#CAPÍTULO 48#

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Ariella Young

Acredito que faz algum tempo que não vou para uma pizzaria. Não  consigo recordar a última vez que estive em uma.
    Durante o percurso Felipe me deu a opção de escolher o local que iríamos e assim que passamos na frente da pizzaria não me contive. A vontade de comer uma pizza cheia de queijo me deixou com água na boca que tomei logo a decisão sem hesitar.
Sento na cadeira da pizzaria italiana devagar, enquanto observo algumas pessoas a nossa volta. Felipe faz o mesmo esfregando uma mão na outra para demonstrar ansiedade para comer uma... Pizza? Creio que sim. Começo a gargalhar assim que ele segura o cardápio para olhar os sabores com muita empolgação.
Franzo o cenho.
- Pelo jeito, deve estar com muita fome.- afirmo, aos risos.
- Você não imagina o quanto.- ele responde aparentando estar indeciso com a escolha dos sabores
- Que cheiro de pizza. - murmuro, dando de ombros.
- É óbvio! Estamos em uma pizzaria, Ariella. Esqueceu disso? - ele fala em tom de zombaria. Reviro os olhos e seguro outro cardápio nas mãos.
- Só estava zuando com sua cara, seu faminto. Preciso ir ao banheiro agora.- eu disse, com um sorriso agradável. Levanto da cadeira de imediato, e começo a caminhar até o toalete assim que escuto meu celular na bolsa. Será que é o Vitor? Se for ele, que seja notícia boa, pois a informação que recebi alguns horas atrás não foi nada agradável. Saber que Munique pode ser absorvida do caso da Karen me deixou desanimada e aflita ao mesmo tempo. Por mais que ela seja minha irmã por parte de pai, é uma mulher perigosa e já me mostrou a raiva que sente por mim.
Não quero que isso aconteça, tenho certeza que tentará algo contra a minha vida e a do Oliver.
Abro o zíper da bolsa ouvindo meu celular tocar com frequência. Tiro o aparelho, às pressas, vendo que é a Kayle. Chamada perdida, poxa! Não consegui atendê-la a tempo. Dou uma olhada nas notificações, e vejo que ela enviou uma mensagem no WhatsApp avisando ter visto Oliver próximo a praia com alguém. Kayle é doida? Que alguém ela se refere? Poderia ter sido mais específica sobre o gênero, não sei se é homem ou mulher, não dá para entender... Pode ser mulher, talvez... Ela não mandaria uma mensagem informando se fosse algum homem, ou mandaria? Não sei... E... Se ele estiver saindo mesmo com alguém? Não, não, não acho que Oliver chegaria a esse ponto de se envolver novamente na tentativa de me esquecer, mas o que estou pensando? Estou com medo de acreditar que Oliver possa estar com uma mulher, sendo que eu transei com o Felipe no meu quarto. Não posso julga-lo e dizer que ele foi rápido demais, porque eu fiz a mesma coisa ou talvez, até pior. Argh!
Pare de pensar nisso, Ariella. Não se culpe. Continuo a caminhar com os olhos fixos no visor do celular lendo a mensagem da Kayle por diversas vezes incomodada com a situação.
Não vou suportar saber que Oliver está acompanhado. Fico distraída nos meus próprios pensamentos quando meu corpo se choca com alguém. Devido o impacto, dou um passo para trás e derrubo o aparelho no chão.
Me agacho envergonhada para pega-lo quando meus olhos fitam na pessoa que me esbarrei.

- Me perdoe. - o rapaz fala, preocupado.
- Luís? Quanto tempo. - eu disse, surpresa assim que seguro o meu celular. Guardo na bolsa para não derruba-lo mais uma vez assim que noto a tela trincada por causa da queda.
- Ariella, como você está? - ele pergunta, sorrindo. Assinto, amigavelmente.
- Bem... E você? - pergunto, vendo Felipe mudar de mesa para me observar melhor. Dou um sorriso fraco, disfarçadamente com o seu ciúmes bobo.
-

Pensei que nunca mais a veria. Faz muito tempo. - ele murmura, sem responder minha pergunta. Realmente, faz muito tempo. A única coisa que consigo me lembrar é da nossa última discussão que tivemos por causa da casa que morávamos de aluguel. Minha mãe sempre o respeitou devido os anos de amizade, mas com o passar dos tempos o assunto "dinheiro", desmoronou tudo. A prioridade dele foi totalmente outra. Dá valor a um casal desconhecido devido a quantidade de dinheiro mostrou um quanto Luís só pensava em si mesmo. Se não fosse... Oliver, provavelmente estaríamos embaixo de uma ponte pedindo comida. Meu Deus! Eu era sua secretária quando recebi a sua ajuda. Sua imensa ajuda que me fez mudar de vida totalmente. Até na dificuldade mesmo sem me conhecer direito Oliver me ajudou. Agora me sinto um lixo... Terminei nosso romance por causa do bebê que Apolline espera. Não fui compreensiva, não fui um porto seguro... Apenas reclamava o tempo inteiro sobre esse assunto, porque eu só pensava em mim... E ainda penso em mim. Não, não... No momento que eu mais precisei, Oliver esteve lá. Sempre esteve lá.
Eu deveria ajudá-lo, mas ao invés disso me afastei. O que eu fiz? Burra! Burra! O que eu fiz? Eu poderia acompanha-lo nessa nova etapa de ser pai ao invés de deixá-lo sozinho.  Minha nossa, quantas coisas se passaram. Quantos momentos vivemos. Oliver, Nicolas, Ivy, Lucy, Michael, Kayle, Isabel... Todas as pessoas que conheci fizeram e continuam fazendo parte da minha vida. Não foi fácil descobrir que a Munique Cerqueira é minha irmã por parte de pai, tentei ao máximo pedir a minha mãe que me contasse essa história, mas não obtive respostas. Ela evita esse assunto a todo custo.
- Sim, faz muito tempo. Ainda mora naquela casa? - pergunto, depois de um longo pensamento. Luis passa a mão no rosto envergonhado, desfazendo o sorriso que carrega em seu rosto.
- Eu... Não... Não queria que as coisas fossem daquela maneira, Ariella. - ele disse cabisbaixo demonstrando-se arrependido. Suspiro.
- Do que está falando? - pergunto.
- A briga que tivemos. Você e sua mãe sempre me acolheram. Não foi justo da minha parte expulsa-las. Vocês não tinham aonde morar.- ele fala, caminhando até a saída do restaurante, entristecido. Ando logo atrás seguindo os seus passos.
- Ainda mora lá? - insisto na pergunta ao perceber que ele ainda não respondeu. 
- Não, não moro mais naquela casa. Eu não me conformo. Fui um estúpido com vocês.
- Está tudo bem, Luís. Passou. Não precisa se sentir assim devido suas atitudes comigo e com a minha mãe. Já esquecemos isso, você deveria fazer o mesmo. - eu disse, atraindo sua atenção.
- Se eu pudesse fazer algo por vocês tenha certeza que eu faria. Por mais que diga que está bem não está tudo bem, coloquei vocês para fora da minha casa... Desculpa nunca será o suficiente. - Luís rebate, olhando para o chão.
- Não se sinta... - De repente, lembro da minha mãe. Luis a conhece tanto quanto eu, eram amigos de anos. Talvez ele possa me ajudar a saber o que quero descobrir. É uma oportunidade boa para inciar essa conversa. Passo a mão na nuca e o encaro apreensiva.
- Tem algo que você possa fazer. - comento, sem hesitar. Seus olhos se erguem.
- Posso? - Luís pergunta, interessado. Olho para trás disfarçadamente vendo Felipe me olhar com um semblante sério sentado no mesmo lugar.
- Bem... Presumo, que você já saiba.  - murmuro, com um sorriso sinico.
- Seja mais específica, Ariella. Não estou entendendo. - ele disse, confuso.
- Você sabia da existência da Munique Cerqueira na minha vida, não sabia? - pergunto de uma vez por todas vendo Luis me olhar abismado.
- Co-como você soube dela? Cris te contou a história?- sua pergunta me surpreende, não pelas suas palavras e sim pelo seu espanto e confissão.
Ergo as sobrancelhas.
- Ah... Você também sabe. - Afirmo, com um sorriso irônico.
- Sim. Eu sabia desdo princípio, sua mãe e eu éramos muito amigos naquela época, não tinha como ficar sem saber sobre a Munique, principalmente sobre a gravidez de risco que sua mãe enfrentou. Todos souberam disso. - ele explica, encarando o chão.
- Gravidez de risco? Bem, será que poderíamos marcar um café? Um chá? Vinho? Cerveja? O que você sugerir está ótimo, quero conversar com você. - eu disse, sorridente.
- Não podemos, Ariella. - Luís me olha com um semblante indefinível.
- Por que não? Qual é o problema?- pergunto, com os olhos arregalados.
- Não posso. Sei o que está querendo saber. Não posso te contar.
- Isso é importante para mim, por favor! Eu preciso saber mais sobre a minha vida, Luís. - eu disse, sentindo minha garganta ficar seca. Ele nega com a cabeça.
- O que você quer saber? Cris não te contou sobre a Munique? O que mais você precisa? - ele tira o óculos de grau do rosto, e passa a mão na testa.
- Não foi minha mãe que contou sobre ela, eu mesma descobrir. Qual é, Luís? O que tem de tão sério que você não pode simplesmente abrir a boca para contar? - pergunto, gesticulando.
- Porque não deixa as coisas como estão? É melhor para não se machucar. - ele aconselha, aparentando nervosismo. Franzo a testa.
- Eu descobrir da pior maneira possível. Não entendo o motivo por preferir esconder isso de mim, não sou mais criança.- rebato, tristonha.
- Deixa coisas como estão, é o melhor que você tem a fazer. - ele deposita a mão no meu ombro e me olha tristonho.
- Por que ela não me contou antes?- insisto encarando os seus olhos.
- Sua mãe só faz as coisas para o seu bem. - ele coloca o óculos de volta no rosto, e se afasta para ir embora.
O impeço.
- Eu preciso saber, Luís. Por favor, me conte. - suplico.
- Isso só vai piorar minha situação, Ariella. Quero que sua mãe me perdoe por tudo o que fiz, se eu te contar só irei afasta-la de mim e eu não quero isso. Não mais.- ele afirma, com sinceridade.
- Olha...- tento dizer, mas sou impedida.
- Eu prometi que não te contaria. Se quiser descobrir algo procure por Meredith na cafeteria perto do restaurante Acustic. Talvez ela tenha as respostas que deseja, mas eu não serei a pessoa  a te contar.- Luís fala, indo embora definitivamente. Merda!

LIVRO 3* Ariella (Reciprocidade)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora