Bem decorado, o cômodo tinha duas poltronas de couro cinza e uma escrivaninha moderna de ferro fundido.
— Que parte da frase "entrada autorizada somente para funcionários" você não entendeu? Tá lá grudada na porta. Você costuma entrar nas cabines dos pilotos de avião também ou dentro de foguetes com direção à lua sem autorização?
— Lógico que não!
— Que pena que não! Ao menos, no caso do foguete, em direção à lua!
— Não precisa ser grosso!
— Realmente não preciso, mas é um estado de espírito diário meu. Além disso, sou perfeccionista e não gosto de gente invadindo meu espaço e me prejudicando, ainda mais quando está se entupindo de torrada sem autorização.
— O Rafael me autorizou a entrar, e eu não estava me entupindo de torrada! — defendeu-se Lisa, mordendo o lábio inferior, logo arrependida da confissão. Ficou receosa de prejudicar o brasileiro com a sua língua solta.
— Vejo que o Rafael está com sérios problemas.
— A culpa é toda minha, por favor não o prejudique!
— Eu só não despeço o Rafael por ter autorizado a sua entrada onde não devia porque ele é meu amigo, mas você não é.
— Eu... — Por que você fez isso? — interrompeu-a ele.
— Foi realmente um acidente ou foi de propósito? Não sei se sabe, mas tive que improvisar boa parte da palestra, comprometendo a qualidade de tudo, porque muitas anotações, fotos e vídeos deviam ser passados pelo retroprojetor.
— Lógico que foi um acidente! Eu jamais faria isso de propósito!
— Que direito você acha que tem para entrar em um evento, ao qual não foi convidada, para tentar arruiná-lo?
— Para de ser exagerado! Eu não arruinei nada. E o Rafael me convidou!
— Mais um ponto negativo para o Rafael. O rapaz está bem encrencado.
— Droga! — deixou escapar Lisa, maldizendo-se por expor Rafael.
— Para você, pode parecer apenas mais uma aventura, uma traquinagem de criança, mas o evento era importante para o futuro do bistrô, tinha prováveis investidores assistindo à palestra. Gente importante.
— Eu já falei que foi sem querer! — tentou mais uma vez se justificar Lisa, sentindo certo remorso por, de certa maneira, atrapalhar um evento que ajudaria o bistrô.
— Você tem noção do tipo de gente que está lá fora? Provavelmente não, seus tipos de amigos devem ser adolescentes cuja única preocupação é acampar na frente de casas de show onde seus ídolos mimados irão se apresentar. Isso cinco meses antes do show! Será que você não tem nenhum desses shows para ficar na fila, não?
— Não vou ficar aqui sendo insultada.
— Você acha que está sendo insultada?
— Acho! — disse ela, agarrando o braço de uma das poltronas cinzas, para firmar as pernas que agora resolveram fraquejar.
— Não queira saber o que é me ver insultando alguém, garota.
— Meu nome é Lisa. Não me chame de garota! Dessa vez ele parecia que já estava cheio da presença dela. O olhar ameaçador deixou seu rosto e ele apenas parecia bem cansado. Voltou a encará-la como se visse um inseto insignificante.
— Senhorita Lisa, pode ir. Já acabei com você — disse ele, dando as costas para ela e mexendo em alguns papéis em cima da mesa. Lisa estava para ir embora, mas, quando virava a maçaneta, em um impulso, voltou-se para ele.
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As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)
ChickLitQuando Lisa perde a sua avó Rose, a única pessoa que entendia seu amor por livros, ela repensa o seu relacionamento nada saudável com um viciado em jogos digitais, o tratamento contra a lúpus que enfrenta, seu emprego sem futuro e sua tendência a pr...