Capítulo 69 Decifrando o cardápio

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Derek parou abruptamente de gargalhar quando percebeu que ela realmente estava atordoada com todas aquelas informações. 

— Eu acho que estou forçando a barra. Para você ficar mais calma vou resumir o que aconteceu enquanto você dormia. 

— Pode começar — incentivou ela, cruzando os braços e o encarando. 

— Me mudei para o Brasil, montei um restaurante com Rafael e, recentemente, aluguei um apartamento há três quarteirões daqui. 

— Por quê? — perguntou Lisa, que agora não conseguia fazer as mãos pararem de tremer.

— Você sabe o motivo. 

— Porque gostou do clima? — tentou brincar ela, nem percebendo que lágrimas começaram a rolar por seu rosto.

— É, o clima daqui é maravilhoso, sem dúvidas — comentou ele, deslocando uma cadeira de madeira que estava perto de uma mesa para a frente de Lisa. Sentou-se. 

— Olhe pra mim — pediu ele para Lisa. Ela o obedeceu, mas conseguiu sustentar o olhar apenas três segundos. 

— Não desvie os olhos, Lisa — ordenou ele. 

— Preciso que esteja olhando pra mim quando eu falar o que tá entalado há meses. Quero que veja que o que direi não é encenação. Quero que sinta a minha verdade. 

— E qual é a sua verdade, Derek? — questionou ela, impaciente. 

— É que eu vivi um verdadeiro inferno enquanto você esteve em coma. E dele fui ao céu quando você acordou. E eu te peço que não me condene novamente a uma vida de privação onde eu não consiga ouvir a sua voz ou não veja nenhuma expressão de seu rosto. Me aceite, aqui com você. No seu país, na sua cidade. 

— Não brincou quando disse que era intenso, hein? 

— Me joguei de cabeça nesse projeto. Me ajudou a suportar toda espera até que você acordasse. Eu falava sobre a reforma do sebo pra você no hospital. A minha esperança era que esses relatos, essa... 

— Derek sentiu a garganta arder — Essa prova de amor... do meu amor por você, te ajudasse a simplesmente voltar pra mim. 

— Fez tudo isso por mim? — perguntou emocionada. 

— Fiz. E faria de novo e de novo... 

— Mesmo que eu não acordasse? 

— Mesmo que não acordasse. De alguma maneira, você saberia, não? Ou sentiria que era por você, que era amada. 

— Não sei nem o que falar... 

— Concluindo, a gente retomou o relacionamento que você terminou há quase dois anos. E nós teremos uma noite romântica. E estou planejando abraços bem mais longos do que 40 segundos e, de preferência, na horizontal — disse ele, secando o rosto dela com a manga de sua blusa branca, mal percebendo que manchava a peça com a maquiagem de Lisa. 

— Sei que você já definiu tudo, sem me consultar, mas faço questão de dizer que o que eu mais quero é ficar com você. E, mesmo que você não tivesse montado restaurante algum ou estivesse de viagem marcada para ir embora, eu te pediria pra ficar aqui... comigo. 

— Sério? 

— Eu não quero mais passar um só dia imaginando que você vive nesse mundo e não é ao meu lado — afirmou Lisa, projetando-se para frente e tocando os lábios de Derek de forma leve. 

Depois, beijou-o no rosto, sobre seus olhos fechados, enquanto acariciava a lateral de seu rosto com uma das mãos.

— Obrigada pelo que fez por mim. Obrigada! — disse ela sobre a boca dele.

— Não precisa agradecer. E outra, você ainda não viu nada! 

— Como assim? Esse restaurante é maravilhoso. Não sei mais o que tem pra ver. Ah! A comida? Vai cozinhar pra mim. É isso? 

— Vou sim, mas o restante da surpresa tem a ver com o cardápio — avisou Derek, levantando-se da cadeira e levando Lisa para uma mesa no meio do salão. Ele acendeu duas velas dispostas em um castiçal na mesa e entregou um cardápio de capa preta para ela. 

— Desvende esse novo mistério. Enquanto escolhe o que quer, vou dar um pulo na cozinha — disse ele, afastando-se. O cardápio foi aberto e Lisa pousou os olhos na primeira página, que trazia as opções de entradas. 

Fantine, salada de berinjela com azeitonas, torradas temperadas com azeite e ervas — leu, em voz alta, Lisa. — Anna Karenina, manteiga temperada... O quê? Voltou a ler os nomes das entradas e confirmou que eram nomes de personagens de livros. 

— Victor Hugo! Personagens de Victor Hugo? Ela olhou no topo da página e viu o nome do escritor, assim como um breve histórico sobre ele e sobre a sua casa em Paris. — Derek! — chamou ela. 

— Oi, Li — disse ele, colocando uma garrafa de vidro de água sobre a mesa. 

— Você está denominando os pratos de entrada com os nomes de personagens de Victor Hugo? — perguntou, abismada. 

— Sim. As massas são dos personagens de José Saramago. Aves e carne de Francis Scott Fitzgerald, peixes e frutos do mar de poemas de Oscar Wilde. 

— Isso só pode ser brincadeira! — disse Lisa, que virava as páginas do cardápio estilizado, que até mesmo tinha desenhos discretos das casas dos escritores, feitos apenas como traços de lápis preto. 

— Sopas e caldos de nomes de poemas de Cora Coralina e as sobremesas de personagens de Jane Austen. Obviamente, é por isso que o restaurante se chama A Casa dos 7 Escritores

— Cara, você me ama! De verdade! — falou ela, ainda sem acreditar naquele cardápio. 

— E só agora você percebeu? Não sei se dei a impressão errada, mas não sou de montar cardápios personalizados para toda garota que me acha irresistível. 

— Eu sei. Quer dizer, agora eu sei — disse Lisa alargando o sorriso. 

E qual personagem o chef irresistível me aconselha? 

Loucos e Santos, é o nome de um poema de Oscar Wilde e dá nome também ao salmão ao molho de maracujá que você gosta, acompanha legumes salteados e arroz com avelã. 

— Vou querer a entrada Anna Karenina e, de prato principal, eu quero provar pato. Você tem essa carne? 

— Lógico. É o prato Jay Gatsby

— Perfeito.

As casas dos 7 escritores (LIVRO COMPLETO!)Onde histórias criam vida. Descubra agora