#CAPÍTULO 4#

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Ariella Young

Todos os dias que acordo na casa da minha mãe se torna especial para mim. Vivo e aproveito os mínimos detalhes. A vida é muito curta para ser desperdiçada. Aproveito tanto cada pedacinho do meu dia, que até o cobertor que durmo estou admirando, o cheiro da casa, o cheirinho de café que minha mãe faz, a cantoria dos pássaros. Estou feliz por ter voltado, muito feliz. Fui para a França com medo de encarar as novas as oportunidades, e mesmo acontecendo situações que me afetaram de uma maneira dolorosa, voltei de cabeça erguida, amadurecida, agradecida e renovada. Parece que tudo aconteceu tão rápido.
Levanto-me da cama com cuidado para não acordar a Lucy que continua dormindo tranquilamente parecendo até a princesa Bela Adormecida. Calço meu chinelo rosa enquanto a observo. Caminho até a varanda bocejando com uma vontade de voltar a dormir mais um pouquinho. O dia continua nublado com bastante frio, e o mar parece mais agitado do que ontem. Olho para o quarto vendo minha mala da viagem que ainda continua cheia de roupa. Fiquei com tanta preguiça que deixei do mesmo jeito desdo dia que cheguei aqui. Me aproximo da mala a passos curtos, e me agacho em sua frente para tirar algumas roupas, maquiagens, hidratantes que esqueci... Quando noto no primeiro bolso a carta que o Nicolas escreveu para mim antes da minha viagem para a França. Nossa! Eu ainda não abrir. Na verdade não sentir precisão de ler. Será que vejo agora? Fico pensando durantes alguns segundos.
- Acho melhor esperar mais um pouco. - Murmuro, guardando a carta dentro da gaveta do closet.
- Falando sozinha, amiga? - Escuto Lucy perguntar deitada na cama com os olhos fechados. Sorrio.
- Sim. As vezes penso em voz alta. - Respondo, dando risada.
- Também faço isso, mas não me responda, pois eu vou voltar a dormir de novo.- Lucy sussurra, ficando em silêncio. Logo desconfio que o sono a venceu mais uma vez. Tiro todas as roupas da mala e aproveito para dobrar algumas roupas quando escuto vozes vindo no andar de baixo. A pessoa parece falar com um tom de voz elevado, já que consigo ouvi-la. Coço os olhos devagar, e saio do quarto vestindo um casaco preto rapidamente para da uma conferida. Passo pelo corredor um pouco sonolenta, e paro no topo da escada com as mãos no corrimão me deparando com a Ivy na sala conversando com a minha mãe. Fico surpresa pela sua visita repentina. Desde a minha chegada fui completamente evitada, ao invés de falar comigo que sou sua melhor amiga ela falava com a Lucy ou o Nicolas. Fico de boquiaberta. Seus olhos encontram os meus, e percebo seu sorriso se desfazer dando lugar para uma expressão séria. Minha mãe segue o seu olhar e na inocência abre um sorriso largo como todas as vezes quando a Ivy me visitava. Era sempre desse jeito. Com declarações de amor uma para a outra, abraços, sorrisos, gritaria... A gente amava ficar juntas, porém isso foi se perdendo gradativamente. Não da minha parte. Tentei está presente em cada momento da vida dela mesmo estando distante. A Ivy me evitou de todas as formas, mudou e parou de falar comigo sem motivos. Vê-la aqui me causa uma tristeza imensa. Tínhamos uma amizade incrível, linda, éramos como irmãs... Ter a consciência que esse laço se desfez sem motivo nenhum torna ainda mais doloroso se de fato existisse alguma coisa. Desço a escada em silêncio, percebendo a tensão no ar. O clima muda drasticamente.
- Vou molhar as flores do jardim.- Minha mãe avisa, nos deixando a sós. Engulo em seco. Estou nervosa. Ivy da um passo na minha direção com os braços abertos para me receber. Ergo a mão na sua direção a fazendo parar. Tem um tempo que cheguei, ela viu a Lucy, o Nicolas e não me visitou. Sumiu praticamente, e agora vem me abraçar com falsidade? Não, não, não. Não consigo disfarçar.
- Não perca seu tempo fazendo isso. - Digo encostando-me no corrimão.
- Como assim, Ariella? Não estou perdendo tempo. - ela me olha confusa.
- Vou refrescar sua memória. - eu disse, descendo os degraus devagar.
- Refrescar? - Ivy franze a testa.
- Para de agir como se nada tivesse acontecido. Você praticamente sumiu, passei por muita coisa, precisei de você... E cadê? Só falava com o Nicolas e a Lucy. Você pensa que não sei que você rejeitava as minhas ligações menos a dele? Todo esse tempo que estive na França você praticamente sumiu dá minha vida, mas estando presente na vida das outras pessoas que nem eram importantes para você, pelo menos era o que eu achava. Vai fazer alguns semanas que cheguei de viagem e você não veio me ver. Nem falar comigo no whatsapp direito falou. Me ignorou totalmente. - retruco, sem pausa parando em sua frente com um semblante sério.
- Você não é a única a ter problemas, Ariella. Eu também tive os meus, e um mais sério do que o outro. - ela diz, incrédula.
- Não estou falando em relação aos problemas, porque eu sei que não sou a única do mundo. Só que não venha com essa desculpa para cima de mim. Você falava com o Nicolas praticamente todos os dias.
- Eu não te excluir. Só não queria descontar a minha raiva em você.
- Sério? Então usou o Nicolas como saco de pancadas? O escolheu para descontar a sua raiva? - indago, com as sobrancelhas arqueadas. Ivy da uma risada triste, e da um passo na minha direção sem palavras. Olhamos uma para outra. As coisas mudaram porque ela permitiu que isso acontecesse. Fui afastada sem míticos, e até agora tento entender o porquê.
- A minha amizade com o Nicolas aconteceu de maneira inesperada.- ela explica, com os olhos fixos no chão. Assinto.
- Que interessante. Você o colocou acima de nós, o procurou quando precisava, ligava para ele a todo momento sendo que a e gente se conheceu bem antes. Somos amigas de anos, Ivy... Anos! Sempre nos ajudamos, independente dá situação mantínhamos a união, mas você preferiu me excluir. Falava com todos, menos comigo. O que eu fiz pra você? - Pergunto quase gritando. Ela se assusta.
- Mantenha calma que não estou alterando a minha voz, não altere a sua, Ariella. - Ivy adverte.
- Eu vi você e o Nicolas no restaurante ontem... O que foi aquilo? Algum encontro? - perguntei com os braços cruzados.
- Está com ciúmes? - ela franze a testa.
- Não quero entrar nesse mérito. Isso não tem nada haver com ciúmes. - retruco.
- Eu não vim aqui brigar com você. Muito pelo contrário, quero apenas conversar. - reviro os olhos.
- O que espera? Um diálogo de irmandade com direito a café, biscoitos e abraços? Desista. Não sou idiota.- eu disse, caminhando pela sala.
- Não estou pedindo que seja assim, mas eu preciso conversar.- Ivy diz gesticulando.
- Não adianta se justificar. Não quero ouvir desculpas que estava com problemas e blá blá blá, você faz e anda com quem quiser. Só queria realmente entender o que eu fiz para tal afastamento. - dou de ombros.
- Estou sendo sincera. Quero muito contar o motivo, mas...
- Ah, então existe um motivo?- arqueio a sobrancelha dando risada irônica. Ela me fita nervosa, e passa a mão no rosto permanecendo em silêncio. Escuto passos na escada e viro o rosto vendo Lucy descer a escada com os olhos arregalados.
- O que está havendo aqui? - Ela pergunta, com uma voz sonolenta.
- Vim apenas conversar com Ariella, mas esta impossível.- Ivy responde, gesticulando.
- Impossível foi o que passei... A idiota aqui tentava entrar em contato com você, perguntava pra Lucy por preocupação, enquanto você apenas me ignorava falando com todo mundo. - eu disse, irritada.
- Meninas, calma. Desse jeito não vai levar a lugar nenhum, vocês precisam sentar e conversar. - Lucy aconselhou ficando entre nós.
- Você não entende, Lucy. - Digo, balançando a cabeça em negação.
- Amiga eu entendo que você esteja chateada com o afastamento dá Ivy, mas tente ouvi-la, entender o...- Lucy tenta ajudar.
- Entender porra nenhuma, amiga. Eu quase fui morta, passei por uma situação complicada e mesmo que eu estivesse bem dá vida. Tentei entrar em contato com ela, liguei várias vezes e só fui rejeitada. Por que agora eu tenho que ouvir? Não quero mais. Dane-se! - grito, estressada.
- Você não precisa gritar, Ariella. - Ivy fala, alterando a sua voz.
- Eu falo como eu quiser.- eu disse, sem encara-lo. Alguém bate na porta interrompendo a discussão, e olho para a Lucy que caminha em direção a porta. Solto um suspiro, e sento no sofá cabisbaixa. Depois de tudo que aconteceu na minha vida, parece que me estresso mais que o normal. Meu temperamento não era tão explosivo assim. Lucy volta para a sala acompanhada. Ergo a cabeça lentamente, vendo Nicolas entrar na casa com os cabelos molhados, calça jeans e uma camisa preta. Dou uma risada sarcástica, e bato palmas atraindo sua atenção.
- Agora ficou melhor. - Murmurei.
- O que está acontecendo aqui? - Nicolas pergunta, preocupado. Parece confuso. Não sei explicar o que sinto neste momento. Posso até parecer idiota por está estressada ou até mesmo com ciúmes, mas hoje estou com a minha língua afiada e não vou medir as palavras, apenas vou soltar sem me importar. Estou impaciente, e qualquer coisa vai me estressar. No caso isso tudo já me estressou. Não importa se eles estão namorando ou não. Eu sei que eles escondem algo, só não entendo esse mistério. Custa me contar? Ivy me evitou durante muito tempo, e agora aparece como se nada tivesse acontecido. Sendo que sempre fiquei ao lado dela em todas as situações, e nunca a evitei só por está com problemas.
- Chegou na hora certa, Nicolas. - eu disse, com zombaria voltando a ficar em pé.

LIVRO 3* Ariella (Reciprocidade)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora