A casa ficava na Merrion Square, Dublin 2. Era de esquina, rodeada de grades baixas e pintadas de preto. Lisa e Derek subiram três degraus para ficar de frente para uma porta verde que dava acesso à residência. Lisa olhou para uma placa redonda preta com dizeres em branco, fixada na parede ao lado direito da porta.
— Aqui diz que ele nasceu em 1854 e faleceu em 1900; e que viveu nesta casa de 1855 até 1878 — observou o rapaz.
— Por que a porta está fechada? É horário comercial.
— Tem uma porta lateral. Vamos até lá — propôs Derek, mas a porta também estava fechada. Voltaram para a entrada principal.
— Tem uns cartazes aqui — percebeu Lisa, lendo o conteúdo de um recado grudado em um pequeno mural fixado na grade da frente da casa. — Eu não estou acreditando que não percebi isso quando programei minha viagem! Que droga! — reclamou Lisa em português, depois de ler o anúncio.
— Não entendi nada do que você falou — comentou Derek.
— Leia isso aqui — indicou Lisa, voltando a falar inglês. Ele leu.
— Porra! Tá fechado desde o início de 2007, e a área está sendo usada por um colégio.
— Visitar a casa dele era meu principal objetivo ao vir pra Irlanda. Eu deveria ter pesquisado melhor sobre isso. Devo ter visto alguma matéria antiga da internet sobre a casa. Não sabia que não havia mais visitas há tantos anos — disse Lisa, desanimada.
— Você pode visitar a casa de outros escritores irlandeses, tenho certeza que deve ter outros.
— Tinha que ser Oscar Wilde! Sempre gostei de seus poemas, mas quem mais gostava dele era minha avó.
— Faz um vídeo na frente da casa, manda um recado pra ela.
— Ela faleceu há dois meses — disse Lisa.
— Sinto muito. Eu não tinha ideia.
— Tudo bem. Ela teve uma boa vida, e, no final das contas, é só isso que importa.
— Olha, sei que tem uma estátua dele em algum lugar por aqui. O Liam comentou comigo uma vez — disse Derek, olhando ao redor. — Achei! Ali, no parque. Vamos lá — chamou ele, ajudando-a a atravessar a rua para entrar no parque que ficava na frente da casa.
A estátua era diferente das que Lisa já havia visto; tinha algumas partes coloridas que contrastavam com o costumeiro cinza das estátuas. A imagem retratava Oscar Wilde escorado em uma imensa pedra, com uma perna estendida e a outra dobrada.
O rosto mostrava uma expressão curiosa, de certa maneira divertida, era como se ele analisasse uma cena. Os cabelos eram um pouco mais longos que os de Derek e mais arrumados, repartidos ao meio. Os sapatos eram pretos, já o casaco verde-escuro tinha a gola e os punhos vermelhos. Para Lisa, pareciam rosa, mas achou que era porque a cor devia ter desbotado com o tempo.
— Parece que ele está virado na direção da casa. Olha, dá pra ver daqui a casa dele. A imagem foi feita com ele olhando pra lá — comentou Derek.
— Diferente, né?
— É a imagem mais descontraída que eu já vi. Geralmente, as estátuas mostram a pessoa toda séria. Sua avó teria gostado dessa aqui.
— Teria mesmo, ela era toda alternativa, moderna. Acho que eu parecia mais a avó dela do que a neta.
— Não vou mentir e dizer que você é a garota mais descolada que conheço, mas o mundo seria bem mais chato do que é se só houvesse gente com status de moderninho, cheio de si e achando que é melhor que os outros.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)
ChickLitQuando Lisa perde a sua avó Rose, a única pessoa que entendia seu amor por livros, ela repensa o seu relacionamento nada saudável com um viciado em jogos digitais, o tratamento contra a lúpus que enfrenta, seu emprego sem futuro e sua tendência a pr...