Capítulo 49 Whisky escocês

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— É zueira isso, né? Só pode! 

— Meu pai é dono de uma confecção de roupas na minha cidade natal. Ele engravidou minha mãe quando tinha apenas quinze anos, acabaram casando. O sonho dele sempre foi viajar pelo mundo, se aventurar. O meu nascimento veio como que destruir os planos dele. Nunca tivemos uma relação de pai e filho. Ele me via mais como um rival do que como filho. Depois da morte da minha mãe...

— Entendo se não quiser falar, mas o que causou a morte da sua mãe? 

— Ela teve câncer, foi tudo muito rápido desde a descoberta da doença até o dia da sua partida. 

— Eu sinto muito, mesmo. 

— Foi há um bom tempo tudo isso. Superei, ao menos é isso o que acho na maioria das vezes, mas tem dias que é difícil lembrar de tudo. 

— E como o seu pai foi afetado com a morte dela? 

— Parecia que ele tinha sido liberto da prisão. Semanas depois da morte da minha mãe, ele já estava levando mulheres pra dentro de casa. Fora que ele já tinha diversos casos quando ela estava viva. 

— Poxa, que difícil — disse Lisa, pesarosa. 

— O pior foi quando ele anunciou que iria viajar o mundo e precisava que eu assumisse a fábrica dele, mas meu sonho sempre foi administrar a destilaria de whisky, que vem da parte da família da minha mãe. 

— Destilaria? 

— Meus descendentes tinham uma grande área de plantação de cevada, em St. Andrews. Depois, veio a ideia de se montar uma destilaria, meu tataravô Hamish Graham idealizou a marca de whisky com as iniciais de seu nome, ou seja, H.G. É uma marca bem conhecida na Escócia, mas ainda precisa ganhar o mundo. 

— E esse era seu sonho?

— Era. Talvez um dia eu te leve pra conhecer a destilaria, é um lugar fascinante, onde a mágica acontece. Não sei se sabe, mas o whisky escocês é o mais famoso do mundo, o mais conceituado. 

— Na verdade, eu nunca provei whisky — comentou ela.

— Sério? É forte, não sei se vai gostar, mas, pra mim, é algo que faz parte da minha vida. A destilaria, a mistura dos grãos, o cheiro da cevada, tudo isso faz parte de mim. Tudo precisa ser dosado, testado, provado. É uma mistura de gastronomia com ciência, sabores e química. 

— Foi a partir daí que você descobriu seu talento para ser chef de cozinha? 

— De certa maneira, sim, tudo isso começou com a vontade de fazer um whisky diferenciado. Sempre gostei de cozinhar também, misturar sabores, ver no que dava, dosar porções, pitadas, mas meu sonho mesmo sempre foi a destilaria. 

— Interessante... 

— Tem algo nela que me puxa, os momentos mais felizes da minha vida eu passei lá, correndo na plantação de cevada. Sabe quando você sente que aquele lugar do mundo é o lugar onde deveria estar? 

— Não, infelizmente, não sei, mas deve ser ótimo sentir isso alguma vez. 

— E, por mais que eu tenha passado por tantos lugares, em qualquer parte do mundo, eu consigo sentir o cheiro do whisky a metros de distância, tem cheiro de carvalho, dos bons; as bebidas ruins têm cheiro de álcool — confessou ele. Lisa olhava pra ele e sentia paixão na sua fala, saudade na sua voz. 

— E o whisky te faz lembrar da sua casa, da destilaria da sua família. 

— Não é mais da minha família, quer dizer, tenho apenas uma pequena participação nos negócios, mas é pequena e não me permite opinar em nada, infelizmente. A marca está cada vez mais enfraquecida. Não me admira de chegarmos lá e encontrarmos tudo abandonado.

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