Capítulo 46 Perdida na casa de Austen

46 10 1
                                    


Depois de ter discutido com Derek, Lisa arrumou suas malas e avisou Carolina que não voltaria mais para Dublin. Somente havia dito para Derek que teria que voltar antes para o Brasil. A garota tentou convencê-la do contrário e até mesmo começou a chorar, mas Lisa foi irredutível, contou toda a história com relação a Derek, Carmem e Ethan para Carolina e disse que não poderia continuar ali. 

Passava das três horas da manhã quando Lisa pegou o táxi para o aeroporto. Foi propositalmente cedo para evitar que Derek tentasse novo contato. Ele sabia que ela iria para Londres nesse dia, apenas não tinha conhecimento de que seu voo seria tão cedo, às seis horas da manhã. 

Pagou uma taxa extra para levar sua mala grande, pois havia comprado uma passagem apenas que dava direito a bagagem de mão, pois pretendia voltar para Dublin antes de começar a se sentir mal. Chegando a Londres, Lisa ficou em um hostel perto da London Eye. Depois saiu para conhecer a cidade. 

Ficou assustada com o metrô do lugar, era um emaranhado sem fim de linhas, e a profundidade em que os trilhos foram construídos a deixou algumas vezes aturdida quando tinha que descer as escadas rolantes, íngremes. No dia seguinte, acordou cedo e pegou trem para Winchester, depois um ônibus que partia da pequena estação central da cidade. 

Quando finalmente desceu no que pareceu para ela uma longa viagem, foi deixada em um local bem desabitado. Seu destino era o vilarejo de Chawton, condado de Hampshire, no sudeste da Inglaterra. Era início de tarde, e ela ainda não havia almoçado, estava sem fome. Teve que tomar cuidado ao atravessar as largas ruas. 

Chegou a pensar que estava perdida, pois não via nenhuma casa ao redor. Foi quando finalmente viu uma placa apontando a direção da casa de Jane Austen. Seguindo na direção da placa, logo avistou algumas casas, continuou andando e, na esquina, parou. Ao olhar para a casa ao seu lado esquerdo, Lisa reconheceu a residência a ser visitada.

Olhou com atenção e viu a placa com os dizeres que ali havia morado Jane Austen. Lisa, de imediato, emocionou-se, não sabia se era por estar emotiva com os acontecimentos com Derek ou mesmo se era porque a escritora era definitivamente a sua preferida. Era uma residência simples, de tijolos vermelhos, de tamanho médio, a casa tinha uma porta central branca, duas janelas no térreo, quatro no primeiro andar e duas no que deveria ser o sótão da casa. 

Lisa imaginou que outrora existissem mais janelas na fachada da casa, pois reparou dois buracos que foram fechados com tijolos vermelhos. Andando ao redor, analisou o quintal dos fundos, com algumas árvores vistosas. Lisa então entrou no museu e passou as próximas horas absortas na vida da famosa escritora. 

Ela era grata pelo fato de Jane Austen ter tido a oportunidade de receber por, ao menos certo tempo, os louros de seus talentos literários, sendo reconhecida como uma escritora de sucesso ainda em vida, mas também sentia muito pela trajetória às vezes dura que a inglesa havia trilhado e, principalmente, por ter falecido aos 41 anos. 

Lisa havia lido que o motivo da morte de Austen era um mistério até os dias atuais. Especulava-se que ela falecera após ter tido linfoma, outras linhas de investigação apostam na doença de Addison, um raro distúrbio nas glândulas supra-renais, e até mesmo tuberculose. 

A admiração pela escritora era proveniente de várias razões, mas principalmente por Austen ser uma mulher à frente de seu tempo, que, mesmo diante dos estímulos às mulheres de apenas buscar casamentos, resolveu se aventurar na escrita e retratar de maneira sagaz uma sociedade repleta de hipocrisia e caprichos volúveis.

Depois de andar pela casa, conhecer o quarto onde dormia Jane Austen e ver objetos pessoais da escritora, Lisa seguiu por uma rua onde dava para a casa do irmão de Jane, que a ajudou a publicar os livros. A construção era imensa e a entrada bonita. O jardim da casa era tranquilo e bem cuidado. 

O espaço agora é conhecido como Chawton House Library e preserva uma coleção de escritos de mulheres de 1600 a 1830. Austen, por vezes, referiu-se à essa residência em suas cartas como "Great House". Lisa pagou a entrada e visitou o local. 

Conversando com uma moradora da área que puxou papo com ela, Lisa descobriu que a casa onde Jane morou com a irmã Cassandra e com sua mãe era, na verdade, propriedade do irmão, que cedeu o lugar em vista das dificuldades financeiras que elas enfrentavam após a morte do pai de Jane.

Ao lado da Chawton House Library, Lisa encontrou uma igreja, a Nicholas Church; segundo escritos de um mural, a igreja estava aberta há 750 anos. Lisa sentiu um cheiro forte de madeira velha no templo cristão. Com poucas fileira de bancos, a igreja era simples e de tamanho um pouco maior que uma capela, as paredes estavam amareladas.

Lisa imaginou Jane e sua irmã, amigas, entrando na igreja e fazendo suas orações ou mesmo encontrando pessoas da redondeza nas celebrações. Decidiu voltar para perto do museu e ler um pouco. Resolveu sentar-se em uma das mesas do pequeno parque quase de frente à casa de Jane. 

Sentada em cima de uma mesa de madeira, Lisa colocou os pés apoiados no banco. A área gramada tinha algumas dessas mesas, próprias para piqueniques, árvores com galhos secos e um playground para crianças. Abriu o livro Orgulho e Preconceito e começou a lê-lo. Já havia perdido a conta de quantas vezes tinha lido a obra, mas, para ela, sempre parecia haver algo novo a descobrir.

Estava lendo há mais de uma hora, quando sentiu que alguém sentava ao seu lado e, assim como ela, colocava os pés no banco. Lisa viu o sapatênis cinza. Teve uma sensação de reconhecimento, já havia visto o calçado antes. Sem ainda se dar conta de quem era o dono do sapato, olhou para cima e viu Derek. 

No começo, pensou que estava imaginando coisas. Sabia que ficar falando com personagens de livros e seus autores podia mexer com a sanidade de alguém, só não sabia que a levaria a ter alucinações. Limitou-se a ficar olhando para ele.

As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora