Capítulo 4 O cuco de madeira

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Lisa releu a lista e se sentiu emocionada ao fazer memória do talento de cada autor, todos queridos e admirados por ela.

A livreira usava a internet de seu celular para checar trâmites para entrar como turista na Europa quando ouviu uma forte pancada na porta. Deu um pulo e enxugou o rosto com a palma da mão direita; ainda estava úmido da recente crise de choro. Olhou ao redor, desesperada, nunca havia visto o sebo daquela maneira. Quer dizer, ela nunca tinha deixado nenhum recinto naquele caos em toda a sua vida.

— O que eu faço? Meu Deus, o que eu faço? — perguntou, já arrependida de ter lançado livros ao chão. Ela os amava, não?

— Lisa! Que diabo está acontecendo aí dentro? — questionou aos gritos o senhor Jonas. — Se estão fazendo a garota de refém, seus imprestáveis, saibam que vou chamar a polícia! — bradou o dono do sebo para prováveis assaltantes.

— Senhor Jonas, tá tudo bem! — gritou Lisa, atravessando a loja com dificuldade ao tentar não pisar nos livros. Levantou a porta e se deparou com o proprietário do sebo com o celular na mão, pronto para pedir ajuda da polícia.

— O que está acontecendo aqui, moça? — perguntou ele, arregalando os olhos quando viu a loja em um estado desolador.

A livreira tentou pensar em algo para falar, imaginou que deveria contar a verdade, mas a verdade parecia não ser suficiente para explicar seu surto.

— São, são... essas prateleiras idiotas. Eu avisei que elas cederiam — mentiu a garota, já sentindo certo remorso. — Caiu tudo! Eu... eu tentei segurar, mas uma despencou em cima da outra, aí eu fechei a porta pra não expor a debilidade do sebo! — despejou as palavras.

— Debilidade do sebo? — repetiu Jonas em voz alta, arqueando as sobrancelhas.

Lisa pensou em recuar, em revelar que havia derrubado os livros em uma crise de autocomiseração, mas então o relógio cuco da parede fez seu show, com o passarinho de madeira cantando ao anunciar que eram onze horas da manhã. Ela se lembrou do valor exorbitante que o dono do sebo havia pago pelo relógio, enquanto se recusava a fazer melhorias na loja. Na verdade, Jonas sempre foi um sovina.

Lisa não gostava de mentir, mas o senhor baixo e carrancudo, com cabelos e barba grisalha, imaculadamente vestido de terno azul, talvez precisasse de uma lição.

— É isso mesmo que o senhor ouviu. Aconselho a trocar as prateleiras de vez ou talvez seja melhor o senhor fechar a loja por um tempo. Não condições de receber pessoas e elas estarem sujeitas a serem atingidas por livros na cabeça a qualquer momento — disse, decidida, aliviada que pelo menos essa informação era verdadeira.

Percebeu, surpresa, como a fúria fazia o sangue circular mais rapidamente nas veias. Era como se ela experimentasse hormônios que não sentia há muito tempo e eles agissem em seu metabolismo, dando uma sensação de segurança e talvez de coragem.

— Já te falei que dinheiro não nasce em árvore! — gritou ele.

— Eu sei — respondeu calmamente ela. — Mas pode nascer nas penas de um pássaro, mesmo ele sendo de madeira — disse olhando para o cuco.

A expressão do senhor Jonas era de quem tinha sido insultado.

— Que direito você tem de me dizer o que fazer? Insinuando desavergonhadamente que devo vender meu cuco?

— O mesmo direito que tenho de não ter que gastar do meu bolso para comprar produtos de limpeza para amenizar o cheiro horroroso desse lugar. O direito também de não ser atingida por uma estante de livros ou ver os outros — disse de forma pausada.

Jonas olhava para ela como se a visse pela primeira vez, Lisa estava com as mãos na cintura, no meio dos livros. Parecia uma heroína que pulara de uma história de ficção moderna para a realidade.

— Eu vou te demitir! — ameaçou ele.

— Faz o seguinte, senhor Jonas, eu vou sair para almoçar mais cedo agora — disse ela, rapidamente colocando a lista que acabara de fazer dentro de sua bolsa. — Cumprirei meu aviso prévio. Isso se assim o senhor quiser. Já tenho férias acumuladas e planejo viajar de qualquer maneira.

— Como ousa? — Jonas deixou escapar baba no canto direito da boca. Ela não respondeu, apenas foi em direção à saída da loja.

— Sei que não quer minha opinião, mas vou dá-la mesmo assim. Esse cuco requintado não combina com a decoração de um sebo debilitado. E, quando esse pássaro idiota cuca, a minha vontade é de quebrar o pescoço dele. Venda-o e compre móveis decentes para a loja. Volto em uma hora — avisou, saindo pela porta e deixando seu chefe injuriado com seu comportamento.

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As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora