me veio na mente, eu só precisava de algo pra quebrar um pouco aquela fascinação.
___Desculpe ficar aqui, mas é para sua segurança.
___ Tudo bem. Antes você que é medica e só vai me olhar com olho clinico, do que o Kaio.
Senti meu rosto corar, se ela soubesse quão "clinico" era meu olhar naquela hora, ia me fazer sair do banheiro rapidinho.Tentei desviar os olhos para outro canto enquanto ela tomava o banho, mas eles teimavam em se voltar na sua direção. Quinze minutos maravilhosamente torturantes, até ela terminar e se vestir e voltarmos para o quarto.
___ Bom, acho que agora está tudo ok? Mais tarde trago seu almoço.
___ Obrigada doutora.
Aquele " doutora" me fez lembrar de quando havíamos nos conhecido e ela só me chamava assim, mais um aperto no meu coração e a vontade de chorar me pegando outra vez.
___ De nada. Amanhã trago algumas roupas para você.
Sai do quarto ofegante e tentando me manter calma, Kaio já estava a postos para trancar a porta e meu tio me observava com o olhar sombrio.
___ Cuidado Giulia, ela chegou mais longe que os outros, é importante demais para você estragar tudo.
___ Ela também é importante para mim, doutor Klaus, muito mais do que pra você.
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Uma mente sem lembranças
General FictionO que você faria se todas as suas lembranças fossem apagadas? Meu nome é Giulia Schneider, minha vida sempre foi cheia de reviravoltas, mas nenhuma tão radical como quando, conheci Wendy Alba ou quando a matei. Se tiver paciência para me acompanhar...