Lisa deixou-se ficar entre os livros caídos, não calculou o tempo que se perdeu no meio deles. Não conseguia nem queria levantar, muito menos pensar como explicaria aquela situação ao senhor Jonas. Foi quando percebeu que não poderia nem queria ficar mais trabalhando na loja, ao menos não mais na condição de vendedora.
Porém, sabia que não havia chance de crescimento no sebo, não ao menos no momento. Agora ela tinha o valor depositado em sua conta bancária por sua avó, para que proporcionasse a ela novas experiências de vida.
— A senhora disse que via o que mesmo em mim, vó? Potencial? — perguntou ela, lamentando-se que, dessa vez, não haveria uma voz estridente e enérgica respondendo suas perguntas.
Seus maiores interesses sempre foram livros, pensou Lisa. Então, se ela tinha que viajar para algum lugar, que, de alguma maneira, a literatura estivesse envolvida. Mas como? — questionou-se.
Ficou por longos minutos olhando os livros e, de forma inesperada, teve uma ideia. Apressada, como que com medo de que o fresco plano evaporasse, buscou em sua bolsa, largada ao seu lado no chão, um pequeno caderno espiral e uma caneta azul. E deu início a lista mais estranha e revolucionária . Escreveu freneticamente os nomes dos seus autores prediletos.
— Vou visitar as casas dos meus escritores favoritos! — decidiu. — Quer dizer, nem todos, mas alguns. Isso! — concluiu, resolvendo filtrar a lista que já continha mais de quarenta nomes.
Reduziu a lista apenas para trinta e quatro. Até que percebeu que havia um certo percalço. Alguns escritores provavelmente a achariam louca por bater em suas portas e pedir um pouco de atenção. Talvez até chamassem a polícia.
Ela sabia que não teria coragem de aparecer como quem não quer nada na residência de Ken Follett, por exemplo, e pedir por uma xícara de café e um bate papo de algumas horas. Já ter lido Os Pilares da Terra oito vezes não dava a ela o direito de invadir a casa do autor.
— Vou visitar as casas de escritores abertas ao público. Ou seja, eles já morreram — concluiu ela, logo riscando os nomes de escritores ainda vivos.
A lista foi para vinte e dois nomes.
— Caramba! É muita casa.
Lembrou-se de que precisava sobrar dinheiro para custear seu tratamento e também guardar para o futuro. Depois de alguns minutos sem saber como proceder e mordendo a ponta da caneta que já começava a rachar, ela cogitou que nem todos esses escritores tiveram suas casas transformadas em museus.
Ela já sabia de alguns que tinham museus em suas homenagens e, com base nesses conhecimentos, aprimorou a lista.
O restante dos nomes foi classificado através dos resultados de uma rápida pesquisa da garota na internet, disponível em seu celular. Os nomes que não revelavam estar atrelados às casas abertas à visitação foram descartados.
— Nossa! Agora tem dezoito nomes. Ainda é muita coisa! — disse em voz alta, sem, contudo, ter testemunhas de suas palavras, já que o sebo ainda se encontrava com as portas fechadas.
Resolveu colocar à frente de cada nome o país em que a casa se encontrava. Eliminou mais dois nomes, resolveu visitar apenas um escritor por nação. Essa decisão foi difícil de tomar, afinal, teve que eliminar autores de que gostava muito, principalmente brasileiros e ingleses, mas, como também queria conhecer os principais pontos turísticos dos países, não adiantava muito deixar uma lista extensa.
Agora estava com 13 nomes, não gostou muito desse número. Lembrou-se de que lera em algum lugar que o número 7 era considerado perfeito, também tinha alguma coisa a ver com transformação, passar a conhecer o desconhecido. , era o número mais citado biblicamente.
Ela tentou concentrar a maioria das casas dos escritores na Europa, por questões de facilidade entre as viagens. As passagens entre os países, conforme uma amiga que já tinha morado no continente havia lhe dito, tinham preços acessíveis, mas resolveu ousar e colocar também os Estados Unidos, pois já havia conseguido tirar visto de turista para o país, apesar de nunca ter concretizado a tão sonhada viagem de férias.
Gostaria de escolher um escritor em cada continente, havia tantos autores talentosos que marcaram o mundo, mas o montante deixado pela avó não era tão grande a ponto de possibilitar tantos gastos com viagens. Com um suspiro resignado, decidiu visitar apenas sete casas.
— Fechou, sete! — decidiu, logo fazendo novos cortes na lista.
Passou os nomes a limpo, colocou em ordem alfabética e caprichou na caligrafia. Contemplou a lista terminada em suas tremiam levemente.
As casas dos 7 escritores
Cora Coralina – Brasil
Jane Austen – Inglaterra
José Saramago – Espanha
F. Scott Fitzgerald – Estados Unidos
Liev Tolstói – Rússia
Oscar Wilde – Irlanda
Victor Hugo – França
(Você já fez alguma lista que revolucionou a sua vida? Se a resposta for negativa, não se preocupe, ainda dá tempo. É só pegar papel e caneta...)
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As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)
ChickLitQuando Lisa perde a sua avó Rose, a única pessoa que entendia seu amor por livros, ela repensa o seu relacionamento nada saudável com um viciado em jogos digitais, o tratamento contra a lúpus que enfrenta, seu emprego sem futuro e sua tendência a pr...