#CAPÍTULO 38#

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Oliver Walker

Cheguei na empresa bem cedo como de costume. Não gosto de me atrasar quando tenho assuntos pendentes para resolver, ainda mais que precisei desmarcar duas reuniões na semana passada por causa do caso de Karine. Não estava e não estou com cabeça para lidar com tanta coisa, esse desaparecimento é muito sério. Não ter notícias suas piora ainda mais a situação. Ao mesmo tempo que desejo jogar tudo para cima e esperar tudo se ajeitar não posso deixar acumular. Por isso que resolvi parar um pouco o andamento do evento. Vou esperar o caso terminar para da continuidade.
Hoje eu quero tirar o dia só para tratar assuntos relacionado com a parceria que estou fazendo para exportar vinhos para a China. Pretendo comprar empresas-chaves para facilitar ainda mais na venda dos vinhos, se tudo da certo, quero umas cinco ou seis empresas. Meu objetivo é mostrar para diversos países o meu vinho. Quero que seja reconhecido pela qualidade que tem e farei de tudo para alcançar essa missão. Foi uma honra saber que na França a minha produtora de vinho é a melhor que existe. Me sinto lisonjeado. Antes de tomar posso da empresa, era do meu pai... A empresa tem muitos anos, pois foi passada de geração para geração até chegar e parar em mim. É uma responsabilidade tremenda. Lembro que na minha adolescência por muitas vezes tentei renunciar o cargo, porém no fim acabei cedendo.

A porta do elevador se abre sem demora. Dou uma conferida no relógio de pulso como de costume, enquanto caminho na direção do meu escritório. Percebo uma mulher de costas para mim, debruçada na recepção da Lucy. As duas parecem conversar com intimidade já que não param de rir. Me aproximo entediado a passos largos, e toco na gravata para aperta-la mais um pouco. A moça mexe nos cabelos compridos colocando o seu peso na outra perna quando a reconheço. Suas curvas e o tamanho das suas nádegas não passam despercebidos. Essa moça é Ariella. Sem dúvidas.
Não consigo conter o sorriso ao vê-la na minha empresa. Pela sua forma de falar comigo ontem a noite, pensei que não viria. Paro ao seu lado com o semblante sério, e franzo a testa. Ela vira o rosto no mesmo instante ao notar minha aproximação. Assim que seus olhos encontram os meus vejo seu sorriso se desfazer rapidamente parecendo não gostar do que ver. Mas sei como nossos corpos estremecem quando estamos juntos.
- Estava esperando por você. - Ariella avisa, desviando o olhar sem jeito. Assentir observando seu corpo, roupa... Cabelo. Seu perfume exala me fazendo perceber o quanto eu estava com saudade.
- Estou aqui. - respondo, rude. Olho pra Lucy que desvia o olhar rapidamente encarando a tela do seu notebook.
- Vamos conversar logo. - ela fala impaciente pondo-se a caminhar em direção ao meu escritório. Vou logo atrás tocando em seu ombro.
- Não! Se for para ser desse jeito pode voltar... Não quero que seja dessa...
- Oliver não comece com isso. Você me chamou para conversar e eu estou aqui. Então, não se faça de difícil agora. - ela fala se distanciando.
- Não tenho nenhuma pressa. - resmungo, enquanto giro a chave na fechadura. A porta se abre em seguida e Ariella entra no escritório primeiro  caminhando até o sofá a passos firmes. Jogo a chave na mesa, e me aproximo dela com um semblante sério. Suspiro.
- Está estressada? - Pergunto, assim que sento ao seu lado ao perceber seu temperamento e sua expressão. Ela da de ombros.
- Apenas estou chateada pelo que você fez. - ela responde, encarando o chão.
- Pelo o que eu fiz? Você tem noção das palavras que usou contra mim na última ligação? - Perguntei, a vendo me olhar incrédula.
- É só isso que você se lembra? Em nenhum momento você me contou sobre Apolline, o que acha que eu pensaria? - ela exclama.
- E você com o Nicolas? Notícias se espalharam de que vocês estavam tendo um caso, fotos foram espalhadas nas redes sociais e o que aconteceu depois disso? Ele dormiu na sua casa durante uma semana, Ariella. Isso você não faz questão de falar, porque para você isso é normal.- eu disse, irritado.
- Nicolas é meu amigo, sério que você... - ela fica perplexa.
- Isso é sua desculpa pra tudo. E não, não estou falando sobre amizade de vocês, mas porra... Se coloca no meu lugar, iria querer que uma amiga minha ficasse dormindo na minha casa por uma semana? O que eu fiz não foi ato de vingança, mas por Apolline esperar um filho meu eu fiz o que deveria fazer. O que você quer que eu faça? Que eu a evite e finge que não sou o pai da criança simplesmente, porque você quer? Eu seria um muleque se não desse suporte.- explico passando a mão no rosto. A encaro.
- Como pode ter tanta certeza que esse filho é seu? - Ariella me olha com as sobrancelhas arqueadas. Bufo.
- Esse é um dos pontos por ela está aqui. Fará todos os exames que precisa na gestação e o teste de DNA é um deles. - falei, impaciente.
- Isso tudo está sendo confuso pra mim. - Ariella se levanta ficando em pé agoniada. A observo passar a mão na nuca, olhar para o teto e soltar um suspiro.
- Eu só quero que acredite que quando você apareceu na França, eu não fiquei com mulher nenhuma mais.
- Mas que merda! Por que deixou isso acontecer? - ela passa a mão no rosto na tentativa de controlar sua raiva.
- Você queria que eu fizesse o quê?- perguntei me colocando na sua frente. Ela me olha com um sorriso irônico.
- Você poderia muito bem ter soltado seus milhões de filhos que se chamam "espermatozóides" dentro do látex que é composto da matéria-prima da borracha, que se chama preservativo, caramba! Que merda, Oliver! Quer saber? Tomara que seja gêmeos ou trigêmeos para você aprender a transar e se cuidar. - Ariella se exalta enfurecida. Nos olhamos demoradamente enquanto fico ainda parado na sua frente. Ela cruza os braços suspirando tentando ao máximo não fazer contato visual comigo, porém falha. Dou mais um passo na sua direção ficando a um palmo de distância. Tento manter a postura firme e séria, mas não consigo. Suas palavras para explicar a prevenção da gravidez me faz rir. Deixo um sorriso escapar.
- Posso saber o motivo da sua risada? - Ariella pergunta.
- Que porra é essa? Falar de látex e borracha?- Perguntei a fazendo rir junto comigo. Me encosto na parede enfiando as mãos no bolso da calça e a observo com um sorriso de canto. Ela passa a língua nos lábios para umedece-los e me olha com ternura. Solto um suspiro depois de ficar alguns segundos em silêncio.
- Me desculpa... Desculpa por tudo. - sussurrei, a encarando carinhosamente. Seus olhos me fitam e pela primeira vez a vejo desarmar toda a sua raiva e armadura de orgulho que tinha. Parece mais tranquila agora o que me deixa aliviado.
- Não queria brigar com você e ter ditos aquelas coisas horríveis. Fui infantil demais e eu reconheço isso. Só que... Sei lá, isso não vai dá certo. - Ariella murmurou se aproximando de mim.
- O que está querendo dizer? - Perguntei, apreensivo. Ela fica em silêncio por alguns minutos me deixando preocupado. Desencosto da parede e paro na sua frente de novo. Meu rosto está próximo do seu.
- Acredito que devo me afastar de você. - suas palavras me afetam dolorosamente. Não esperava que fosse dizer isso. Nunca sentir tanto medo de perder alguém como estou sentindo nesse momento. Cada palavra me acertou em cheio.
- Olha o que você está falando. Que loucura é essa? - Perguntei a segurando pelo braço.
- Você não está enxergando que isso está afetando a gente? Estou chateada, a gente está distante e você precisa se dedicar a esse fi... - Não a deixo terminar.
- Para com isso! Você está falando besteira, Ariella. - Eu disse, perplexo segurando seu rosto com as duas mãos quando seu celular começa tocar interrompendo o momento. Seus olhos me encaram por alguns instantes antes de desvia-los para o seu aparelho que está dentro da sua bolsa em cima do sofá. Ela se afasta.
- Não é besteira, Oliver. - Ariella afirma, enquanto pega seu celular. Assentir, inconformado com a sua decisão. Ando em direção a parede de vidro e observo a paisagem com as mãos no bolso da calça.
Não quero que ela se afaste de mim. Isso não chega perto das coisas que já enfrentamos e ainda continuamos juntos. Não quero que...
- Quem é que está falando?... O quê? Meu Deus! É claro que eu lembro. - Ariella pergunta quase em um grito atraindo minha atenção. Olho na sua direção atento.
- O que foi? - perguntei, preocupado ao perceber seu nervosismo.
- Calma, me diga o local que você estar... Pegue uma caneta, por favor. - Ariella me pede parecendo está desesperada. Sem questionar, corro até a mesa a procura de alguma coisa. Pego uma caneta de tinta vermelha e a entrego rapidamente. Ela anota algumas palavras na sua mão, enquanto escuta a pessoa falar do outro lado da linha atentamente.
- Openhouse? Tudo bem... Estou chegando. - Ela encerrou a chamada, parecendo preocupada e pega suas coisas para sair do escritório. Me aproximo desconfiado e observo seus movimentos.
- Onde está indo? Já vai embora? - perguntei, confuso sem entender porque não me explicou nada.
- Preciso ajudar uma pessoa. - Ariella avisa se dirigindo para a porta, porém eu a impeço.
- Que pessoa? O que aconteceu? - franzo o cenho.
- É uma longa história. Você não me entenderia.- ela faz uma careta.
- Do que está falando? - pergunto, cruzando os braços.
- Não posso te falar, se eu contar você não vai querer ente...
- Se não me contar, você não sairá daqui, Ariella.- eu disse, mostrando a chave do escritório na minha mão. Ela passa a mão no rosto aflita e caminha de um lado para o outro.
- Okay! Tudo bem, eu conto. É... A pessoa... A pessoa que eu falava no celular era a Kátia. Sua ex-mulher ou ex-namorada... Sei lá. - Ela revela mordendo o lábio inferior.
Arregalo os olhos.
- Que diabos você está falando? Como assim foi a Kátia? Faz anos que não tenho nenhum contato dela, como você... Como conseguiu? - Pergunto, perplexo.
- É uma longa história, tudo bem? Eu te conto no caminho. Apenas me acompanhe, por favor. Não quero fazer isso sozinha. - Ariella implora, completamente nervosa.
- Aonde iremos? - arqueio as sobrancelhas.
- Eu ainda não sei. - ela murmurou, pensativa
- E quer ir assim mesmo? Ficou louca?- Perguntei, discordando.
- Se não for, irei sozinha. - Ariella rebate, com um semblante sério. Merda! Que mulher teimosa.
- Como a conheceu? - insistir, demonstrando interesse pelo assunto, enquanto destranco a porta do escritório.
- A conheci dentro de um banheiro no restaurante. Ela estava triste com hematomas pelo corpo e logo deduzi que estava sofrendo agressão física de alguém. Dei o meu número caso ela precisasse de ajuda e pelo visto precisou.- ela contou, gesticulando.
- Agressão? Devemos chamar a polícia, Ariella. - sugerir saindo do escritório ao seu lado.
- Não podemos, pelo menos não agora. Não quero coloca-la em risco. - ela fala, preocupada e a observo caminhar para o elevador rapidamente sem olhar para trás. Aproveito a sua distração e ligo para o um dos meus seguranças o Jeff que atende no primeiro toque.

LIVRO 3* Ariella (Reciprocidade)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora