#CAPÍTULO 21#

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Ariella Young


Levanto do sofá e tento fazê-lo parar de andar de um lado para o outro. Parece está irritado. Quer dizer, tenho certeza que está. Apesar de entender o seu lado, não tenho muita coisa para dizer. É o meu trabalho, ele me conheceu sabendo disso. Então, não temos o que discutir.
- Ariella não vou suportar vê outro homens te tocando. Como vai ser isso? Puta que pariu. Isso é o cúmulo.- Oliver avisa, me olhando irritado.
- Por que o cúmulo? É apenas uma atuação. - eu disse.
- Não será uma atuação leve, você mesma deixou isso bem claro. - ele retruca, com um sorriso irônico. Reviro os olhos.
- Sabe que esse é meu trabalho. - eu disse, seguindo para a cozinha da sua mansão. Abro a geladeira ouvindo seus passos se aproximarem.
- Você ficará nua na cena? - Oliver pergunta, direto ao assunto com os braços cruzados. O vejo se encostar na pia completamente enciumado.
- É só uma encenação amor. - respondo, tirando uma jarra de suco de dentro da geladeira.
- E por acaso isso é só? Você fala como se fosse algo normal. - ele falou, enciumado.
- Mais é normal. No meu trabalho isso é comum. Tem cenas que é preciso deixar bem realista para atrair o telespectador. Você sabe que já fiz várias cenas românticas com outros atores nos filmes que já atuei. Tente compreender que é meu trabalho.
- Porra! - Oliver xinga, passando a mão no rosto.
- Não estou dizendo que será fácil para você assistir a cena, porém só tente entender. Não vale a pena discutir por isso. - eu disse, tomando um gole do suco. Ele assente, ficando em silêncio. Sua expressão não demonstra nada, mas consigo notar o quanto ele está tentando se esforçar para não estender o assunto e brigar comigo copiosamente. Escuto murmúrios vindo da escada na sala como se Milla estivesse conversando com alguém e olho para Oliver no mesmo instante.
- Quem deve ser? - pergunto, dando de ombros.
- Meu pai. - ele responde, ao sair da cozinha sem falar mais nada. Ainda continua chateado comigo. Saio da cozinha atrás dele me deparando com William que está parado no centro da sala vestido socialmente com um sorriso elegante no rosto. Seus olhos encontram os meus, e abro um sorriso gentil para cumprimentá-lo. Milla está ao seu lado conversando alguma coisa que não consigo entender. Pelo canto do olho vejo Oliver caminhar em direção ao seu escritório sem falar alguma coisa com o seu pai.
- Senhor William, como está? - pergunto dando-lhe um abraço amigável.
- Estou ótimo, querida. Vou dá uma palavrinha com o meu filho, depois nos falamos. - William avisa, se dirigindo para o escritório do Oliver. Engulo em seco.
- Eles brigaram? - Perguntei para Milla preocupada.
- Não. Isso deve ser sobre o casamento. - ela disse, sorrindo. E olho na sua direção surpresa.
- Ele quer mesmo a presença do filho.- murmurei deixando um suspiro escapar.
- Não só ele, mas a família inteira. - ela fala sorrindo, e caminha para escada me deixando sozinha.


Oliver Walker

Despejo um pouco de whisky na taça no momento que meu pai entra no meu escritório sem bater na porta. Olho na sua direção.
- Filho por que mandou o convite do casamento de volta? - William pergunta, chateado. Dou um gole na bebida, sentindo o gosto do álcool rasgar minha garganta.
- Por que está me perguntando isso se você já sabe a resposta? Eu não vou a esse casamento e ponto final. - eu disse, encerrando o assunto.
- Todos sentem a sua falta, Oliver. Não consigo entender como você consegue se isolar de todos assim... A última vez que você foi a um encontro familiar foi quando... - Meu pai tenta dizer, mas o interrompo no mesmo instante.
- Chega! Isso foi passado. Não quero ir e acabou. Não preciso e não vou ficar explicando para te fazer entender que não vou a porra de casamento nenhum. - eu disse, irritado.
- Tenho certeza que tem algum motivo para você não ir. - meu pai insiste.
- Quer saber o motivo? Então vamos lá... Não quero está perto da minha família, são pessoas que se acham superiores as outras pessoas, são mesquinhas, esnobes... Não faço questão de ir. Satisfeito? - pergunto, com o cenho franzido. Meu pai me olha por alguns segundos, e abre um sorriso.
- Você trabalha com pessoas que são assim, participa de eventos onde a todo momento tem pessoas que são detestáveis, mesquinhas, pessoas que só pensam no dinheiro. Não me diga que o problema é esse, porque eu sei que não é. Ariella, pode ter acreditado nessa mentira, mas eu não acredito. - Neste momento, meus olhos desviam do seu demonstrando que dessa vez, ele tem razão. Meu pai permanece em silêncio.
- Não quero mais falar disso. Eu não vou não e acabou. Minha presença não fará diferença. - dou de ombros demonstrando não me importar. Viro a taça de uma vez na boca bebendo o whisky de uma só vez.
- Todos amam você, principalmente a Luísa. Você nunca mais viu ninguém, filho. Sumiu completamente. E tenho certeza que Ariella deve esta querendo ir para esse casamento.-
Meu pai fala, cruzando os braços.
Para ser sincero, não lembro qual foi o dia que comecei a evitar minha própria família, mas uma coisa eu sei que depois da traição que minha família passou com a família do Nicolas todos os meus conceitos mudaram sobre o convívio familiar. O tempo, os acontecimentos mudam as pessoas, e me deixei mudar por inteiro. Me tornei uma pessoa totalmente diferente do que eu era, e isso afetou muita gente. A última vez que compareci a uma festa familiar, foi quando meus pais ainda estavam juntos. Era uma época de outono, exatamente no dia do aniversário do meu pai. Todos apareceram naquele dia. Uma festa que durou quase o dia todo se não tivesse acontecido uma fatalidade. Lembro-me como se fosse ontem. Eu estava sentado no sofá conversando com meu primo quando notei minha mãe subir para o quarto com os presentes do meu pai na mão. Não me importei muito em ajudá-la já que não tinha tanta coisa assim, mas quando vi um rapaz subir logo atrás dela cambaleando, permaneci em alerta. Primeiro, por ser minha mãe, e segundo, por não conhecer o homem. A casa que aconteceu a festa, foi em uma mansão que meus pais moravam no interior. Nessa época eu lembro que Mona e minha mãe ainda fizeram as unhas juntas antes do aniversário do meu pai começar. Elas eram muito amigas.
A escada ficava no canto da imensa sala que continha um sofá imenso, televisão parecendo um cinema pendurada na parede, uma instante com as melhores bebidas, os melhores vinhos. Antes de ter acesso aos quartos, o topo da escada tinha uma pequena sacada que dava para visualizar a sala inteira. Neste momento, interrompi a conversa que estava tendo com o Dimitri sobre alguns carros, e subi os degraus rapidamente passando pelo corredor atento. Ouvir os gritos da minha mãe em meio ao som da música que tocava na casa era quase inaudível que tentei primeiro entender se era realmente era ela ou a música. A minha intuição falou mais alto. Não hesitei em voltar, comecei a correr na direção da sua voz quando flagrei o homem em cima dela tentando beija-lo a força. Minha mãe se desvencilhava daquele homem aos prantos. Fiquei fora de mim. Só enxergava e sentia raiva, ódio... E uma vontade absurda de mata-lo. Agarrei o rapaz pelo pescoço e comecei a socar seu rosto por inúmeras vezes. Ninguém da festa podia nos ouvir, já que o som estava muito alto. Joguei o rapaz no corredor com força fazendo sua cabeça bater contra o chão. O vi levantar desnorteado. Caminhei a passos lentos na sua direção quando ele começou a correr para a escada.
Cheguei a sentir minha mãe me segurar pelos braços, mas a ignorei correndo atrás do rapaz que ainda tentava fugir de mim. Não me reconheci. Lembro que entramos em uma luta corporal muito forte. Eu queria mata-lo. Não conseguia cessar os socos, os pontapés... Eu tinha que terminar o que tinha começado. Era o que eu pensava na época. Fui acertado por diversas vezes no estômago, no rosto, porém não recuei. Quando o vi tirar uma faca de dentro do seu sapato, pensei no mesmo instante... Se eu não agir o fim vai ser ele ou eu. E de repente, o inesperado aconteceu. Chegamos na sacada aos socos, e ao tentar me desvencilhar do golpe da sua faca o empurrei com força fazendo ele cair da sacada da escada até o chão entre os convidados que dançavam alegremente na sala. Todos olharam espantados para o corpo estendido no chão. Não foi a altura que o matou, foi a faca que ele segurava na hora da queda que tirou sua vida, pois o objeto perfurou seu peito esquerdo quando seu corpo caiu.
Lembro de ter parado no topo da escada com os olhos fechados. Sabia que tinha o matado, e mesmo assim não sentia remorso, tristeza ou desespero. Eu sentia alívio. Naquele momento, era o que eu queria, mas hoje eu vejo que isso me afetou muito.
Acho que mesmo depois de tanto tempo, não conseguir superar a morte daquele rapaz. Dali em diante, nunca mais compareci em nenhuma festa familiar. Evitei por completo qualquer contato. Me isolei de tudo e todos. Não queria que as coisas tivessem terminado daquela forma. Não precisava tirar a sua vida. Eu tinha vontade de mata-lo, mas o empurrão foi legítima defesa. Soltei um suspiro por me permitir retornar ao passado e coloquei a taça vazia em cima da mesa.
- Você não se culpa pela morte daquele rapaz, não é? - Meu pai pergunta, preocupado parecendo adivinhar meus pensamentos. Abro um sorriso amargo, e fico em silêncio sem responde-lo. Ele se aproxima.
- Oliver não quero que leve essa culpa pelo resto da sua vida. Você fez o que todo filho faria se visse sua mãe naquela situação, mas foi um acidente. - Meu pai disse, depositando uma mão em meu ombro.
- Eu quis mata-lo. - confesso, de olhos fechados.
- Sim, mas não o empurrou por querer mata-lo. Foi legítima defesa, as câmeras provaram isso. A polícia concluiu o inquérito com essa informação, então não se culpe. - meu pai relembra entristecido.
Nossos olhos se cruzam.
- Ariella nunca soube disso. Quero que continue assim. - eu disse, olhando em seus olhos.
- Não se preocupe, mas se está com medo de ela te julgar se caso souber não fique. Essa mulher te ama, como a sua família também. Apenas pense um pouco se irá ao casamento. A Luísa quer muito te ver. - meu pai disse, pondo o convite em cima da mesa novamente.
- Okay! - murmuro. Ele me dá as costas, e sai do meu escritório sem dizer mais nada.

LIVRO 3* Ariella (Reciprocidade)✔Onde histórias criam vida. Descubra agora