Capítulo 63 Tênis sujo na ponta

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A maior dificuldade era a língua. Os trabalhadores ficavam esperando as instruções de Derek para fazerem as mudanças pedidas. Depois de dois dias do início das obras, baixou no celular um aplicativo em que ele falava em inglês e a fala era traduzida e pronunciada em português.

O arranjo o ajudou a, enfim, conseguir dar maior agilidade à obra. Ele queria terminar tudo em um mês. Como tinha que perder tempo correndo atrás de seu visto como empresário no Brasil, teve que fazer um contrato de empréstimo tanto com Jonas com relação ao sebo, quanto com Rafael, que aceitou abrir um restaurante e ter Derek como investidor.

Como Derek ainda aguardava a parte burocrática para enviar dinheiro ao Brasil, Rafael recebeu dinheiro emprestado de seu pai para dar início às obras e, depois, seria restituído por Derek. A parte burocrática relacionada ao restaurante havia ficado com o brasileiro, enquanto Derek passava seus dias na obra.

O senhor Jonas deu férias para a única funcionária do sebo e encerrou temporariamente os serviços para reparos. Derek ainda não sabia ao certo como faria o projeto, preferiu iniciar arrumando o prédio.

Encontrou-se com um advogado, que era amigo de Rafael, e com o dono da construção. Elencou os graves problemas do prédio, principalmente sobre o encanamento do local que estava todo comprometido. Se propôs a reforçar uma das paredes que apresentava problemas em sua base. As portas também precisavam ser trocadas, estavam com cupim. Comprometeu-se a restaurar o chão de madeira antiga, pintar as paredes, fazer vistoria em todo o prédio para saber das condições estruturais, além de construir banheiros femininos, masculinos e um adaptado para deficientes.

O acordo era reformar o sebo e a área da antiga lanchonete em troca de um desconto no aluguel dos dois espaços.

Derek havia saído do hotel. Rafael havia convidado o amigo para morar com ele, mas o escocês disse que dormiria no sebo. Jogou um colchão no chão, comprou cobertor, lençol e travesseiro e passou a dormir ali.

Instalou um chuveiro no antigo banheiro. Como o espaço tinha internet, utilizava o computador ali e comia sempre na rua. Algumas noites, quando tinha saudade de cozinhar, ia na casa de Rafael e fazia um jantar para algum grupo de amigos do rapaz.

Rafael havia ficado chateado com Derek por não aceitar ir para a casa dele, mas o escocês não tinha vontade de conviver com ninguém, queria ficar sozinho. Pensava apenas no projeto para o sebo e o restaurante. Com frequência, ia visitar Lisa.

Os pais dela mal conversavam com ele, encontraram-se apenas algumas duas vezes nas visitas. Ele tinha mais contato com a irmã de Lisa. Quando alguém da família não conseguia ir na visita, ela ligava para Derek, que ia visitar Lisa, para saber se estava tudo bem.

Os funcionários da UTI e os parentes dos pacientes já o conheciam, ainda mais depois que ele invadiu o local. Era conhecido como o gringo da garota da UTI.

A segurança, que antes o tratara com animosidade, treinava seu inglês com o rapaz. Ele ensinava algumas palavras em inglês pra ela, enquanto ele, em contrapartida, aprendia português. Após vinte dias, já arriscava frases completas. O sotaque era forte, mas não impedia que o rapaz fosse entendido.

Naquela noite em particular, ele estava animado e esperançoso. Lembrava que Liam havia dito que muitas pessoas em coma escutavam o que as pessoas falavam ao seu redor, mas conversar com ela era benéfico pra ele também.

Ao entrar no quarto, reparou que o braço de Lisa estava mais roxo que antes.

— Será que ninguém daqui sabe acertar uma veia, porcaria? — falou, nervoso, pegando no braço dela e virando dos dois lados para ver se tinha mais hematomas. — Oi, Li — disse ele, beijando-a de leve nos lábios.

As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora