#CAPÍTULO 34#

32 6 0
                                    

Ariella Young

Ao cair em cima daqueles animais mortos cheios de sangue me causou náuseas. O cheiro estava sendo tão insuportável que nem a vizinhança aguentou. Não sei como alguém conseguiu entrar na minha casa. As portas estavam trancadas. Qual o propósito de colocar esses animais na minha estufa? Por qual motivo? Seria um ritual? Pessoas a procura de zoação? Qual finalidade disso? Meu Deus! São tantas perguntas.
Abro o chuveirão que coloquei perto da piscina e lavo meus cabelos quando sinto vontade de vomitar. Inclino meu corpo para perto do ralo no chão e começo a colocar tudo pra fora. Não tem como sentir enjôo com o cheiro e a cena.
Aproveito para tirar toda a roupa ensanguentada ficando apenas de calcinha e sutiã. Observo de longe Oliver e Nicolas discutirem sobre alguma coisa. Não sei realmente o que está acontecendo com ele. O que estão falando de mim? Eu poderia parar e ouvi-lo, porém nas condições que estou não tem como. Oliver poderia compreender, mas ele só pensa em si.
Esfrego as mãos uma na outra embaixo do chuveiro para tirar o sangue que ficou impregnado nas minhas unhas. Finalmente, estou "limpa", não é a mesma coisa que usar um sabonete ou um shampoo só que no momento a única coisa que tenho é somente água. A casa ainda não está pronta. Então, não tenho escolha.
Desligo o chuveiro depois de um banho rápido. Torço o cabelo com cuidado para eliminar o excesso de água e cruzo os braços sentindo muito frio. Volto a olhar os rapazes que não estão mais juntos. Nicolas está sozinho na frente da estufa parecendo perplexo com a conversa que teve com o Oliver. Olho todos os lados a procura dele, porém não o encontro. Será que foi embora? Faço um sinal com a mão e chamo o Nicolas com um assobio. Seus olhos me encaram
- Me ajude... Preciso de algo para vestir. - eu disse, apontando para as minhas roupas sujas no chão.
- Precisa se enxugar primeiro. Aqui tem uma toalha? - ele pergunta ao se aproximar.
- Não, Nick. É... Cadê Oliver? - Pergunto, preocupada.
- Não sei, acho que foi embora ou foi procurar por você. Ele entrou na casa sem me dizer mais nada.- Nicolas da de ombros.
- Vocês brigaram? - faço uma careta.
- Está tudo bem. Quer que eu procure alguma coisa no carro para você?
- Peça por favor, o paletó do Oliver. Irei assim para a casa da minha mãe. Estamos de carro mesmo. - eu disse, tremendo de frio.
- Ary, não sei se é uma boa ideia. Ele está muito bravo. - Nicolas avisa, com um sorriso compreensivo.
- Eu sei, mas não tenho escolha. Veja se ele está no carro, por favor. - suplico.
- Está bem, me espere aqui.
- Obrigada! - agradeço, aos risos. O vejo se distanciar em direção a porta dupla até sumir da minha vista. Volto a olhar para a estufa e faço uma expressão de desespero. Preciso contratar bastante gente para fazer uma limpeza geral em tudo. Que droga! Estragaram minha estufa. Caminho em direção a espreguiçadeira, e sento devagar no momento que meu celular começa a tocar sem parar. Levanto dando risada, e ando até a mesa onde deixei a minha bolsa. Tiro o aparelho do bolso externo e vejo o nome da Lucy. Atendo no segundo toque.

Ligação ON
- Oi, amiga. - eu disse, demonstrando surpresa.
- Amiga, soube que chegou da viagem. Preciso de você. - Lucy avisa, com entusiasmo. Sorrio.
- Cheguei sim, você está melhor? - pergunto ao lembrar do acontecimento com o tal "namorado".
- Estou melhorzinha, mas não cem por cento renovada. Queria conversar, sair contigo... Pensar em outras coisas e te contar como foi o "tal encontro".
- Marcado, amiga! Estou aqui na casa nova. Tenho uma coisa para resolver, mas a gente pode se vê amanhã, combinado? - pergunto, com um sorriso fraco.
- Ótimo! Amanhã a gente pode almoçar juntas se você puder. - Lucy sugere, demonstrando empolgação.
- Posso sim, amiga. - Confirmo.
- Quero até te perguntar uma coisa.- ela grita, me assustando. Afasto o aparelho do ouvido por alguns segundos aos risos.
- Quer me deixar surda? - Pergunto, dando risada.
- Amiga está namorando o Nicolas?- Lucy pergunta parecendo está surpresa. Desfaço a risada aos poucos sem entender sua pergunta.
- Eu não entendi. - eu disse, ficando séria.
- Como não? Vocês estão em todas as notícias. Se olham de forma carinhosa com as mãos entrelaçadas parecendo está em um lugar romântico. A decoração do restaurante ajudou muito na foto.- Lucy fala sem parar me deixando abismada.
- Amiga, calma, calma... Que foto é essa pelo amor de Deus? O que está acontecendo? Não estou sabendo de nada. Deve ser por isso que Oliver está tão bravo... Meu Deus! - murmuro, preocupada.
- Você não sabe mesmo. Vou te mandar pelo WhatsApp, amiga. Pensei que sabia e... Pensei que estavam juntos. - Lucy afirma, com uma voz de dengo.
- Não. Não tem como, somos apenas amigos. Isso não vai acontecer.- retruco, sentando na espreguiçadeira a espera do Nicolas.
- Sinto muito, mas a foto da entender outra coisa. - ela rebateu, sorrindo. 
- Meu Deus! Estou ficando preocupada. Oliver veio falando várias coisas sobre isso só que eu não estava entendendo nada. Ele está arrasado, amiga. Eu não sabia do que ele estava falando... E agora? O que faço? - Pergunto, desesperada.
- Você precisa se posicionar para ele e para os seus fãs. Faça uma chamada de vídeo no Instagram junto com o Nicolas e explica toda a situação. Diga que foi um mal entendido. Será bem melhor.
- Meu Deus! Nicolas e eu somos amigos. Que situação. - encaro o chão, perplexa.
- Você é uma pessoa pública agora, precisa ser cautelosa. Mas se explicar acredito que seu público vai entender. Só não demore de explicar, porque tem muita gente elogiando esse novo casal.
- Meu Deus! - sussurrei, frustada. Nicolas aparece na porta com o paletó na mão e caminha na minha direção. Me despeço da Lucy rapidamente e me levanto da espreguiçadeira com os braços cruzados.
- Não foi fácil, mas eu conseguir. - Ele me entrega o paletó.
- Como foi? - Pergunto, fazendo um coque no meu cabelo.
- Oliver já estava com o carro ligado... Já foi embora. - Nicolas conta me deixando mais preocupada. Visto o paletó com as mãos trêmulas e solto um suspiro profundo.
- Deve ter ido embora por minha causa. - murmurei, pensativa.
- Acho que não, Ary. Eu vi que ele recebeu uma ligação, parecia importante.- Nicolas explicou passando a mãos nos cabelos apreensivo.  
- Que ligação? - Pergunto, desconfiada.
- Eu não sei, mas eu vi o nome de  Apolline no visor na hora que peguei o paletó. - Nicolas avisou, dando de ombros.
- O que disse? - Gritei com os olhos arregalados.
- O que foi? - Nicolas se assusta.
- O que ele pensa que está fazendo? Querendo da o troco? Isso é por causa das fotos? Quer me afetar? Pronto, conseguiu. Palmas para Oliver. - eu disse, incrédula.
- Isso tudo é ciúmes? - Nicolas me segura pelo ombro para me fazer encara-lo. Fecho os olhos e respiro um pouco. Sinto meu celular vibrar na minha mão. Desbloqueio a tela para olhar a notificação e vejo que a Lucy me mandou a foto que está sendo espalhada nas redes e nos sites de fofocas sobre mim. Abro a foto. Realmente, a cena parece um casal super apaixonado e feliz. Nossas mãos estão entrelaçadas em cima da mesa fazendo com que a hipótese do "novo casal" se concretize ainda mais. Estendo o celular para Nicolas que olha a foto espantado.
- Quem tirou isso? A Lucy? - ele pergunta, confuso.
- Não, Nick. Algum paparazzo tirou e espalhou nas redes. Todo mundo pensa que somos um casal.- eu disse, exausta.
- Por isso que Oliver ficou bra...
- Sim, bem furioso. - acrescento.
- Se quiser posso falar com ele de novo. A gente não tem nada e ele sabe muito bem disso. - Nicolas explica.
- Não, não precisa. Deixa lá. - murmuro, caminhando até a casa para ir embora.
- Ei... Não fica triste, Ary. Vamos explicar aos seus fãs o que na verdade aconteceu. Oliver também vai entender. - Nicolas tenta me tranquilizar. Paro na sala com braços cruzados e começo a chorar. As lágrimas escorrem sem pausa demonstrando um quão preocupada, estressada, e nervosa estou. Nicolas me abraça em um gesto de consolo e deito a cabeça em seu peito soluçando.
- Sabe que pode contar comigo. É por causa das fotos ou da ligação de Apolline? - ele pergunta, acariciando minha cabeça.
- Tudo começou no interior... Minha vida virou de cabeça para baixo. Estou muito triste e não consigo esconder mais isso. - afasto-me para olha-lo melhor.
- Isso foi na viagem do casamento da Luísa? - Nicolas franze o cenho.
- É um assunto delicado e... Eu não consigo mais lidar. Não é só isso, tem mais coisa envolvida que está me sufocando e eu não posso contar. Não ainda... Não sei o que fazer. Estou me matando por dentro guardando algo que não é meu e... Descobrir também que Apolline está... Meu Deus! Minha cabeça dói tanto.
- Respira, Ary... Calma. Você só está nervo...
- Oliver vai ser pai. - eu disse, por fim o interrompendo. Um silêncio paira entre nós. Nicolas faz uma expressão de susto e ao mesmo tempo parece risonho por pensar que é um tipo de brincadeira. Continuo com a fisionomia séria. Meu coração pulsa com mais intensidade só de pensar na ligação da Apolline, só de imaginar o que esses dois possam estar conversando. Meu corpo estremece, minha garganta seca e pela primeira vez sinto o peso nas palavras ao dizer em voz alta que Oliver vai ser pai e não serei a mãe do seu filho.
- O-o  que di-disse? - Nicolas está com os olhos arregalados, boquiaberto. Parece que não consegue digerir a informação.
- Isso que ouviu, amigo. Ele vai ser pai.- repito, cabisbaixa. Passo as mãos sobre os olhos para enxuga-los. A vontade de falar também sobre a mãe do Oliver é absurda, porém não posso fazer isso. Ainda não.
- Você está grávida? - ele pergunta, olhando para a minha barriga sorrindo parecendo feliz. Ergo as sobrancelhas.
- Eu? Não, não... Apolline que está. Ela espera um filho dele, Nick... Não estou gravida.- explico, incrédula.
- Porra! Oliver traiu você e engravidou a amante? - Nicolas pergunta com um tom de voz elevado demonstrando está bravo com a possível traição. Abro a boca para responde-lo, mas permaneço em silêncio. Sua pergunta me faz pensar por alguns minutos. Estou com Oliver desde que nos reencontramos na França. Como Apolline pode está grávida dele agora? Não pensei nisso antes... A única possibilidade do Oliver ser pai dessa criança, é: ter se envolvido com ela mesmo estando comigo ou se Apolline já estivesse grávida e não soube - sendo que, se for essa possibilidade a barriga dela deve está de quatro ou cinco meses. Qual dessas hipóteses devo acreditar?
- Eu não sei se foi traição, mas Oliver disse que eles se relacionaram antes de me conhecer.- respondo, fechando os olhos para me acalmar.
- Eu não sei o que falar. Puta que pariu! Estou surpreso e ao mesmo tempo furioso. Você está sofrendo por causa dele, Ary... Mais uma vez. Porra! Eu não quero que isso volte acontecer. Só eu sei o que você passou e sentiu naquela época. - Nicolas reclama, com um semblante sério. Caminhamos para fora da casa e seguimos em direção ao carro com os pensamentos a flor da pele. Abro a porta com cuidado e sento no banco me sentindo cansada. Chega por hoje. O dia foi muito longo. Invasão na minha casa, a fofoca sobre a foto inesperada minha com o Nicolas e a gravidez de Apolline. O espero entrar no carro e colocar o cinto de segurança antes de ligar o carro.
- Eu não sei o que sou para Oliver. Nos beijamos, nos amamos, mas parece que mesmo com tudo isso ainda tem algo que nos impede... De... Seguir... Juntos. Me sinto insegura. Não sei explicar. Ele nunca me pediu em namoro para oficializar, e as vezes parece que ele não está envolvido por completo nessa relação. Acho que tem medo de se entregar de novo pelo o que fiz, eu o decepcionei e perdi a sua confiança.- confessei, triste.
- Oliver te perdoou, Ary. Já se passaram anos depois de tudo aquilo - Nicolas comentou, pensativo.
- Sim, mas a confiança não se compra e não volta por causa de um perdão. Confiar é uma conquista e eu preciso conquistar de novo. - Respondo, entristecida.
- Está com medo do Oliver ficar com Apolline por causa do bebê? - Seus olhos fitam os meus antes de desvia-los para o trânsito. As lágrimas surgem automaticamente e antes de responder fecho os olhos com força para reprimi-las. Imaginar essa possibilidade só me corrói por dentro.
- Não quero pensar nisso. - confesso, encostando a cabeça na janela do carro. Nicolas dirige devagar e coloca uma música eletrônica no volume baixo para aliviar a tensão. Passo a mão no rosto para enxugar as lágrimas e olho para a rua.
- Como ele reagiu com a ligação dela?- Perguntei curiosa e ao mesmo tempo triste.
- Não reparei, Ary. Só peguei o paletó e sair... Veja bem, não contei sobre Apolline para deixá-la chateada como está agora ou para causa intriga entre vocês. Não falei na maldade, sabe que eu amo você e jamais vou ter alguma intenção de magoa-la. - Nicolas se explica, com os olhos fixos no trânsito. Sua mão toca na minha carinhosamente e entrelaço-as no mesmo instante.
- Eu te conheço muito bem. Não se preocupe, eu sei que não foi essa a intenção. - eu disse, com um sorriso fraco.
- Jamais pensei que Oliver e Apolline pudessem... Ter um... Filho. Mas também não acho que essa ida dele é porque envolve o sentimento de ambos, porque a única mulher que ele ama é você... Ele deve estar fazendo mais pelo filho, entende? - Nicolas comenta.
- Eu sinto que ainda existe da parte dele um carinho e uma admiração por ela. Oliver gostava de dizer que só pegava as mulheres apenas uma vez, que não transava mais de duas vezes com a mesma pessoa, só que com Apolline parece que foi dife...
- Com você que foi diferente, Ary. Oliver está do seu lado até hoje e não com ela. Você mudou a vida e o jeito dele de enxergar as coisas. Eu juro para você que nunca vi uma mulher segura-lo tanto tempo como você segurou e segura até hoje... Mesmo morando no Brasil, era notório o sentimento que ele tinha por você, o Dimitri falava muito isso. E assim... Não se compare Ary, as histórias são totalmente distintas.- Nicolas explicou, com um sorriso nos lábios. Sorrio.
- É difícil de acreditar. - Respondo,
- O que aconteceu entre eles foi apenas de momento. Um sexo sem compromisso. - Nicolas da de ombros.
- Que momento, Nick? Eles já se viram mais vezes, não tenho dúvidas. Ela estava na festa do Lucky que teve na França, eu a conheci no banheiro... Felipe já tinha a visto antes também com Oliver. O que eles tiveram não foi apenas de momento, foi mais que isso. Não é a toa que ela está grávida. - Rebato, gesticulando.
- A mulher pode engravidar no primeiro"encontro" e pelo que conheço ele, já deve ter explicado como a conheceu, não é? - Nicolas perguntou sorrindo.
- Sim. - suspiro, revirando os olhos.
- Então? Tente não sentir insegurança, Ary. Você não precisa disso.
- Está o defendendo agora? - eu falei com as sobrancelhas arqueadas.
- Não estou. - Nick rir.
- A única certeza é que ele quis transar de novo e acabou. Agora se ferrou, porque ela engravidou e vai ter que assumir a criança. Foda-se! - acrescentei, enciumada e dou risada pela minha forma de se expressar.
- Mas como seu melhor amigo, posso falar uma coisa? - ele diminui a velocidade e me olha rapidamente antes voltar sua atenção para o trânsito.
- Pode, Nick. Sempre ouvir você.
- Não cobre ou reclame se a situação dele com Apolline foi mais que um momento, até porque você não estava na vida dele, e ninguém vai se fechar a vida toda. Pode ter sido apenas uma noite e ela engravidou? Pode. Como também eles podem ter tido sentimento e com isso se viram mais vezes e qual é o problema nisso? Você se relacionou com outras pessoas, e uma delas você namorou no Brasil... Até mesmo na França que acredito que tenha se envolvido também. Então, por que pensar diferente com ele? Por que ficar chateada com as atitudes dele? Oliver estava solteiro.- Nicolas indagou me deixando sem palavras. Engulo em seco e encaro a rua pensando no que disse. Ele continua, e permaneço em silêncio.
- A vida é imprevisível. E tenho certeza que ainda há dúvidas se ele é o pai ou não do bebê, mas se for tenho certeza que Oliver vai precisar muito de você. Vai por mim Ary... Não é fácil receber uma notícia dessa quando você não espera e quando você não planeja. Já passei por isso e você bem sabe disso.
- Verdade, Nick. Mas você entende que é difícil pra mim também? - o encaro.
- Com certeza, só quero que se for tomar uma atitude, que seja uma atitude de forma justa e madura, não por um ciúmes bobo do passado dele, entende?
- Obrigada pelo conselho. Obrigada de verdade... você tem toda razão.- eu disse, com um sorriso triste.
- A levarei para a casa.
- Está bem! Vou aproveitar o caminho para fazer uma ligação. Vou contratar algumas pessoas para limparem a estufa. Aquele fedor precisa ser eliminado hoje mesmo. - eu disse, pensativa.
###

LIVRO 3* Ariella (Reciprocidade)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora