Capítulo 16 Somos todos miseráveis

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As duas garotas estavam em um pequeno café, a uns cinco minutos andando do museu de Victor Hugo. Elas estavam famintas e se interessaram pelos preços atrativos escritos a giz em um quadro negro que pendia na parede do pequeno comércio. Lisa sabia que tinha que economizar mais, afinal, a viagem estava apenas começando, e ela não tinha muito dinheiro para esbanjar. Mas como resistir a tantos restaurantes e cafés parisienses?

— Oi! Planeta Terra chamando! Às vezes, penso que você pode ser uma alienígena. Vivendo na Terra e observando as pessoas para levar informações para os seus parentes cheios de antenas e cabeças de repolho?

— Carolina chegou a chacoalhar a mão na frente do rosto de Lisa para chamar a sua atenção.

— Eu tava distraída.

— Eu sei bem, tô aqui perguntando do Vi, e você encarando as pessoas na rua. Depois, sou eu a indiscreta.

— Vi? Que Vi? — questionou Lisa, intrigada.

— Que Vi? Pelo amor de Deus! Victor Hugo.

— Você mal sabia que ele existia e agora já chama ele de Vi?

— Depois que descobri que ele havia planejado muitos daqueles móveis da casa e ajudado a decorar alguns cômodos, passei a me interessar por ele. Você sabia que eu amo decoração? Já te falei que faço faculdade de moda no Brasil, mas que eu quase fui para o curso de design de interiores?

— Mas você falou mal do papel de parede do quarto dele — argumentou Lisa.

— Qualquer um falaria mal do papel de parede dele. Só você que não.

— Carolina revirou os olhos para enfatizar a falta de conhecimento em decoração de Lisa.

— Estou falando dos móveis e do resto do apartamento. O que era aquela sala chinesa? Pelo que eu entendi, ele recebia os amigos lá e batiam altos papos. Quem tem uma sala chinesa, decorada por ele, para receber os amigos, merece meu respeito! Definitivamente!

— O fato de ele ser um dos escritores mais renomados do mundo, ter escrito obras primas, influenciado pensadores, políticos e outros escritores, além de ter alcançado gerações, ter sido ativista pelos direitos humanos e ter tido uma forte atuação política não é suficiente para ele merecer o seu respeito? — perguntou Lisa, incrédula.

— Lógico que tudo isso influencia o respeito que eu recém adquiri por ele. Mas essa sua lista vem depois do tópico: noções razoáveis de decoração. Lisa olhava boquiaberta para Carolina.

O garçom chegou com as entradas, que eram ovos meurette, ovos gratinados dentro de um molho feito à base de cebola e vinho tinto. Muitos restaurantes tinham ovos cozidos em uma cesta no balcão, e o fato foi percebido por Lisa; já havia visitado mais estabelecimentos do que imaginava que deveria para perceber esse detalhe.

O prato principal foi confit de canard, precisamente a coxa do pato, acompanhada por batatas douradas com alho. O valor era um pouco mais caro do que o plat du jour, que era o prato do dia, mas Lisa comentou que nunca havia comido pato, e Carolina a convenceu a pedir a iguaria. Ela não parou para pensar muito sobre dinheiro, se não teria pedido outra coisa, mas resolveu dar a si a chance de experimentar algo novo e adorou.

— Não te falei, amiga, que é maravilhoso? Não está tão bom quanto o do senhor mal-humorado, mas tá valendo — disse Carolina.

— Você tá querendo dizer que o Derek cozinha um prato melhor que esse? — desacreditou Lisa, que achava que seria impossível fazer um pato tão bom quanto aquele.

— Eu já provei o pato dele, não foi coxa do pato na verdade, foi peito, mas te digo que o que ele tem de chato, tem de talentoso. Meu irmão falou que ele se formou com honrarias na escola de gastronomia que cursou, a melhor da Europa.

As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora